A eleição municipal de 2020 representará uma reconstrução política de Uberlândia, no Triângulo Mineiro, a segunda cidade mais populosa de Minas Gerais.
Atualmente, nenhum vereador está na prisão – grande parte deles foi solta dias depois da operação —, mas 14 foram cassados pela Câmara Municipal e seis renunciaram.
Além deles, o vereador Wilson Pinheiro (PP) conseguiu reverter a cassação com uma decisão liminar da Justiça. No caso de Uberlândia, a cassação resultou em inelegibilidade para os vereadores, que não poderão concorrer à reeleição.
É com a política municipal em ruínas que a população terá que escolher o próximo prefeito e os novos vereadores.
Dos sete vereadores que não foram presos, renunciaram ou tiveram o mandato cassado, dois são pré-candidatos: Adriano Zago (PDT) — ele se filou ao PDT após dois vereadores do partido terem renunciado após a operação e se desfiliado da legenda — e Thiago Fernandes (PSL). O vereador Edilson Graciolli (PCdoB), que assumiu o posto depois da onda de cassações e renúncias, é outro pré-candidato.
Dois candidatos tiveram colegas de partido atingidos pelas denúncias: o PP, do atual prefeito Odelmo Leão, que pode tentar a reeleição; e o PT, do pré-candidato Arquimedes Ciloni, ex-reitor da Universidade Federal de Uberlândia (UFU).
“Isso sem dúvidas atrapalha o desenvolvimento da cidade, precisamos retomar a seriedade com a coisa pública para Uberlândia deixar essa crise no passado e retomar o desenvolvimento”, disse o vereador Adriano Zago (PDT), que disse estar preparado para liderar o movimento de renovação na cidade.
O ex-deputado constituinte Chico Humberto (PTB), o empresário Ivan Pereira (Podemos) e o engenheiro ambiental Wallace Alves (PSOL) completam a lista.
“[As denúncias são] sim a causa que me fez voltar a disputar votos, voltar à política partidária”, afirma Chico Humberto (PTB). “Dos partidos de Uberlândia, que tiveram os vereadores cassados, que moral eles têm para apresentar uma chapa de candidatos?”, questiona. Ele aposta em solucionar o problema social intensificado pela pandemia com a construção de moradias e outras obras públicas para gerar empregos.
O pré-candidato Arquimedes Ciloni (PT) explica que o mote de sua campanha será a solidariedade com os desassistidos. Ele quer estimular a atividade econômica dos pequenos produtores e, ao mesmo tempo, atrair investimentos de grandes empresas. Ciloni defende que os corruptos sejam punidos e a corrupção banida do país, mas faz a ressalva que pelo menos um entre os vereadores que foram à Justiça conseguiu reverter a cassação.
“Ele retornou ao posto porque a Justiça mostrou que havia vícios no processo. Eu espero que a Justiça também ocorra no caso do vereador Silésio Miranda, do PT, que ainda tem a minha confiança. Eu espero que ao final desse processo ele seja inocentado”, disse.
O vereador Thiago Fernandes (PSL) afirma que o não envolvimento nas denúncias “é nossa obrigação”, mas que isso pode ser um diferencial do ponto de vista do eleitor. “Para o eleitor pode ser algo decisivo do candidato que ele está analisando votar”, afirma. Conservador e evangélico, ele tem como proposta desburocratização da máquina pública em uma linha liberal “porque a prefeitura não pode ser um ambiente para favorecer propina como é hoje”.
O pré-candidato Edilson Graciolli (PCdoB) considera que as denúncias terão impacto eleitoral porque foram o assunto político da cidade nos últimos 10 meses. “Agora, essa não pode ser uma campanha que se decida na base do você é corrupto ou não é. Agir com a coisa pública de maneira honesta é obrigação, não é programa de governo”, disse ele.
Graciolli afirma que o lema de sua campanha será uma Uberlândia “desenvolvida, democrática e socialmente justa”, com atenção prioritária para a mobilidade urbana e a saúde. Apesar de ter se beneficiado diretamente das cassações e renúncias, o que permitiu a ele assumir o mandato como vereador, ele considera que houve excessos do Ministério Público e espetacularização das operações.
“Eu acredito que Uberlândia precisa ter uma renovação geral no seu quadro político. Acho importantíssimo que o eleitor aproveite esse momento para trazer sangue novo, novas ideias e pessoas. Eu quero ver é o que nós vamos construir”, disse o pré-candidato Ivan Pereira (Podemos), que preferiu não comentar especificamente os processos contra os vereadores cassados por não ter visto todos os documentos necessários.
“Eu acredito muito que o desenvolvimento gerando renda e emprego traz justiça social. É daí que você tira os impostos para dar à população todo o amparo social que ela precisa. Temos que buscar investimento, indústria e comércio”, disse.
Wallace Alves (PSOL) não retornou os contatos da reportagem até o fechamento desta matéria. O atual prefeito de Uberlândia, Odelmo Leão (PP), também não respondeu. A assessoria dele disse que o prefeito está focado no enfrentamento à pandemia do novo coronavírus.
Aliança da esquerda só no segundo turno
Assim como deve acontecer em Belo Horizonte, São Paulo e Rio de Janeiro, Uberlândia terá um número significativo de candidaturas a prefeito de partidos de esquerda: Wallace Alves (PSOL), Edilson Graciolli (PCdoB) e Arquimedes Ciloni (PT). Apesar de ser filiado ao PDT, Adriano Zago se identifica como um candidato de centro.
À exemplo das capitais, uma eventual frente única de esquerda ou frente ampla deve se concretizar apenas no 2º turno.
“Será difícil que candidaturas já colocadas retraiam em função de outro candidato. Eu antevejo possibilidade de frente para o 2º turno. Eu me predisponho, se não passar para o 2º turno e tenho certeza que o partido terá essa oposição, a cerrar fileiras com o colega dentre esses que passar para o segundo turno, se houver”, disse o candidato petista.
Cientista político de formação e professor na UFU, Edilson Graciolli (PCdoB) afirma que a pulverização ocorrerá em todos os espectros políticos por causa do fim das coligações proporcionais, que incentiva o lançamento de candidaturas próprias para que os partidos deem visibilidade para as respectivas chapas de vereadores. Além disso, ele aponta a dificuldade de formar uma frente ampla com todos os setores democráticos — defendida pelo PC do B em vez de uma frente apenas de esquerda — diante da estratégia política adotada pelo PT.
“O PT continua tendo a pretensão de ter uma exclusividade em cabeça de chapa. O PT precisava reconhecer a necessidade de uma autocrítica, de reconhecer que errou. Não estou falando somente de eventuais esquemas de mau trato da coisa pública. Estou falando das insuficiências e de um novo projeto nacional de desenvolvimento”, explica Graciolli, que também vê a união dos partidos de esquerda apenas no 2º turno.