Concluído o primeiro módulo de conteúdos do regime de estudos não presencial do governo de Minas Gerais, os estudantes da rede pública do Estado começarão a receber a próxima parte das atividades no próximo dia 22. O segundo caderno do Plano de Estudo Tutorado (PET) carrega as expectativas da comunidade escolar, que se decepcionou com uma série de erros no primeiro módulo. Segundo a secretária de Estado de Educação, Julia Sant’Anna, todos foram corrigidos.
Mesmo com as críticas, a chefe da pasta considera a modalidade eficiente, tendo alcançado 97,5% dos cerca de 1,7 milhão de alunos da rede estadual, seja por meio dos PETs, das videoaulas transmitidas pela Rede Minas, dos vídeos no YouTube ou do aplicativo Conexão Escola, leque criado pela Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais (SEE-MG) para a modalidade.
A média de alcance dos conteúdos em vídeo na internet é de 250 mil visualizações diárias. O número chegou a 800 mil quando somadas as visualizações no YouTube e a audiência da Rede Minas. O aplicativo Conexão Escola bateu a marca de 1 milhão de downloads, e o site Estude em Casa teve cerca de 15 milhões de acessos até a última semana (dados coletados pela SEE-MG de 18 de maio a 9 de junho.)
O PET, apontado pelo subsecretário de Articulação Educacional, Igor de Alvarenga Rojas, como o carro-chefe da modalidade de ensino, deve ser impresso e distribuído por cada escola. Joice Monique Mendes de Souza, aluna do terceiro ano do ensino médio, usa a apostila, mas acha difícil consumir o conteúdo em vídeo. A Rede Minas não chega, e o sinal de internet é precário onde ela mora, na comunidade quilombola de Nova Matrona, no distrito de Salinas, no Norte do Estado.
“Faltam conteúdo de TV para todas as emissoras e conexão de internet disponível para nós”, avalia. Joice é aluna da Escola Estadual Manuel Pedro Silva, gerida pelo diretor Luiz Carlos Rocha. Segundo ele, a situação é muito parecida para vários dos 339 alunos da unidade, dos quais 78% precisaram receber os materiais impressos.
O diretor contou que recebe de alunos a reclamação de que o aplicativo estaria consumindo dados de internet dos smartphones dos estudantes, inclusive de Joice. Antes do lançamento, a SEE-MG havia garantido que isso só ocorreria no momento do download do app. Procurada pela reportagem, a secretaria voltou a afirmar que a internet seria custeada pelo governo, mas que, “para entrar no aplicativo, é necessário ter uma rede de acesso 3G, 4G ou Wi-Fi”.
Audiência
O subsecretário Rojas considera excelente a adesão aos conteúdos online e pela TV. A Rede Minas, que no início da modalidade abrangia apenas 186 cidades, teve o sinal expandido e agora chega a 264.
Especialistas alertam sobre níveis diferentes de aprendizado
A modalidade de ensino a distância pode agravar as diferenças na aprendizagem, segundo o professor Ocimar Munhoz Alavarse, da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP). O especialista considera que o governo do Estado precisa levar isso em consideração.
“Essas iniciativas de tentar atenuar a falta das aulas se efetivam nas condições em que as pessoas vivem, que são diferentes. Quem tem melhores condições tende a se adaptar melhor, o que já acontecia antes, mas essa situação vai agravar esse quadro, e vamos precisar ter expediente para superar isso”, destaca.
Isadora Luisa de Jesus Vasconcelos Silva, 16, aluna do segundo ano do ensino médio em uma escola da rede em Belo Horizonte, diz não estar satisfeita com a nova forma das aulas e que realiza os exercícios apenas porque eles serão avaliados depois. “Eu comecei a ver pela TV, mas acabei desanimando, porque achei o conteúdo um pouco fraco. Em algumas matérias estão passando conteúdos que eu já vi, e sinto que estou perdendo meu tempo”, relata.
Isadora tem acesso à internet e usa vídeos alternativos no YouTube para estudar para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
Diagnóstico
A Secretaria de Estado de Educação informou que há expectativa de que as atividades presenciais retornem ainda neste ano e esclareceu, em nota, que o nivelamento da aprendizagem dos alunos será feito por uma avaliação diagnóstica, que “servirá para traçar o plano de revisão de conteúdo individualizado para cada estudante”.
App conecta estudantes e professores
As videoaulas são problemáticas do ponto de vista do ensino, segundo a especialista Viviane Penso Magalhães, doutoranda em educação pela Universidade Federal Fluminense. “A educação não é só uma via de emissor para receptor, tem que haver interação. Em sala de aula, é necessário ultrapassar o conteúdo, o que é feito a partir dessa interação”, defende.
Essa dificuldade é sentida por Camilly Oliveira Mendes, 17, aluna de uma escola estadual em BH. “O que falta pra mim no EaD (ensino a distância) é a presença. Se tivesse uma conferência, seria mais interessante, com respostas a perguntas ali na hora. O canal que a Rede Minas criou não dá muita conta disso”, diz.
A solução da SEE-MG para essa questão foi o lançamento, na última semana, de um chat no aplicativo, que conecta alunos e professores.