Aos 35 anos, muitos jogadores vivem aquele momento de pensar sobre a carreira, sobre o que conquistou, por onde andou e se realmente está na hora de pensar em se aposentar. Ex-atleta do Cruzeiro, Rômulo pretende seguir atuando, mas quando olha para trás enxerga um passado brilhante, cercado de conquistas e da companhia de grandes craques do mundo do futebol.
Ele atuou por dez temporadas na Itália, onde jogou em clubes como Juventus, Lazio, Fiorentina e Hellas Verona. No país europeu, conquistou três títulos, dois da Copa da Itália (2015 e 2019) e um do Campeonato Italiano (2015). Jogou ao lado de craques como Pogba, Buffon, Tevez, Balotelli, entre outros. Em 2014 foi convocado para a Seleção da Itália, mas acabou sendo cortado da Copa do Mundo por causa de uma pubalgia.
Seu último clube no Brasil foi o Cruzeiro. Atuou nas temporadas de 2021 e 2022 e encerrou sua passagem pelo clube com 91 jogos disputados. Era considerado um dos líderes do elenco que conquistou o título da Série B de 2022. Hoje Rômulo segue treinando no Rio Grande do Sul, sua terra natal, enquanto define por qual clube atuará em 2023.
O jogador bateu um papo com o Hoje em Dia sobre o futebol e principalmente sobre o atual momento que passa o Cruzeiro. Depois de um ano maravilhoso em 2022, o clube passou por grandes mudanças em 2023 e que, por enquanto, tem deixado a torcida celeste preocupada.
Qual a sua visão sobre o atual momento do Cruzeiro? Você concorda com a cobrança da torcida pelos resultados ruins?
Acho que teríamos que dividir em muitas partes para falar do Cruzeiro agora. Uma delas é que viver o que aconteceu ano passado vai ser muito difícil, praticamente a gente não perdeu nenhuma partida, então tudo eram mil maravilhas, parecido com o que aconteceu com o Flamengo em 2019, que ganhou tudo. Então todos os outros anos serão comparados ao seu melhor ano, isso é um grande problema, porque a torcida fica com o ano vencedor na cabeça. O torcedor precisa entender, e até parte dos jornalistas, que o Cruzeiro está sendo reconstruído. Embora pareça, que com a chegada do Ronaldo, o modelo SAF, possa ter muito dinheiro em jogo, o Cruzeiro é um clube que tem uma dívida de quase R$1 bilhão. Ele vai precisar ser reconstruído e grandes investimentos nesse momento ainda não poderão ser feitos, ainda por causa da dívida com esses credores.
Quais são os principais problemas que você tem enxergado nesse momento conturbado que o clube está passando?
Quando você tem muitas trocas no elenco, o processo fica mais difícil, mais árduo. É o caso do Cruzeiro esse ano, que teve mais de 15 reforços e é bem difícil já que todo o trabalho precisa começar do zero. Os jogadores precisam conhecer o treinador, o treinador precisa conhecer os jogadores, já que uma coisa é analisar vídeo desses jogadores que possam ser possíveis reforços e outra coisa é trabalhar com esses jogadores no dia a dia, estilo, se é mais controverso, ou não, então são muitas situações que precisam ser analisadas e isso leva muito tempo. E aí tem torcedores que questionam que isso também aconteceu ano passado e deu tudo certo, e o que pode estar acontecendo esse ano? É uma pergunta inteligente, mas ela é um pouco controversa. O clube estava muito ferido, há 3 anos na série B, sem uma luz no fim do túnel, praticamente fechando as portas e aí chega o Ronaldo, um ícone do futebol, ídolo do clube, onde ele apareceu, com toda uma equipe de profissionais, um novo treinador, alguns jogadores que eram uma base, principalmente os mais velhos, e o Rafael Cabral que chegou que é bastante experiente, então todos esses fatores, principalmente aliado ao entusiasmo, fizeram que a gente tivesse êxito naquilo que a gente estava fazendo. Já no segundo ano, onde não tem mais um entusiasmo, mas sim uma expectativa, então acaba deixando o ambiente mais pesado, onde as cobranças são mais altas, os jogadores que chegam precisam repetir os jogadores que estiveram no ano passado, uma comparação diária. Então, embora o torcedor, que torce pelo Cruzeiro, que é um clube gigante, precisa ter muita paciência, ele precisa dar um voto de confiança para o Ronaldo e para a gestão, que o processo está no início, muito desafiador, de série A, onde o Cruzeiro enfrentará muitos obstáculos.
E você acredita que o Cruzeiro poderá retomar o caminho das vitórias e brigar por conquistas esse ano?
É muito difícil, a gente não sabe ainda, o Pezzolano gosta de testar vários jogadores, mudar formações. Se soubéssemos quem seria o titular dele, poderíamos ter uma ideia. Ele fez muitos testes no Mineiro. Pelo pouco que trabalhamos juntos, ele é um treinador que tem toda a capacidade de reverter isso em pouco tempo. Acho que tem todas as ferramentas e estruturas para trabalhar, principalmente com todo o apoio da diretoria. Com tudo que ele tem à disposição, eu acho que ele pode deslumbrar no Mineiro e despontar no Brasileirão.
O Rômulo teve convite para participar da administração do Cruzeiro, porém não aceitou. A situação estaria diferente com a sua participação nessa atual gestão?
Junto com o Paulo André, que está no futebol, Gabriel Lima que é o CEO, Pedro Martins que é o diretor, com certeza iríamos conversar bastante sobre jogadores, sobre perfil e sobre características de jogadores para atuar no Cruzeiro. Mas isso é um trabalho que se faz em conjunto e as pessoas que estão lá dentro hoje debateram bastante sobre isso. Em algumas contratações você é feliz e em outras não, mas independentemente da gestão que se tenha, infelizmente não existe uma bola de cristal para se adivinhar quais jogadores irão dar certo e quais não, então é um trabalho que tem que ser muito estudado e mesmo com muito estudo a gente não consegue ter essa assertividade 100% naquilo que se faz.
Existe alguma mágoa do Rômulo com a SAF do Cruzeiro ou com o treinador que optou pela sua não permanência?
De forma alguma, eu tenho um relacionamento muito bom com o Ronaldo, com o Gabriel Lima, isso é um achismo, creio que muito pelo Rômulo não ter permanecido no Cruzeiro é por uma escolha técnica do Paulo Pezzolano. Tinha um bom relacionamento com o treinador, mas de repente na cabeça dele ele queria outro perfil, ou de repente jogadores mais jovens, enfim, isso é supernatural no mundo do futebol, mas sou muito grato ao Cruzeiro, e a todas as pessoas que estão ali dentro.
Impossível falar da sua passagem pelo clube e não lembrar do seu último jogo, quando você marcou um gol de grande importância para a torcida. O que você pode falar sobre aquele momento diante do CSA?
Foi para coroar, ficou muito marcado. Algo que eu não imaginava nem em sonhos, e o engraçado é que o que eu recebi de mensagens nas redes sociais, no telefone, parece que a torcida do Cruzeiro, os próprios jogadores e todos os funcionários do clube, eles queriam que eu fizesse o gol mais que eu mesmo, por tudo que a gente tentou ajudar o Cruzeiro naquele momento, no grupo, no dia a dia, na motivação, se doando dentro de campo. Não foi nem o gol, mas o quanto a torcida, funcionários e jogadores que me abraçaram, me jogaram para cima, parece que todos eles queriam mais o feito do que eu. Foi para fechar, para dizer o muito obrigado, então isso me marcou demais.
Em recente entrevista, você disse que treinava para ser o melhor entre os companheiros e que se isso não acontecesse seria um indício para aposentar. Hoje, sem clube, e a espera de uma oportunidade, o Rômulo tem disputado a parte física com quem?
Eu tenho dentro de mim que enquanto eu jogar futebol eu quero ser um dos melhores e treino muito forte para isso. Agora que estou sem clube, a comparação que faço é comigo mesmo. Então eu tenho todos os meus testes, todos os meus números, e faço testes seguidos para que meus números estejam sempre no melhor da parte física. Quero jogar por mais um ou dois anos em alto nível, e assim que esses números começarem a baixar será a hora de me aposentar.
Já que você disse que ainda tem mais um tempo para jogar profissionalmente, como estão os planos do Rômulo para 2023?
Essa semana teve um diretor de um clube na Itália que me ligou e a gente está vendo a questão das datas, porque lá, quando se abre a janela do futebol, as datas precisam ser respeitadas e a última data era no dia 24 de fevereiro para se inscrever. Então estão tentando ver com a Federação Italiana se existe uma brecha para que eu possa ser inscrito. É uma situação bem interessante para mim, bem legal. Teve algumas sondagens aqui do Brasil, e por enquanto a gente prefere esperar, até porque os clubes não fazem grandes investimentos para os campeonatos estaduais, eles preferem investir para o Brasileirão, e vamos esperar um pouco para tomar essa decisão.
*Por Portal Hoje em Dia