Há 47 anos no Exército, o general Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira chegou ao almejado posto de comandante da Força há menos de dois meses. O militar foi alçado ao posto após a demissão do então ministro da Defesa, general Fernando Azevedo, e a saída em conjunto dos três comandantes das Forças Armadas.
Segundo apurou o analista de política da CNN Caio Junqueira, Bolsonaro demitiu Azevedo por considerar que Exército, Marinha e Aeronáutica estavam “distantes” do seu governo. O movimento provocou pressão e expectativa sobre os nomes que seriam escolhidos para comandar as Forças e quão alinhados eles seriam com o governo.
O escolhido, o general Paulo Sérgio, estará nos próximos dias diante da sua primeira possível rota de conflito com o Planalto. Será dele a palavra final sobre uma possível punição ao também general Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde. Pazuello é alvo de um procedimento disciplinar no Exército por ter participado, ao lado de Bolsonaro, de um ato no Rio de Janeiro, no último dia 23.
O general teria desrespeitado um artigo do regimento interno da Força, que proíbe que os militares se manifestem publicamente sobre assuntos político-partidários. Pazuello apresentou sua defesa na última quinta-feira (27), e agora o comandante do Exército deve definir em até oito dias se Pazuello sofrerá sanções.
Paulo Sérgio vai avaliar se Pazuello será punido e em que proporção, tendo o desafio de julgar um caso em que o ex-ministro teria cometido irregularidades ao lado do presidente da República, comandante em chefe das Forças Armadas.
Jair Bolsonaro já saiu em defesa do general. Em transmissão ao vivo nas redes sociais, afirmou que o ato não pode ser encarado como político-partidário porque ele, Bolsonaro, não é filiado a nenhum partido político.
O general Paulo Sérgio ainda tem outro aspecto a se considerar. À imprensa, o vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB), militar mais graduado dentro do governo Bolsonaro, afirmou que Pazuello “sabe que errou” e disse ser “muito provável” que o ex-ministro da Saúde receba alguma punição. Mourão ainda voltou a sugerir que Pazuello passe para a reserva, hipótese que o general rejeita.
Segundo apurou a CNN, o comandante do Exército tem sinalizado ao ministro da Defesa, general Braga Netto, entender que o procedimento contra Pazuello tem importância pedagógica e precisaria resultar em alguma punição para afastar a politização dos militares. A expectativa é que Pazuello receba uma punição leve, como uma advertência.
Trajetória
O nome do general Paulo Sérgio seguiu os ritos tradicionais da sucessão no Exército, sendo um dos generais mais antigos, com experiência em postos de comando e bom trânsito. O general já foi o comandante militar do Norte, braço do Exército no Amapá, Maranhão, Pará e parte do Tocantins.
Segundo outros generais que o conhecem, Nogueira é alguém “com muita liderança”, “benquisto”, “um militar exemplar”, “com perfil operacional”, “carismático”, “de fácil trato” e que gosta de lidar com pessoas, além de ser visto melhor oficial da turma dele, de 1980. Alguém, portanto, com excelente aceitação na caserna.
Antes de ascender ao posto mais alto da corporação, ele chefiava o Departamento-Geral de Pessoal, responsável pelos recursos humanos e também pela saúde do contingente. Neste cargo, fez defesa enfática do uso de máscaras e do isolamento social para combater a Covid-19.
Pouco antes da saída do general Edson Pujol do comando, Nogueira deu uma entrevista ao “Correio Braziliense” em que atribuiu o sucesso do combate à pandemia dentre os soldados às medidas recomendadas pelas autoridades em saúde: distanciamento social, uso de máscaras, higienização das mãos, testagem em massa e isolamento dos casos positivos.
Ele contou que logo após a chegada do vírus ao país, os integrantes dos grupos de risco passaram a trabalhar remotamente e os quartéis suspenderam cerimônias presenciais. A mortalidade por Covid-19 no Exército foi de 0,13%, enquanto, na população geral, de 2,5%.
Ao jornal, Nogueira disse que se a conscientização sobre a doença no Brasil melhorasse, “provavelmente o número de contaminados seria bem menor”. Durante a conversa, também afirmou que a medicação usada no tratamento da doença deve ser decidida entre médico e paciente.
Fonte: CNN BRASIL