Com passagens pela base da Seleção Brasileira, Renan Oliveira, natural de Itabira (MG), surgiu no Atlético como uma das grandes promessas do clube. Em 2008, aos 18 anos, ele conquistou premiação de revelação do Campeonato Mineiro e estampou, em novembro daquele ano, a capa da revista Placar como xodó e esperança da torcida alvinegra. Algumas lesões e a pressão interna no clube atrapalharam o desenvolvimento do meio-campista, que nunca chegou a ser o craque que muitos esperavam.
Hoje, aos 30 anos, o itabirano Renan Oliveira atua no Suduva da Lituânia. Ele relembra com carinho o início no Galo. “Comecei muito bem, entrando no decorrer dos jogos, fazendo gols no Campeonato Mineiro”. O começo promissor não se refletiu em um futuro brilhante. Renan acabou sofrendo com as contusões.
“Atribuo muito às minhas lesões por não ter tido uma sequência. Em 2008, tive um bom final de ano e todos esperavam que eu pudesse repetir as boas atuações em 2009. Entretanto, eu fiquei praticamente quatro meses parado por causa de uma lesão no joelho. Acho que a expectativa era muito alta em relação a isso. E, naquele momento, você com 18, 19 anos, lutando contra uma lesão, todos esperando uma resposta, acho que isso me atrapalhou um pouco na época”.
Propostas milionárias
Não faltaram propostas milionárias para o Atlético vender Renan Oliveira. Ainda na base, o Galo recebeu uma oferta de um time da Holanda. Depois, CSKA, da Rússia, e Dínamo de Kiev, da Ucrânia, tentaram levar o meia. O ex-presidente e hoje prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, não liberou Renan Oliveira.
“Foi na época dos juniores (que recebi uma proposta de) um time da Holanda, não me recordo o nome, mas realmente houve. Depois, em 2009, eu tive uma proposta do CSKA, e o Kalil simplesmente falou que não queria me negociar. Não me arrependo, porque sempre tive vontade de jogar no Atlético, ficar por mais anos, me consolidar no clube, isso fez com que eu ficasse”.
“Em 2011, quando o Atlético comprou o André, o Dínamo de Kiev me queria na troca, e o Atlético não me liberou. E também não fiz muita questão, porque queria ficar no Atlético, retomar meu bom futebol no Atlético, e não me arrependo de nada disso”.
Amizade e resenhas
Não faltam boas histórias de Renan Oliveira no Atlético. Ele e Patric, que jogaram juntos na base da Seleção Brasileira, fizeram forte amizade e aprontaram várias com os companheiros de time. Em uma delas, o lateral se deu mal.
“Na concentração, eu e o Patric tínhamos mania de invadir o quarto dos jogadores, jogar o lençol em cima, dar porrada neles e sair correndo. Teve uma vez que a gente foi fazer isso. A gente foi em todos os quartos. E faltava um quarto, que era o do goleiro Giovanni. E ele fazia jiu jitsu. Ele pegou o Patric de um jeito que ele ficou desacordado uns 20 segundos”, relembra Renan, aos risos.
“Era muito gostoso o ambiente que a gente tinha. Foi um prazer enorme ter sido revelado no Atlético, ter jogado no Atlético. Era um sonho que eu tinha desde criança. Você torcer para o time e poder atuar para mim foi muito válida a minha passagem pelo Atlético”
América
Renan Oliveira vestiu a camisa de outro grande clube mineiro, o América. O meia teve duas passagens pelo Coelho: em 2014 e em 2017. Nesse último ano, foi campeão brasileiro da Série B batendo o favorito Internacional.
“Clube que tenho carinho enorme. Tive duas passagens por lá. Em 2014, a primeira. E a gente não subiu por causa de um ponto. E tive também a felicidade de jogar com o Obina. A gente repetiu a parceria no América. E em 2017 foi ano maravilhoso. Grupo muito forte, tendo o Inter a gente conquistou o título e teve um gostinho mais especial ainda”.
Vida na Lituânia
Em 2019, Renan Oliveira aceitou proposta do Suduva, da Lituânia. Em pouco tempo no clube, já venceu o Campeonato Lituano e a Copa da Lituânia.
“Encarei como oportunidade de um novo mercado, já tive oportunidade de jogar na Europa, mas não se concretizou. Desta vez, achei que era o momento de abrir essa porta na Europa para mim. Quando vim para cá, realmente eu não conhecia muito do país, da cultura. Fiquei surpreso com tudo que encontrei aqui, equipe muito qualificada, jogadores que estão jogando juntos há muito tempo, estrutura muito boa, país gostoso de viver. Tem alguns meses que são muitos frios, tem muito mais lado positivo do que negativo aqui”.
A Lituânia se localiza na região Báltica. Faz fronteiras com Letônia, Polônia e Bielorrússia. O país tem cerca de 3 milhões de habitantes. Renan Oliveira destaca a qualidade de vida do país europeu.
“Pessoas muito tranquilas. Jogadores que gostam de uma boa resenha, que ficam zoando um ao outro, me receberam muito bem aqui. Em relação ao país, é muito pequeno, organizado, não vi violência. Segurança muito grande. Os torcedores vão ao estádio, lotam, os fãs são muito fãs mesmo, gostam de apoiar a equipe. Toda vez que a gente chega de uma viagem eles estão no estádio para nos recepcionar. Acho que em relação a isso são bem parecidos aos torcedores do Brasil. Me sinto muito bem aqui”.
A Lituânia não tem tradição no futebol. Segundo Renan Oliveira, há rigidez tática muito grande. Ele conta uma história curiosa envolvendo o treinador do seu time, o austríaco Heimo Pfeifenberger.
“Aqui é um futebol muito obediente taticamente. E ano passado eu estava vivendo momento muito bom aqui, estava fazendo muitos gols e teve um jogo que o treinador colocou para ir para área e acabou que fiz dois gols de cabeça em cobrança de escanteio. Todo mundo ficou feliz, a gente saiu, comemorou. No outro dia, a gente foi fazer um treino e o treinador me tirou do time. Fui perguntar o motivo, já que eu tinha feito dois gols, jogado bem. Ele falou que o posicionamento que eu tinha feito os gols não era o que foi treinado. Ele foi e me tirou do time. Eles são muito obedientes principalmente taticamente. Depois disso, eu aprendi que tenho que ficar na minha posição”.
Enquanto o Brasil vive um drama com o novo coronavírus, com mais de 75 mil mortos, a Lituânia registrou apenas 79. Hoje, já não há mais restrição no país báltico. “Nesses novos tempos que estamos vivendo, cheguei aqui e me senti até estranho, porque a gente está acostumado a usar máscara, a ficar dentro de casa, aqui o país já não tem mais nenhuma morte. Graças a Deus, está tudo normal, não precisa usar máscara. Eles se preocuparam bem no começo e estão colhendo os frutos em relação a isso”.
O objetivo do meia é seguir na Europa. “Estou muito feliz aqui. Não esperava me adaptar tão rápido. Entrar em um time encaixadinho foi muito bom para mim, fui muito bem recebido, adaptação rápida. Minha ideia é continuar por aqui ou em outro país da Europa, tive proposta para renovar e sondagens para sair. Mas minha intenção é de continuar por aqui por um período maior”.
Início em Santa Maria de Itabira
Depois de jogar futsal por mais de dez anos no Valério, em Itabira, Renan Oliveira aceitou convite dos treinadores Daniel Procópio e Washington Evangelista, o Hota, para atuar no futebol de campo em Santa Maria de Itabira, cidade a 130 quilômetro de Belo Horizonte. Em pouco tempo, ele chamou a atenção do ex-craque Paulo Isidoro e conseguiu entrar no Atlético.
“Joguei futsal no Valério com o professor Vandinho, depois veio convite de Daniel e Hota. Já tinha trabalhado com os dois no Valério. Eles me conheciam, sempre gostei dos dois, corretos e tiram o máximo do atleta, foi uma honra ter participado desse time de Santa Maria que foi onde comecei no campo”.
“Minha vida mudou quando a gente foi fazer um jogo-treino contra a equipe do Paulo Isidoro em Belo Horizonte. Eles disputavam o Mineiro de base. Fui muito bem no amistoso, a gente empatou por 3 a 3 e fiz os 3 gols. O Paulo Isidoro quis na mesma hora me levar para fazer o teste no Atlético, juntamente com o Daniel. E assim surgiu minha oportunidade no futebol”, conta.
Foi um início difícil, mas de muito aprendizado para Renan Oliveira. “Era muito bom estar com a galera em Santa Maria, time muito bom, a gente viajava naqueles busões ‘cata jegue’ (risos), eram muito gostosas as histórias, as músicas. Já dormi em quarto com mais de 10 camas, dividi marmitex”, recorda.