Mais votada por médicos de 17 países, a Calixcoca superou outras 11 iniciativas inovadoras no campo da saúde desenvolvidas na América Latina.
A equipe da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) conquistou a premiação de 500 mil euros — cerca de R$ 2,6 milhões — pela pesquisa da vacina Calixcoca na segunda edição do Prêmio Euro Inovação na Saúde. A cerimônia de entrega foi realizada na noite dessa quarta-feira (18/10), em São Paulo. O prêmio é organizado pela multinacional farmacêutica Eurofarma, que atua em mais de 20 países. Mais votada por médicos de 17 países, a Calixcoca superou outras 11 iniciativas inovadoras no campo da saúde desenvolvidas na América Latina, entre as quais a SpiN-Tec, vacina contra a covid-19.
A vacina Calixcoca está sendo desenvolvida desde 2015. O imunizante é considerado o primeiro tratamento para a dependência química, e desponta para ser uma alternativa mais eficiente frente às opções já aprovadas pelas agências regulatórias, como medicamentos contra os sintomas da abstinência.
O projeto já passou por etapas pré-clínicas, em que foram constatadas segurança e eficácia para tratamento da dependência de crack e cocaína e prevenção de consequências obstétricas e fetais da exposição às drogas durante a gravidez em animais.
Em entrevista recente ao Portal UFMG, Frederico Garcia exaltou os resultados alcançados até o momento nos testes da Calixcoca, mas advertiu que a vacina não pode ser encarada como uma “panaceia”. “Ela não seria indicada indiscriminadamente para todas as pessoas com transtorno por uso de cocaína. É preciso fazer uma avaliação científica para identificar com precisão como ela funcionaria e para quem, de fato, ela seria eficaz”, alertou.
Frederico Garcia e os professores Maila de Castro, da Faculdade de Medicina, Gisele Goulart, da Faculdade de Farmácia, Ângelo de Fátima, do Instituto de Ciências Exatas, e os pesquisadores Paulo Sérgio de Almeida, Raissa Pereira, Sordaini Caligiorne, Brian Sabato, Bruna Assis, Larissa do Espírito Santo e Karine Reis, vinculados ao Núcleo de Pesquisa em Vulnerabilidade e Saúde (NAVeS) integram o estudo .
Investimento
Até o momento, a Calixcoca é financiada pelos governos federal e de Minas Gerais e com verbas de emendas parlamentares, e sua continuidade depende de novos aportes de recursos. Em julho, o secretário de Saúde de Minas Gerais, Fábio Baccheretti, anunciou, durante visita da ministra Nísia Trindade à UFMG, o aporte de R$ 10 milhões no projeto.
Como funciona a vacina Calixcoca?
A vacina surgiu a partir dos estudos de uma molécula inovadora desenvolvida pelo professor Ângelo de Fátima, do Departamento de Química da UFMG. Esta partícula se mostrou capaz de “imunizar” os animais que a recebiam, que deixavam de perceber o efeito das drogas. “A vacina faz com que mesmo se ele usar a droga, ele não sinta seus efeitos. Por isso, o estímulo para continuar usando, acaba”, explica Frederico.
Além de oferecer uma alternativa no tratamento contra a dependência, a Calixcoca também tem a capacidade de proteger os bebês de mães dependentes que usam cocaína ou crack durante a gravidez. A substância impede que os bebês em formação desenvolvam transtornos mentais por causa dos enterpocentes.