Com os impactos da pandemia da Covid-19 sobre a economia brasileira, o número de ações trabalhistas no país, que vinha caindo desde 2017, quando a reforma da legislação do setor flexibilizou regras e desestimulou litígios, voltou a disparar. Segundo dados do Termômetro Covid-19, da Justiça do Trabalho, já são mais de 60 mil processos acumulados nos últimos quatro meses, cujo valor total estimado ultrapassa R$ 3,8 bilhões. A elevação na quantidade desses documentos, entre março e julho, foi de 2.000 %].
Minas segue o mesmo ritmo e é, hoje, atrás apenas de São Paulo e Santa Catarina, o terceiro estado com maior número de ações do tipo – a maior parte motivada por efeitos do novo coronavírus nas relações trabalhistas. Já são cerca de 6.500 processos, 1.887% a mais que em março, somando R$ 422 milhões em pedidos de reparações e pagamentos não efetuados, como as verbas rescisórias. Trata-se do segundo maior valor global do país, atrás apenas do montante que corre na Justiça paulista (1,3 bilhão).
Para a advogada Mariana Silva Tavares, especializada em direito coletivo do trabalho e diretora da Caixa de Assistência dos Advogados de Minas, as ações crescem na mesma proporção em que milhares de empresas, afetadas parcial ou até totalmente pela pandemia – como no caso de segmentos do comércio e de serviços –, são obrigadas a reduzir seus custos.
“Muitos processos dizem respeito a verbas rescisórias não pagas ou pagas de forma incorreta após a dispensa de empregados”, diz ela. “Exemplo disso é o acerto incorreto da multa do FGTS nas demissões sem justa causa: além de termos empresas que já não vinham recolhendo o fundo adequadamente, antes mesmo da pandemia, há aquelas que alegam ter fechado por causa da Covid. Por força maior, portanto, garantem só metade, ou 20%, da multa, o que gera os questionamentos na Justiça”, explica.