O Sempre Um Papo recebe Patrícia Melo, uma das mais premiadas e consagradas autoras da literatura nacional contemporânea, para o debate e lançamento de seu novo romance Menos que um (Ed. LeYa Brasil). Na obra, a autora escancara um Brasil invisível, assombrado pela sua história recorrente, transecular, de descaso, desigualdade e violência social. A conversa será medida por Afonso Borges e acontece hoje, 17 de maio, terça-feira, às 19h30, de forma online, com transmissão pelo YouTube do projeto.
Ao longo dos séculos, a literatura, sempre levou a humanidade a conhecer o que há de melhor e de pior em si mesma. Ler é o espelho em que nos reconhecemos, em que vislumbramos o monstro e também o anjo.EMenos que um realiza plenamente essa tarefa de nos deixar boquiabertos diante de nós mesmos.
Neste romance cuja potência se agita como um tanque de um líquido inflamável submetido a grande pressão, Patrícia Melo encontrou o cerne do que somos, como indivíduos e como sociedade. E, com seu talento inquieto, sempre em transformação, tentou responder à pergunta mais humana de todas: o que existe quando o que há é menos que um?
Resultado de quase dois anos de trabalho disciplinado e contínuo, Menos que um reconstrói numa narrativa caleidoscópica, as inúmeras batalhas cotidianas, de sobrevivência, de uma vasta gama de personagens – camelôs, flanelinhas, desempregados, bêbados, ladrões, cracudos e catadores, gente que tem como destino inevitável o fato de, por força das circunstâncias, ter que viver nas ruas.
E a resposta que emerge de suas palavras é uma só: por debaixo da sujeira, do vício, da fome, do frio, da invisibilidade, da violência, do medo e da solidão, esses homens, mulheres e crianças são pessoas que ainda sonham, ou já sonharam um dia.
“A gente é gente!”, esbraveja uma de suas personagens incômodas e malcheirosas, um homem jovem, negro, quase analfabeto, que cresceu num lixão e trabalha como catador. Mas o que ele não sabe é que invertemos o verso da canção: gente não é pra brilhar e, sim, pra morrer de fome.
Menos que um apresenta sua miríade de personagens construídas à perfeição: Douglas acredita na bondade sem religião, Seno despreza toda essa gente que procria como ratos, Jéssica sonha em parir um bebê-futuro, Glenda quer ser feliz como Glenda, e não como Weverton, Dido divide sua comida com um cão, Regiana interpreta a Bíblia, Zélia perdoa, e várias outras mais. Em meio a tantas caras, magras, sujas, carcomidas, desfiguradas, lá estamos todos nós.
Menos que um promete uma revolta permanente, quando nos desperta do sono e da indiferença com seu texto, ao mesmo tempo, poético, preciso e provocador. Patrícia Melo desenha em cores fortes o nosso tempo e a nossa cara: um Brasil, em pleno século XXI, que vê o futuro chegar, mas é incapaz de ir de recebê-lo, porque puxa, a reboque de si, sua história recorrente, transecular, de descaso, desigualdade e violência social.