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Intensificar as ações de prevenção da febre amarela em Minas Gerais é a ordem da vez, principalmente na Região Metropolitana de Belo Horizonte. O reforço é feito por causa da confirmação de dois casos da doença em Brumadinho. Os pacientes eram vizinhos e moravam na zona rural do município. Um deles morreu e o outro segue internado em um hospital do Espírito Santo. Equipes de saúde do estado ajudam profissionais do município na busca ativa, de casa em casa, de pessoas que ainda não se vacinaram. Os trabalhos serão estendidos até a noite.
O risco de contaminação afetou o funcionamento de centros turísticos da região: o Parque Estadual da Serra do Rola-Moça foi fechado para visitação. O Instituto Inhotim adotou medidas de segurança para os visitantes, como distribuição de repelentes.
Os vizinhos que contraíram a doença começaram a sentir os sintomas em 25 de dezembro. Um homem de 51 anos não resistiu e morreu. Já o paciente de 37 foi levado para um hospital do Espírito Santo pela família. Ele deixou a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) anteontem e seu quadro evolui bem, segundo o subsecretário de Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Estado da Saúde (SES), Rodrigo Said. Antes mesmo da confirmação da doença pela Fundação Ezequiel Dias (Funed), a SES já se mobilizava para bloquear a febre amarela.
Ações tiveram início nos locais onde foram detectadas mortes de macacos, as epizootias. “O governo já está com equipes nas regiões onde elas estão ocorrendo mais, principalmente em Brumadinho. Estão fazendo a busca ativa de casa em casa para a vacinação. Vamos começar a fazer a vacinação noturna, pois, muitas vezes, os moradores saem para trabalhar e não são encontrados nos domicílios”, explicou o secretário de Estado de Saúde, Sávio Souza Cruz. Os trabalhos devem ser estendidos até as 21h.
O vírus da febre amarela continua circulando em Minas Gerais. Prova disso são as mortes de macacos, que antecedem o contágio em humanos. Segundo a SES, 21 municípios mineiros tiveram confirmada a doença na morte de primatas. Além deles, são investigados os óbitos dos animais em 26 cidades mineiras. Por causa disso, é recomendada a intensificação da vacinação das pessoas que ainda não se imunizaram.
Em Minas, a cobertura vacinal saiu de 47% no ano passado para 81%. Porém, a meta é 95%. O estado tem um estoque, de acordo com o secretário, de 1,4 milhão de doses, e já fez encomenda de mais 1 milhão de doses ao Ministério da Saúde. Além disso, foi solicitada ajuda financeira.
Moradores de algumas regiões de Minas Gerais devem ter atenção devido à incidência de mortes de macacos. “Chamam a atenção algumas localidades, em especial na Região Central, Triângulo Mineiro, partindo para o Sul de Minas. A região metropolitana é uma área importante neste momento, bem como as áreas de Divinópolis (Centro-Oeste), Itabira e Sete Lagoas (Região Central) e Juiz de Fora (Zona da Mata), que também identificaram três macacos mortos”, afirma Rodrigo Said.
ALERTA
Em Brumadinho, a cobertura vacinal acumulada (2007 a 2017) contra a doença está em torno de 84,12%, com estimativa de 5.570 pessoas não vacinadas, segundo a SES. Os dois casos de contaminação acenderam o alerta entre os moradores do município. Na comunidade de Palhano, onde viviam os homens infectados, o posto de saúde estendeu o horário de funcionamento até as 20h desde quarta-feira. Os últimos acontecimentos causaram uma corrida pela imunização. Ontem, foi grande o movimento de pessoas à procura de informações e querendo a dose da vacina.
“O grande desafio é saber quem precisa ou não, pois, se a pessoa não se lembra ou diz que não tomou, não podemos questionar e, então, temos que aplicar a dose”, afirma a técnica em enfermagem Patrícia da Silva Ferreira Medeiros. As equipes de zoonoses também têm ficado até mais tarde na rua e encontrado muita larva do Aedes aegypti nas casas visitadas, segundo funcionários da unidade.
O aposentado Francisco Gomes de Souza, de 74, ficou assustado e foi ao local saber se podia tomar a vacina. Saiu com a orientação de que precisa de um laudo médico autorizando a aplicação da dose. “É o assunto do momento na comunidade. Pedi ao meu filho para me trazer para eu saber ao certo o que fazer”, disse.
O empresário Eduardo Alcântara, de 36, tomou a dose. Morador de um condomínio no entorno, foi ao posto, mas não sabia se já havia tomado alguma vez ou não. Já estava indo embora quando resolveu ligar para a mãe, que lhe garantiu nunca ter se vacinado. “Eu estava na dúvida e preferi me garantir perguntando para ela. Não dá para ficar sem a proteção. Tem muito mosquito por aqui nesta época”, disse.
Apreensão na fila da vacina
No posto de saúde de Palhano, a primeira medida é checar o cartão de vacina. “Muita gente mente, diz que perdeu o cartão ou que nunca tomou. Ontem mesmo, um jovem de 20 anos esteve aqui e, pela idade dele, eu tinha certeza de que estava imunizado, mas o rapaz disse que não. Depois, conferi nos arquivos e confirmei. Ele tomou a terceira dose. E tomando a mais, a pessoa tem risco de complicações”, afirmou a técnica em enfermagem Patrícia da Silva Ferreira Medeiros.
O auxiliar de serviços gerais Teotônio Pedro Gomes, de 28, foi com a filha Marcela, de 3, conferir se a mulher precisava se vacinar. “O pessoal está meio apreensivo, mas muita gente já está imunizado, porque a maioria tomou no ano passado, quando houve o surto”, relatou. A diarista Eliene Aparecida Xavier, de 49, saiu tranquila quando foi informada de que, desde março do ano passado, o Ministério da Saúde normatizou que apenas uma dose durante a vida é o suficiente para se proteger contra a doença. “Tomei a vacina várias vezes, porque morava em Anápolis (GO) e toda vez que vinha para cá, parava na divisa e tinha que tomar a vacina.”
A psicóloga Cassandra França, de 60, não conseguiu tomar, porque não tinha laudo médico. Acima dessa idade, a vacina só é aplicada mediante orientação médica e laudo comprovando a saúde do paciente, pelo risco de complicações. Ela alegou que fez aniversário há pouco, mas, sem o documento em mãos, saiu sem a proteção. “Tomei a vacina há mais de oito anos e meu marido, que é médico, recomendou que tomasse de novo”, disse. Antes da normativa do Ministério da Saúde, eram indicados reforços da vacina a cada 10 anos.
A engenheira Marlene de Moraes, de 58, conta que se vacinou há mais de 10 anos, mas informou no posto nunca ter sido imunizada. “Prefiro reforçar para garantir, pois em casa está cheio de pernilongos”, afirmou. Já o pedreiro Lucas Marques, de 26, se vacinou pela primeira vez. “Nunca fui de vir ao posto de saúde. Mas, como apareceu gente doente, fiquei assustado.”