O cantor João Bosco publicou na tarde desta quinta-feira, em sua página no Facebook, uma nota de repúdio contra a Operação da Polícia Federal (PF) na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) em uma investigação sobre suposto desvio de dinheiro destinado ao projeto de construção do Memorial da Anistia Política do Brasil (MAP). Na ação, houve a condução coercitiva de professores e integrantes da cúpula da maior instituição de ensino no estado. O artista se diz indignado pelo fato de a ação ter levado o nome de “Esperança equilibrista”, título de uma música dele com Aldir Blanc.
No documento postado na rede social, o cantor se mostrou, primeiramente, insatisfeito com a forma como a ação da PF foi conduzida. “Recebi com indignação a notícia de que a Polícia Federal conduziu coercitivamente o reitor da Universidade Federal de Minas Gerais, Jaime Ramirez, entre outros professores dessa universidade. A ação faz parte da investigação da construção do Memorial da Anistia. Como vem se tornando regra no Brasil, além da coerção desnecessária (ao que consta, não houve pedido prévio, cuja desobediência justificasse a medida), consta ainda que os acusados e seus advogados foram impedidos de ter acesso ao próprio processo, e alguns deles nem sequer sabiam se eram levados como testemunha ou suspeitos. O conjunto dessas medidas fere os princípios elementares do devido processo legal. É uma violência à cidadania”, afirmou.
Em seguida, João Bosco criticou a PF por usar uma música composta por ele e que ficou marcada na ditadura militar. “Isso seria motivo suficiente para minha indignação. Mas a operação da PF me toca de modo mais direto, pois foi batizada de “Esperança equilibrista”, em alusão à canção que Aldir Blanc e eu fizemos em honra a todos os que lutaram contra a ditadura brasileira. Essa canção foi e permanece sendo, na memória coletiva do país, um hino à liberdade e à luta pela retomada do processo democrático. Não autorizo, politicamente, o uso dessa canção por quem trai seu desejo fundamental”, completou.
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Por fim, defendeu a universidade pública. “Fica aqui portanto também a minha defesa veemente da universidade pública, espaço fundamental para a promoção de igualdades na sociedade brasileira. É essa a esperança equilibrista que tem que continuar”, finalizou.
A operação
A operação foi deflagrada com base em documentos da Controladoria-Geral da União (CGU) e do Tribunal de Contas da União. Segundo delegados da PF, ao menos R$ 4 milhões teriam sido desviados do projeto de construção do Memorial da Anistia Política do Brasil (MAP), em processo que pode envolver peculato e formação de quadrilha. A força-tarefa apura denúncias de não execução e de desvio de recursos públicos que deveriam ter sido destinados à construção do memorial, um projeto financiado pelo Ministério da Justiça e executado pela UFMG.
Entre os conduzidos nessa quarta-feira estão o reitor da UFMG, Jaime Arturo Ramírez; a vice-reitora Sandra Goulart, eleita para o cargo máximo da instituição a partir de 2018; o presidente da Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa (Fundep), Alfredo Gontijo de Oliveira; a ex-vice-reitora Heloísa Starling (2006 a 2010), coordenadora do Projeto República da UFMG; a ex-vice reitora Rocksane Norton (2010-2014); e a socióloga Silvana Cozer, uma das responsáveis pelo Memorial da Anistia.
A ação gerou forte reação na comunidade acadêmica e entre entidades políticas e movimentos sociais, além de protestos diante da sede da PF, no Bairro Gutierrez, Região Oeste de Belo Horizonte, na própria universidade e na Assembleia Legislativa de Minas. (informações do jornal Estado de Minas)