Com incertezas sobre as novas regras de aposentadoria e o temor de não haver recursos suficientes, tem muito mais gente procurando um jeito de completar a renda no futuro. Em 2017, mais de 470 mil novos planos de previdência complementar foram feitos no Brasil. Segundo o último balanço da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (FenaPrevi), de janeiro até outubro, o volume de investimentos cresceu 8,8% em relação a 2016.
“Programar uma renda complementar para quando se aposentar não é um hábito comum para os brasileiros, mas a discussão da reforma da Previdência tem chamado mais a atenção para a necessidade de construir uma reserva para o futuro”, afirma o professor de economia da faculdade IBS – Fundação Getúlio Vargas (FGV) Flávio Correia.
O debate sobre o futuro da Previdência não é o único fator a incentivar o crescimento das adesões. “Em um momento de maior dificuldade na economia, é natural que se reduza o consumo e aumente a poupança”, ressalta o superintendente comercial da Brasilprev, Guilherme Rossi.
A pedido da reportagem, Rossi fez algumas simulações de quanto um brasileiro que quer se aposentar aos 65 anos teria que guardar mensalmente para ter uma renda complementar de R$ 5.000. Se começasse aos 20 anos, o aporte seria de R$ 340 a R$ 470. Começando aos 40, o montante mensal seria de no mínimo R$ 1.300, considerando uma rentabilidade anual de 6% ao ano. “A grande questão é a pessoa começar o quanto antes, porque vai facilitar bastante”, afirma.
Independentemente de quando começar, o professor da Escola Nacional de Seguros Lauro Faria ressalta a importância de manter o foco do investimento, que é uma reserva para completar a renda no futuro. “Existem muitas vantagens, com destaque para a baixa tributação. Mas, se a pessoa resgatar antes da hora, vai perder o benefício. O ideal é deixar no mínimo dez anos”, afirma.
Quando se faz um plano, a pessoa escolhe o modelo de tributação. Pela tabela progressiva, a alíquota será única, de 15%. Pela regressiva, varia de 35% a 10%, sendo menor por quanto mais tempo deixar o recurso. “É importante saber distinguir os objetivos e quanto vai destinar para reserva de longo prazo e para reservas emergenciais, pois são investimentos distintos. A pessoa também precisa entender que é uma renda para complementar a aposentadoria”, destaca.
A administradora Glasielle Fagundes Cunha, 38, começou sua previdência há 11 anos. Se quisesse resgatar, já teria a menor tributação. “Mas o objetivo é a aposentadoria e vou deixar tudo lá, até os 65 anos. Para outras situações, eu tenho outros tipos de aplicações”, comenta. Ela guarda cerca de R$ 900 por mês. Se tivesse começado agora, teria que guardar cerca de 45% a mais.
Reforma. O
Mercado nacional. De janeiro a outubro de 2017, os investimentos em planos de previdência somaram R$ 7 bilhões em Minas Gerais, uma fatia de 8,1% do total no país.
Governo eleva fatia do multimercado
Os planos de previdência privada têm rentabilidade média de 6% ao ano, além de taxas de administração, que custeiam a gestão dos fundos. Estes, por sua vez, são atrelados à taxa básica de juros, que caiu pela metade no ano passado, de 13% para 6,75% ao ano. Segundo o professor da Escola Nacional de Seguros Lauro Faria os impactos só não foram maiores porque também afetou os demais fundos de renda fixa. “O governo percebeu isso e flexibilizou os planos, permitindo ampliar a fatia dos fundos de multimercados”, afirma Faria.
“No passado, a fatia era menor, o que dificultava ganhos mais expressivos. Agora, a participação dos multimercados, com mais risco, tende a aumentar”, destaca o superintendente comercial da Brasilprev, Guilherme Rossi.