Os Estados Unidos se somaram aos países que testam sistematicamente viajantes provenientes da China, mas uma agência da União Europeia (UE) considerou a medida “injustificada”, apesar da onda de covid-19 que atinge o país asiático. O novo surto eclodiu depois que a China encerrou, em 7 de dezembro, sem aviso prévio, sua política draconiana de “covid zero”, em vigor desde a primeira onda da doença, identificada pela primeira vez há três anos, em Wuhan.
Essas medidas permitiram proteger a população do novo coronavírus, com testes de detecção generalizados e o monitoramento de deslocamentos, assim como com os confinamentos e quarentenas impostos rigorosamente quando infecções eram descobertas. Essa política, no entanto, atingiu a economia e esgotou a população, que protagonizou em novembro protestos inéditos em três décadas contra o governo comunista. A mudança de posição oficial foi abrupta e desencadeou as infecções.
A Comissão Nacional de Saúde da China parou de publicar o número diário de casos, mas autoridades de várias cidades estimam que centenas de milhares de pessoas contraíram a doença nas últimas semanas, enquanto hospitais e crematórios em todo o país estão sobrecarregados. Autoridades também modificaram os critérios para definir as mortes por coronavírus, incluindo na lista apenas os falecimentos causados por insuficiência respiratória.
Temores
A nova onda levantou temores de mais uma crise global de saúde, dado o interesse de muitos chineses em viajar para o exterior após o levantamento das restrições. Japão, Índia, Malásia, Taiwan, Itália e Estados Unidos anunciaram medidas restritivas, com a obrigatoriedade de apresentação de testes de covid recentes ou de realizá-los nos aeroportos.
“O rápido aumento recente da transmissão de covid-19 na China aumenta a possibilidade de surgimento de novas variantes”, apontou uma fonte do Departamento de Saúde americano. O Centro Europeu de Prevenção e Controle das Doenças (ECDC), porém, considerou nesta quinta-feira (29) “injustificada” a imposição dessas medidas.
“Para poder fazer uma avaliação do perigo da situação da covid-19 na China, a Organização Mundial da Saúde (OMS) precisa de informações mais detalhadas”, admitiu o diretor da agência da ONU, Tedros Adhanom Ghebreyesus. “Diante da falta de informação proveniente da China, é compreensível que países em todo o mundo adotem medidas que acreditam possam servir para proteger suas populações”, acrescentou.
Em Bruxelas, uma reunião informal convocada pela Comissão Europeia – destinada a “uma abordagem coordenada” dos Estados-membros – não levou a nenhuma decisão. Pequim, por sua vez, criticou “o exagero, a difamação e a manipulação política” da imprensa ocidental.
Chineses no aeroporto internacional de Pequim se mostraram compreensivos, em geral, com as medidas, mas um homem que revelou apenas o sobrenome, Hu, 22 anos, afirmou que as regras são desnecessárias e “um pouco discriminatórias”.
Hospitais lotados
Os hospitais chineses lutam para enfrentar o aumento dos contágios, que afetam, em particular, os idosos e pessoas vulneráveis. Jornalistas da AFP observaram nesta quinta-feira, em um hospital de Xangai, o momento em que pacientes com máscara eram retirados de ambulâncias.
Em Tianjin, 140 km a sudoeste de Pequim, a AFP visitou duas emergências de hospitais lotadas de pacientes com o vírus. Um médico afirmou que os profissionais de saúde têm sido convocados a trabalhar mesmo quando estão infectados.(AFP)