O Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) informou, na tarde desta terça-feira (9) que o delegado Rafael de Souza Horácio vai continuar preso. Nesta tarde, aconteceu a audiência de custódia — na qual o juiz pode deixar com que o suspeito aguarde o fim da investigação em liberdade. Rafael atirou e matou um motorista de um reboque no dia 26 de julho, após uma briga de trânsito, no Centro de Belo Horizonte.
O pedido de prisão cautelar foi feito, em 29 de julho, pela Corregedoria-Geral da Polícia Civil de Minas Gerais, e deferido pela Justiça. Anderson Cândido de Melo, de 48 anos, foi morto por Rafael de Souza Horácio durante uma briga de trânsito. Detalhes da discussão e do disparo ainda são desconhecidos, o que há é a versão que o delegado contou à Polícia Civil no dia do crime.
Relembre o caso
O desentendimento ocorreu no Viaduto Oeste, no Complexo da Lagoinha. Informações levantadas por O TEMPO com fontes no local dos disparos indicam que o delegado estava em uma viatura descaracterizada quando foi fechado pelo caminhão, o que deu início a uma discussão.
Após algum tempo, o policial teria fechado o reboque da vítima e efetuado o disparo, que atingiu o pescoço do homem. Ao perceber que tinha acertado o motorista, o próprio autor do disparo acionou a Polícia Civil e a perícia técnica compareceu ao local, fazendo os levantamentos iniciais na cena do crime.
Quando o veículo da vítima seria removido do local, familiares e amigos do homem baleado protestaram, momento em que um delegado explicou em voz alta que a primeira perícia já tinha sido feita e que uma nova perícia aconteceria em um segundo lugar, não especificado pelo policial.
Foi então que a filha dele pediu para entrar no caminhão apenas para pegar o telefone do homem, que estava em um compartimento em baixo do banco do passageiro, e uma blusa de frio. Nenhuma arma foi encontrada no caminhão, conforme constatado pela reportagem que acompanhou a situação.
Quem é a vítima
Vizinhos de Anderson, ouvidos pela reportagem, contam que o reboqueiro era um trabalhador que se dedicava à família e à igreja. “Nunca teve nada errado com ele, ele era um homem evangélico que só vivia de luta”, contou uma amiga, que preferiu o anonimato.
Pai de quatro filhos (um menino e três meninas) e amoroso com todos eles, Melo era querido na vizinhança e também na comunidade da igreja. “Foi um choque (a morte) para todos, a pastora e o pastor estão na casa dele. Todos os filhos moravam com ele, a mulher dele está inconsolável”, revela a vizinha. Um amigo dele, que também pediu anonimato, desabafou que nunca havia visto tamanha “covardia”.
“Saracura (como era conhecido Anderson) era um ótimo mecânico, um excelente profissional no ramo de reboque e um amigo sem igual. Ninguém nunca viu Saracura numa mesa de jogo, ou numa mesa de bar. Era serviço e igreja”, detalhou.
Luta por uma vida melhor
O amigo, que também trabalha com reboque, contou que Saracura trabalhava em uma empresa do ramo. Há sete anos, porém, o chefe dele o ajudou a comprar o primeiro caminhão. Depois, ele “cresceu” sozinho.
”Ele trocou o caminhãozinho no Ford grandão. Duvido que ele esbarraria o pára-choque do caminhão em qualquer carro. Você pode conversar com 10, 50 colegas reboqueiros dele, todos te diriam a mesma coisa. Ele tinha mais ciúmes do reboque do que tudo. Era um cara de ouro”, lamenta o amigo.
Para finalizar, o parceiro de profissão e da vida faz questão de lembrar: “Precisei dele (Anderson Cândido de Melo) inúmeras vezes, e ele nunca me faltou. Me socorreu aqui em casa várias vezes, e à noite”, finalizou. Antes de desligar o telefone, o amigo ainda completou que Melo também cuidava da mãe, que já estava debilitada e vivia em outra cidade. Além disso, todos os filhos estudam.
Fonte: O Tempo