O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) convocou uma reunião de emergência, nesta sexta-feira (16), com o ministro da Defesa, José Múcio, e o comandante do Exército, Tomás Paiva, no Palácio da Alvorada. O encontro acontece em meio ao vazamento de mensagens obtidas pela Polícia Federal no celular do ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, Mauro Cid, que implicam um coronel do Exército em uma trama para desencadear um golpe de Estado.
Lula tinha uma viagem marcada para Rio Verde, no interior de Goiás, onde participaria da inauguração da Ferrovia Norte-Sul. O presidente chegou a se deslocar até a Base Aérea de Brasília, mas o compromisso foi cancelado devido ao mau tempo.
A reportagem apurou que Lula tomou conhecimento das mensagens entre Mauro Cid e o coronel do Exército Jean Lawand Junior pela imprensa e convocou a reunião emergencial em sua residência oficial. Na tarde desta sexta-feira (16), o relatório da Polícia Federal com a troca das mensagens teve o sigilo quebrado por decisão do ministro Alexandre de Moraes.
‘Roteiro do golpe’
O celular de Mauro Cid foi apreendido em uma operação da Polícia Federal que investigava fraude nos cartões de vacina do próprio ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, seus familiares e até do ex-presidente da República.
O relatório da Polícia Federal divulgado hoje mostra um documento como uma espécie de roteiro, ou passo a passo para o desencadeamento de um golpe de Estado. Dentre as ações listadas estão a nomeação de um interventor que seria responsável por restabelecer a ordem constitucional, a suspensão de atos praticados pelo Judiciário, abertura de inquéritos para investigar autoridades afastadas do cargo, além do afastamento de ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Mensagens trocadas em 1º de dezembro revelam que o coronel Lawand Junior pressionava Mauro Cid a convencer o então presidente Jair Bolsonaro (PL) convocasse os militares a agir após a derrota nas eleições.
“Cidão, pelo amor de Deus, cara. Ele dê a ordem que o povo tá com ele, cara. Se os caras, não cumprir, o problema é deles. Acaba o Exército Brasileiro se esses cara não cumprir a ordem do Comandante Supremo”, diz Lawand. “Ele não pode recurar agora. Ele não tem nada a perder. Ele vai ser preso. O Presidente vai ser preso. E pior: na Papuda, cara”, completa em mensagem a Mauro Cid.
Cid, então responde que “o PR [Presidente da República] não pode dar uma ordem… se ele não confia no ACe”, diz em referência ao Alto Comando do Exército.
Coronel tem missão cancelada para os EUA
O coronel Jean Lawand Junior foi subchefe do Estado-Maior do Exército durante o governo de Jair Bolsonaro. A reportagem apurou que, após o envolvimento do militar em toda essa trama golpista, o Exército cancelou uma missão dele prevista para 2024 nos Estados Unidos. Lawand ficará no Brasil para prestar esclarecimentos à Justiça.
O Exército disse, ainda, que “eventuais condutas individuais irregulares já estão sendo adotadas no âmbito da Força”.
Leia a íntegra da nota do Exército:
“Sobre trocas de mensagens entre o Coronel Jean Lawand Junior e o ex-ajudante de ordens do presidente Jair Bolsonaro, Tenente-Coronel Mauro Cid, o Centro de Comunicação Social do Exército informa que:
Opiniões e comentários pessoais não representam o pensamento da cadeia de comando do Exército Brasileiro e tampouco o posicionamento oficial da Força.
Como Instituição de Estado, apartidária, o Exército prima sempre pela legalidade e pelo respeito aos preceitos constitucionais.
Os fatos recentes somente ratificam e comprovam a atitude legalista do Exército de Caxias.
Eventuais condutas individuais julgadas irregulares serão tratadas no âmbito judicial, observando o devido processo legal.
Na esfera administrativa, as medidas cabíveis já estão sendo adotadas no âmbito da Força.
Em relação à função do Cel Lawand, citado na matéria da Revista Veja como Subchefe do Estado-Maior do Exército, este Centro esclarece que o referido militar serve no Escritório de Projetos Estratégicos do Estado-Maior do Exército.
Por fim, consciente de sua missão constitucional e do compromisso histórico com a sociedade brasileira, o Exército reafirma sua responsabilidade pela fiel observância dos preceitos legais e preservação dos princípios éticos e valores morais.
Atenciosamente,
CENTRO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL DO EXÉRCITO”
*Da Redação Itatiaia