Os líderes da seita “Comunidade Evangélica Jesus, a Verdade que Marca” voltaram a ser alvos da Polícia Federal (PF) por supostamente escravizar fiéis em Minas Gerais, São Paulo e Bahia. Além desse crime, a corporação investiga o grupo por tráfico de pessoas, estelionato, organização criminosa, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro. Em 2013 e 2015, a seita já esteve na mira dos agentes federais pelos mesmos delitos.
Desta vez, 220 policiais federais e 55 auditores fiscais do Ministério do Trabalho cumprem 22 mandados de prisão preventiva, 17 de interdição de estabelecimento comercial e outros 42 de busca e apreensão. Todas as ordens judiciais foram expedidas pela Justiça Federal em Belo Horizonte. A operação foi deflagrada em Varginha, no Sul de Minas.
De acordo com o Ministério do Trabalho, pessoas que estavam em condição análoga à de escravo foram resgatados em 15 municípios de Minas Gerais, São Paulo e Bahia. Em uma avaliação preliminar da Polícia Federal, haveria cerca de 900 pessoas trabalhando de forma irregular. Como a ação ainda está em andamento, o número deve sofrer alteração.
Aliciamento
De acordo com a investigação da PF, os dirigentes da seita teriam aliciados fiéis em igrejas localizadas na capital paulista. No templo, os crentes foram convencidos a doarem e passarem todos os bens para membros da organização. “Para tanto, teriam se utilizado de ardis e doutrina psicológica, sob o argumento de convivência em comunidades, onde todos os bens móveis e imóveis seriam compartilhados”, explicou a corporação.
Depois, segundo apuração da polícia, os fiéis eram levados para as cidades de Contagem, Betim, Andrelândia, Minduri, Madre de Deus, São Vicente de Minas, Pouso Alegre e Poços de Caldas, em Minas; para Ibotirama, Luiz Eduardo Magalhães, Wanderley e Barra, na Bahia; e para a capital de São Paulo. Nesses municípios, os crentes seriam submetidos a extensas jornadas de trabalho – sem remuneração – em lavouras, oficinas mecânicas, postos de gasolina, entre outros estabelecimentos.
“Por meio da apropriação do patrimônio dos fiéis e do desempenho de atividades comerciais sem o pagamento da mão-de-obra, a seita teria acumulado vultoso patrimônio, contando com casas, fazendas e veículos de luxo. Atualmente, estaria expandindo seus empreendimentos para o estado do Tocantins, baseados na exploração ilegal”, garantiu a PF.
Se condenados por todos os crimes, os líderes poderão cumprir até 42 anos de prisão.
Canaã
A operação deflagrada nesta terça-feira (6) foi denominada “Canaã – A Colheita Final”. Ela é um desdobramento das operações “Canaã” (2013) e “De volta para Canaã” (2015). Na ocasião, cinco líderes foram presos, mas liberados dias depois. Na época, o advogado Leonardo Carvalho de Campos, representante dos indiciados, afirmou que a PF não possui provas concretas. “Estamos muito tranquilos porque não existem provas de trabalho escravo e lavagem de dinheiro”, garantiu.
A reportagem do jornal ligou para o defensor da seita, porém, o advogado relatou está de licença médica e, por isso, não não está acompanhando a operação deflagrada nesta terça.
Segundo o Ministério do Trabalho, os auditores-fiscais seguem ouvindo todos os trabalhadores encontrados durante a operação para saber detalhes do que ocorria com cada um deles nas áreas onde foram encontradas as irregularidades. Nos casos onde for confirmado o trabalho escravo, serão feitos os cálculos dos direitos trabalhistas, que deverão ser pagos pelas empresas criadas pela seita retroativamente desde a data em que os trabalhadores começaram a prestar os serviços. Os trabalhadores também serão encaminhados ao Programa de Seguro-Desemprego para Resgatados.