Chegar à velhice com autonomia, saúde e qualidade de vida é o que muita gente procura. De acordo com estatísticas oficiais, entre a maioria dos brasileiros, o desejo é alcançar os 85 anos de idade, mais que a expectativa média de 75,5 anos. O problema é que a maior parcela das pessoas não incorpora um estilo de rotina que ajude nessa finalidade, como atividades físicas regulares, hábitos alimentares equilibrados e cuidados preventivos. Ao mesmo tempo, uma parte grande da população está ciente de que mudar o dia a dia considerando esses conceitos poderia auxiliar a ter uma maturidade sadia. Essas são algumas das constatações da pesquisa Como os brasileiros encaram o envelhecimento, levantamento realizado pelo Instituto QualiBest com representantes de todas as regiões do país.
Os entrevistados foram distribuídos de maneira uniforme, em quatro faixas etárias (18 a 25 anos, 26 a 35 anos, 36 a 50 anos, 51 anos ou mais), e em percentuais variados seguindo as divisões nacionais (26% no Nordeste, 26% no Sudeste, 25% no Sul e 23% no Centro-Oeste e Norte). Participaram 703 adultos do estudo, que é incluído na campanha Envelhecer sem vergonha – Qualidade de vida não tem idade, iniciativa encabeçada pela empresa farmacêutica Pfizer desde 2015, com o intuito de convidar a sociedade para uma discussão sincera e descontraída acerca da temática.
Na terceira edição, alguns assuntos foram somados ao trabalho, como o impacto das mídias sociais para as diferentes gerações. A ideia, desta vez, é apresentar como a população de idades específicas experimentam uma situação marcante pela primeira vez – é o mote da websérie Viver não tem idade, composta por três episódios quem já podem ser visualizados pela página do projeto no Facebook (www.facebook.com/envelhecersemvergonha). Um dos vídeos retrata a emoção de uma dupla ao conhecer o mar, o outro acompanha o salto de paraquedas de uma jovem e um senhor, e o terceiro capta as reações diante do nascimento de um bebê.
EXPERIÊNCIAS
Ao fincar o pé na certeza de que não há limites cronológicos para experienciar novas situações e sensações, a campanha estimula a reflexão sobre alguns paradigmas relacionados à maturidade, como a noção errônea de que o idoso é, necessariamente, mais resistente a novidades que o jovem. “Estamos tratando sobre a alegria de viver, sobre como se preparar para o futuro, considerando a situação financeira, os momentos de lazer E os bons relacionamentos. Contemplando questões de saúde e comportamento, a intenção é reconhecer que não tem época certa para novas experiências. O brasileiro está vivendo cada vez mais e a idade não pode ser algo que bloqueie as pessoas. É preciso quebrar estereótipos”, indica a gerente sênior de comunicação da Pfizer, Cristiane Santos.
Analista de sistemas aposentado, Félix Nabor Martins menciona que sempre foi corajoso e sonhador. “Quem não sonha, não realiza, não produz a sua própria felicidade. Viver e curtir a vida é uma questão de atitude. O importante é fazer diferente”, enfatiza, ele que continua trabalhando, agora com impressão de fotos grandes. Aos 75 anos, Félix participou de uma experiência que atesta que, para aproveitar coisas novas, não tem idade. Há pouco tempo, saltou de paraquedas pela primeira vez. “Quando recebi a proposta, não titubeei. Foi melhor do que eu esperava, um acontecimento para mim. Não senti medo, mas sim um enorme prazer. Percebi que a aventura é algo que está no meu sangue. Não imaginava que ia ser tanta emoção e que eu ia ficar tão satisfeito e alegre. Na hora não conseguia nem falar”, descreve.
Processo acelerado e irreversível
Estimativas da OMS apontam que, em 2025, o país será o 6º no mundo em número de idosos e que, até 2050, serão 66,5 milhões deles, abrangendo 29,3% da população
O Brasil passa por um acelerado processo de envelhecimento. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sinalizam que, entre 1960 e 2000, a proporção de pessoas com 60 anos ou mais passou de 4,7% para 8,5%. Em 2010, o censo demográfico já demonstrava que os indivíduos nessa faixa representavam 10,8% da população, o mesmo que 20,5 milhões de brasileiros. Já estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS) evidenciam que, em 2025, o país será o 6º no mundo em número de idosos, que devem ser 32 milhões. Desta maneira, em 2030, é esperada uma inversão total no perfil populacional, com o número de representantes da terceira idade ultrapassando a totalidade dos menores de 14 anos. Até 2050, o conjunto dos mais velhos deve chegar a 66,5 milhões, abrangendo 29,3% da população, ainda conforme o IBGE.
“As discussões se tornam cada vez mais prioritárias em uma sociedade que envelhece em ritmo acelerado, como é o caso do Brasil. Uma vez que existem contradições importantes entre aquilo que o brasileiro almeja para a sua velhice e o que ele de fato faz no presente para garantir esse cenário positivo no futuro, é essencial convocar todas as gerações para um debate verdadeiro e aprofundado”, afirma o diretor médico da Pfizer, Eurico Correia.
Para Blandina Diniz Lemos, a fé, a partilha e a caridade são sinônimos de qualidade de vida. Aos 94 anos, ela está em plena forma. É mãe, avó e bisavó. Nascida no interior mineiro, na infância e juventude cursou um colégio de freiras e atuou como funcionária dos Correios. Mudou-se com a família para Belo Horizonte quando as duas filhas mais velhas passaram no vestibular. À semelhança do marido, falecido há quatro anos, sempre foi engajada na igreja, nas causas sociais e no cuidado com o próximo. Blandina participava de uma agremiação solidária ao lado do esposo, com um papel central na ajuda aos menos favorecidos, e durante muito tempo também foi professora de catecismo. Para ela, a religiosidade influencia diretamente na saúde. “É uma herança de minha mãe, uma santa. Ela tirava do próprio prato para dar de comer aos pobres. Minha casa vivia cheia de pessoas carentes, ou parentes que vinham de cidades menores precisando de apoio. Deus falou: amar ao próximo como a si mesmo”. Do pai, a memória encontra um homem justo, correto e trabalhador. “Se ele estivesse aqui, veria escandalizado a sociedade de hoje. A vida não tem valor e as pessoas se importam com o que não vale a pena”.
Blandina conta que mantém uma alimentação saudável e, quando mais nova, não deixava de praticar atividades físicas. A caminhada harmoniosa ao lado do companheiro, Murilo, é mais um motivo que preservou seu bem-estar. “Não tínhamos conflitos. Só quando era jogo entre Cruzeiro e Atlético. Ele, cruzeirense, eu, atleticana. Nossa briga durava 90 minutos”, brinca. Depois da morte dele, Blandina continua coberta de carinho e amor. Ela considera-se uma felizarda pela união com a família, “uma verdadeira bênção”, em suas palavras, e faz questão de declarar que tem uma vida maravilhosa. “Aceito o que a vida me oferece e me sinto agraciada. Todas as manhãs me entrego nas mãos de Deus. Sou a mulher mais feliz do mundo”.
OTIMISMO
Pai e avô esmerado, casado há 50 anos, Félix Nabor Martins, de 75, nasceu em Bragança, no Pará, cidade a 200 quilômetros de Belém, um entre nove irmãos. Aos 14, foi morar na capital para estudar. Da infância, recorda do açaí e da farinha como bases do cardápio rotineiro. Na família, salienta, a maioria das pessoas chega a idades avançadas, e com saúde. “Está no DNA. A vida é longa entre meus parentes. Na média, morrem com quase ou mais de 100 anos”, ressalta. De uma família numerosa, Félix se lembra de que sempre foi corajoso e sonhador. Para ele, viver e curtir a vida é questão de atitude.
Ele, no entanto, não esconde que nunca foi muito apto para os esportes, mas, em sua opinião, a dieta equilibrada, além da genética, ajuda a manter a saúde. “Tomo muita água, quanto mais melhor, e adoro frutas. No almoço, não repito o prato. Como o suficiente para estar satisfeito”, ensina. Preservar o astral elevado é, para o simpático senhor, mais uma fórmula para viver bem. Ele lembra que teve poucos períodos de tristeza e que aprendeu a não cultivar esse tipo de sentimento. “De longe já identifico quando uma coisa é ruim para mim. Caio fora logo. Faço qualquer coisa para rir e fazer as pessoas rirem. Se não estiver contente, procuro não passar isso para frente”, diz.
Conviver com jovens
A receita de Nísia Maria Freitas Maletta, de 74 anos, viúva há 12, é sair de casa, passear e se exercitar. O casamento de 34 anos deu frutos – três filhos e cinco netos. Ela revela que toma duas taças de vinho ao dia, há 25 anos, e adora fazer a própria comida – dá preferência a pão integral, leite desnatado, legumes com casca, bastante fruta, muito peixe e refrigerante só para desentupir pia, diz, descontraída. Não aguenta reclamões e tem aflição de quem passa o dia inteiro em casa na frente da televisão, se queixando de dores.
Também põe a cabeça para funcionar. Conta que tem a prática de escrever, sejam crônicas, sejam poesias, sobre temas do dia a dia, não para publicações oficiais, mas para externar as sensações e percepções do mundo. A introdução ao universo da internet e dos aplicativos de mensagem é mais um impulso para estar antenada com os novos tempos. A convivência com os mais jovens, nesse ponto, é outro fator que a faz lhe sentir bem. Mesmo assim, morando sozinha e com autonomia, diz que aprecia estar consigo mesma, sem receio da solidão.
Dentro de casa, Nísia teve um exemplo sobre o que faz mal e dificulta chegar na terceira idade em condições favoráveis. “Meu marido morreu cedo, aos 59 anos. Ele fazia tudo errado. Comia alimentos gordurosos, muita carne, muita besteira. Faleceu com 115 quilos por causa de um aneurisma na aorta abdominal. Procuro fazer o que ele não fez”. Por isso, pratica natação e hidroginástica, faz acupuntura, academia, viaja e está atenta a hábitos alimentares saudáveis.
FAMÍLIA
A décima filha de 11 irmãos, Nísia se mostra brincalhona e reafirma que o bom humor e a proximidade com as pessoas amadas são aliados para uma vida com qualidade. “Temos que estar para cima sempre. Todo fim de semana me reúno com a família e os amigos, no lugar que já chamamos de ‘a casa de todos’. Compartilhamos receitas para levar uma vida leve. Se formos pensar bem, até os jovens estão estressados, tomando remédio para tudo”, compara.
Com problemas de saúde que não passam de incômodos com veias e varizes, ela salienta que vai ao médico não para tratar doenças, mas sim para preveni-las. Dona de cabelos prateados, como descreve, relata ainda que não dá importância para o aspecto externo. “Não gosto de espelhos. Dentro de mim, tenho no máximo 45 anos”. E ensina que ver a vida fora de casa é essencial. “Tenho um ditado: rua, doce rua. No fim das contas, Deus ajuda de um lado e a gente vai chegando lá devagarzinho de outro”.
Viver com energia
Assim como se alimentar bem e praticar exercícios, reservar um tempo para o lazer e para os amigos e familiares é uma forma de preservar a disposição e a jovialidade
A fotógrafa Vanda Ribeiro se mantém produtiva. Aos 60 anos, vive intensamente. Alerta em relação à saúde, é adepta de uma alimentação saudável, da prática de atividades físicas e parou de fumar. “Como muita verdura, frutas e legumes. Não gosto de academia, prefiro personal trainer. Me identifico com corrida, musculação e pilates”, diz. Para ela, ter e conviver com amigos também é uma maneira de ser saudável. Reúne-se periodicamente com a turma que está junta há décadas. O ponto positivo, declara, é que um zela pelo outro, cuida, se preocupa, principalmente com as questões emocionais e psicológicas. “A gente se encontra em momentos que são de muita troca. Conversamos sobre o que está ocorrendo com cada um, damos apoio uns aos outros, saímos para passear, vamos ao teatro, a shows e adoramos tomar vinho. Reservar um tempo para o lazer é muito importante”.
Vanda mostra que preza a companhia dos jovens. “O envelhecimento fica mais suave. Estando com pessoas mais novas, trago o que é atual para perto de mim, fico por dentro de tudo, ganho vida, energia”, alegra-se. Depois do nascimento recente da primeira neta, conta que o modo de encarar o mundo mudou, uma vez que se sente responsável por esse grande amor. “Disponho-me a ajudar, estar ao lado. Tinha medo de como seria, mas agora estou tranquila. Estar com ela me faz bem, me deixa feliz. Ser avó não me envelheceu. Pelo contrário, me deixou em paz”, revela.
EXEMPLO
A fotógrafa é amante da leitura, aprecia viajar, sair, conversar, conhecer pessoas, ouvir histórias, e nem pensa na morte. “Gosto demais de viver, mas não tenho um perfil todo certinho”. Ela fala que não sabe como estará daqui a 20 anos, mas mira no exemplo da mãe. “Aos 87 anos, ela está completamente lúcida, continua viajando, tem a cabeça aberta, dá conta da modernidade, gosta de aprender, tem uma vivência social e cultural muito boa. Se puder, quero ser como ela, e me sentir sempre jovem. Não vejo minha mãe como uma idosa”.
Para ter energia para viver, basta querer, diz Vanda, e buscar a felicidade. Uma dica é conservar viva a criança que cada um carrega em si. Ela frisa que não aprecia nada que a faz se sentir velha – não fala de rugas, e sim da alma. “Continuo sonhando e acreditando. A idade não me tirou isso. Sempre corri atrás, viajo para onde tenho vontade, profissionalmente sempre fiz o que gosto, e não vejo nada que ainda não tenha realizado. Minha vida é muito boa, sem maiores tristezas. Nunca fui ou me fiz de vítima. Para mim, fundamental é viver o agora”, salienta, ela que já experimentou até um salto de parapente.
Nascimento e renovação
A experiência da gestação e do parto é, sem dúvida, algo para ficar marcado, seja em qual época da vida for. A pequena Maia, nascida em novembro de 2017, é o mais novo amor do casal Filipe Milanez, de 36 anos, e Emanuelle Milanez, de 31, pais de primeira viagem. A atriz conta sobre a sensação indescritível com a chegada da filha. “Fui da dor à glória. Tentei parto normal, fiquei 24 horas sofrendo, e no fim foi cesariana. Ao vê-la, esqueci toda a dificuldade e vivi uma explosão de sentimentos. Alívio, alegria, satisfação. Perguntava-me: como ela saiu de dentro de mim? Como posso ter concebido um ser vivo tão lindo? Sem palavras”.
Para curtir a rebenta, e outros herdeiros que já estão nos planos, é preciso preservar a saúde. E Emanuelle está atenta aos cuidados necessários para que ela tenha qualidade de vida nos próximos anos, principalmente a longo prazo, quando chegar na maturidade. Sempre preocupada com o bem-estar físico, revela que tem uma alimentação balanceada e, durante a gravidez, praticou hidroginástica e caminhadas. Vai ao médico regularmente, faz os exames indicados, toma vitaminas e procura estar com tudo em dia. Quando questionada sobre como espera estar em um prazo de 40 anos, ela fala que deseja ter outros filhos, com dedicação à família e mais espaço para o lazer e para desfrutar ao lado de quem ama, sem esquecer do trabalho.
SOLIDARIEDADE
Durante quase dez anos, Emanuelle atuou como palhaça pela companhia Expresso Riso, indo a hospitais para visitas animadas aos pacientes. Para ela, a solidariedade é também um elemento que a faz estar bem. “Sinto-me uma pessoa melhor ao ajudar os outros. No hospital, as pessoas estão por um fio, o que me fez dar mais valor para a vida e a saúde. Aprendi a me cuidar mais, fico atenta aos sinais do meu corpo, me importo com a relação com meu marido, minha família e amigos. Afinal, você pode acabar perdendo alguém de uma hora para outra”, salienta.
A convivência com os mais velhos é um incentivo para aprender e aproveitar a vida. Emanuelle adora ouvir as histórias dos avós, com suas vitórias e conquistas, saber sobre suas origens, o que a auxilia até na própria tomada de decisões. Na opinião da atriz, não há idade para experimentar o novo. “Se você quer, vá atrás. O tempo nunca pode ser um limitador. Ao contrário, pode empurrar a pessoa para o que ela pretende fazer. Eu, por exemplo, intenciono ainda para 2018 estrelar uma peça solo no teatro, e tenho o desejo de participar de filmes e e produções televisivas”, adianta.
Equilíbrio e consciência
Para a engenheira civil Marianna de Lacerda Silva, de 32 anos, ter saúde significa o equilíbrio entre o físico, o mental, o emocional e o espiritual. Desde a adolescência, é entusiasta dos exercícios: já praticou dança, natação, musculação e, há dois anos, se dedica à luta – primeiro com o boxe e agora o kickboxing. Sempre ligada à boa alimentação, conta que nota diferença, como melhora na respiração e efeitos mais sutis no controle das emoções: se manter ativa a faz relaxar e alivia o estresse. Ela faz acompanhamento nutricional e comemora a diminuição no percentual de gordura, no peso e nas medidas.
“Quando for mais velha, pretendo continuar com os exercícios, cuidando da dieta e com independência. Vejo-me bem física e intelectualmente. Depois de aposentada, pretendo continuar com trabalho voluntário. Para mim, a solidariedade, fazer coisas positivas para os outros, é algo que me satisfaz”. Marianna aproveita o contato com a família e os amigos, gosta de sair, ter instantes de entretenimento, viajar, se distrair, sem deixar que o trabalho absorva a rotina de maneira massiva.
A engenheira diz que está sempre estudando, dedica-se à leitura, participa de cursos, seja em sua área de conhecimento ou não. “Procuro ler notícias e artigos sobre assuntos variados. Não sou de assistir televisão. Nas horas livres, adoro cozinhar, receber e encontrar com pessoas queridas”. Em busca de um cotidiano saudável, ela mira no exemplo de colegas de profissão mais maduros. “Meus pais e pessoas de sua faixa etária são de uma geração quando era naturalmente mais comum estar ativo. Pelas próprias características do meu emprego, em que fico muito tempo sentada, seria fácil descuidar e ficar sedentária. Esforço-me para não me acomodar”, ressalta.
Marianna também se prepara financeiramente para chegar à terceira idade sem surpresas indesejadas. Ela paga previdência privada, procura economizar, ter uma reserva de emergência e, depois de comprar o apartamento onde vive com o marido, começou a fazer poupança. Casada há cinco anos com o engenheiro civil Eduardo Henrique Andrade de Paula, de 31 anos, ela é a prova de como ter uma vida afetiva feliz traz benefícios para o corpo e a alma.
Não importa a idade
Nascida no interior da Bahia, Maria Aparecida de Jesus Vianna, de 55 anos, leva uma vida simples como dona de casa. Ela tinha um sonho em comum com Anderson Augusto Corrêa, de 29, que eles acabam de realizar juntos, provando que não importa quando – a primeira vez é sempre emocionante. Os dois finalmente conheceram o mar. Maria Aparecida diz que nunca teve a oportunidade de ir à praia, passear, quase não saía de casa. “Não vou a lugar nenhum, nem no zoológico”. Anderson, por sua vez, lembra de quando ficou órfão, e teve que aprender a se virar desde cedo. “Aos 16 anos já morava sozinho, e com 17 cuidava de dois irmãos menores”.
Quando se depararam com a imensidão azul, foi difícil conter as lágrimas. “Meu grande desejo era pelo menos pisar na areia, ver se é salgado mesmo. O horizonte da praia é lindo. Me vi na frente da coisa mais bonita do planeta”, celebra a dona de casa. Para Anderson, tudo acontece quando é para acontecer. A primeira coisa que fez foi se jogar na água, pular as ondas, como todo mundo já lhe havia dito o quanto era divertido. “A vida passa. Se surgir a oportunidade, abrace. Estou de alma lavada”, alegra-se. Maria Aparecida comemora a missão cumprida. “É o sonho concretizado”, finaliza.
Comportamentos contraditórios
Pesquisa aponta que, mesmo temendo os problemas de sapude relacionados à idae, a maioria dos entrevistados não se preocupa com hábitos saudáveis, que vão fazer a diferença lá na frente
Apontando as doenças como o aspecto mais temido quando se pensa na terceira idade, 92% dos entrevistados na pesquisa do Instituto QualiBest, a pedido da Pfizer, disseram que sentem medo de envelhecer. O receio de adquirir problemas de saúde foi mencionado por 70% dos entrevistados. Outros fatores são a preocupação com as limitações físicas, lembradas por 64%, e os transtornos com a memória, indicados por 55% do público. “A mulher se cuida mais que os homens. Foi educada para isso. Vai ao ginecologista uma vez ao ano e daí o médico pede exames gerais”, pondera Eurico Correia, diretor médico da Pfizer.
Em contrapartida, os resultados do levantamento mostram que a minoria dos ouvidos pratica exercícios, mantém uma alimentação adequada ou está atento à saúde com ações de prevenção – entre os jovens de 18 a 25 anos, esses cuidados são ainda menos observados. “As pessoas reconhecem a necessidade de manter hábitos saudáveis, mas não fazem. Mesmo com tanta informação, fica difícil praticar”, afirma o médico. Atualmente, o foco da medicina se volta à saúde curativa, quando devia ser o contrário, diz a psiquiatra Rita Cecília Ferreira, do Programa da Terceira Idade do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (Ipq-USP), há 25 anos especialista neste segmento. Estimular as pessoas nos aspectos físicos e cognitivos, com políticas públicas pensadas para os idosos, torna-se fundamental. A sociedade tem aí um papel significativo de cobrar e insistir, principalmente na prevenção aos problemas que costumam surgir na maturidade.
Avanços
“Terapias complementares e integrativas, como arteterapia, cromoterapia e musicoterapia precisam ser melhor ofertadas. São eficientes, mas ainda minoria frente aos tratamentos tradicionais. Já há comprovação científica da relação de causa e efeito entre a saúde mental e a espiritualidade. Seria ótimo ter programas de meditação, por exemplo, mas ainda é pouco acessível. No extremo, a realidade é que existem cidades onde não há simples equipamentos de raio-X. Falta muito para melhorar o amplo acesso aos serviços de saúde no Brasil”, critica Rita.
Para os participantes do estudo, o aumento da longevidade é um fator ligado justamente ao desenvolvimento da medicina. Quando solicitados para tratar o assunto, os entrevistados listaram quatro aspectos relacionados a esse ponto: a melhora da medicina preventiva, como as vacinas (40%), o avanço em medicamentos (38%), a evolução no tratamento de doenças graves (36%) e nos equipamentos de diagnóstico (27%). “Não prevenir é um problema que impede chegar ao que se quer na terceira idade. O câncer, por exemplo, pode não ser curável, mas é controlável. De uma certa forma, o acesso à saúde melhorou no Brasil. A população está exigente, os avanços da medicina estão mais disponíveis, mesmo com percalços”, pesa o diretor médico da Pfizer.
Receios e expectativas
Chama ainda a atenção a apreensão sobre a solidão, pontuada por 45% dos participantes. “No Brasil há uma tendência ao narcisismo, pois as pessoas cultuam muito a aparência, a juventude. Então, esse medo de estar sozinho pode ser traduzido como um receio de não ser notado, de não ser visto pelo outro no fim da vida, quando já não se tem as características da juventude que a sociedade tanto valoriza”, reforça Rita Ferreira.
A ansiedade sobre as finanças também foi referida por 45% das pessoas – embora a segurança em relação ao dinheiro seja um item valorizado para o bom envelhecimento, menos da metade dos entrevistados tem a prática de poupar. “Na América Latina, é comum não preservar a saúde financeira, ao contrário dos europeus, que desde cedo fazem seu pé de meia”, continua Eurico Correia. Enquanto isso, para 67% dos ouvidos no grupo surge a vontade de envelhecer próximo aos familiares. A oportunidade de realizar novos sonhos recebeu 58% das menções.
Respeitar o corpo e a mente é fundamental para chegar bem à velhice. Ir ao médico com regularidade, seguir as recomendações e o tratamento prescrito, assim como ler e aprender sempre, conservando o cérebro ativo para evitar males como o Alzheimer, buscar a harmonia entre a vida profissional e pessoal, manter um padrão de sono adequado, fazer um trabalho voluntário e nutrir um hobby – são essas algumas das recomendações levantadas. Outros cuidados perpassam a prudência quanto às emoções. “É fundamental: dar sentido à vida afetiva e sexual, ter amizades, resolver conflitos familiares, preparar-se para a saída dos filhos de casa, planejar a vida do casal sem os filhos. Principalmente em relação a demências, o ideal é fazer a cabeça funcionar. Não se aposentar e ficar enfiado dentro de casa de pijama”, brinca Rita Ferreira.
“Não basta só ir ao médico, tem que aderir ao tratamento, mesmo diante de problemas estruturais que dificultam o acesso aos remédios. É importante também considerar o cuidado com o intelecto, mantê-lo vivo. Algumas atitudes são fortificantes, como a leitura, a meditação, a percepção do mundo imaterial. Relacionamentos estáveis ajudam inclusive no tratamento de doenças crônicas. O impulso para essa campanha é tentar mudar o modo de encarar a vida, perceber uma nova cultura social na forma de enxergá-la. As pessoas estão assumindo a realidade de que envelhecer é bom, desde que você esteja preparado para isso. O importante é ter equilíbrio”, acrescenta Eurico.
Mais afeto, menos vergonha
Colocando lado a lado as pesquisas do Instituto QualiBest em 2015 e no ano passado, mais uma conclusão elucida o fato de que a vida afetiva e sexual dos entrevistados melhorou. Na primeira edição do estudo, 49% da amostra se consideravam satisfeitos quanto à questão da sexualidade, e agora o índice subiu para 56%. Em relação a experiências afetuosas, 57% se dizem confortáveis, enquanto em 2015 esse total era de 51% – os dados são equivalentes entre homens e mulheres.
A comparação entre as duas fases do levantamento dão conta ainda que as pessoas estão mais à vontade para revelar a idade – em 2015, eram 74% e, em 2017, 79%. Dentre esse comportamento, também é possível observar diferenças entre os públicos masculino e feminino – 6,96% delas se incomodam em dizer quantos anos têm, ante 3,78% deles. Adiciona-se a constatação de que, para mais de 70% dos entrevistados, envelhecer não é motivo de vergonha, perspectiva mais acentuada entre aqueles com 51 anos ou mais, grupo em que essa porcentagem vai a 87%. Somente 22% dos participantes demonstram constrangimento com a maturidade e, dentro dessa parcela, os principais motivos seriam a dependência para a locomoção, citada por 64%, necessidade de auxílio para atividades rotineiras (60%) ou para complementar o orçamento (51%).
Diferentes gerações, múltiplos olhares
A convivência entre gerações é valorizada em todas as faixas etárias investigadas pela pesquisa. Entre jovens de 18 a 29 anos, a maioria (67%) reitera que os parentes mais velhos são uma verdadeira fonte de aprendizado. Para quem tem mais de 50 anos, o contato com as novas gerações vai além do núcleo familiar – 63% das pessoas ouvidas têm o hábito de participar de rodas de conversa com amigos mais novos.
Rita Ferreira percebe cada vez mais jovens se relacionando com idosos. Muitos os têm como amigos reais. Segundo ela, essa vivência intergeracional traz benefícios para todos os lados – entre os anciões, dá motivação para fazer coisas novas, se jogar em aventuras, realizar novos e velhos sonhos, curtir novidades.
“Quando netos e avós têm a chance de envelhecer juntos, a história da família se perpetua. A criança e o jovem que convivem com um idoso, além de aprenderem com ele por meio de suas experiências de vida, provavelmente serão mais tolerantes com as dificuldades do envelhecimento no futuro, pois terão estabelecido um forte vínculo”, afirma a psiquiatra.
Enquanto 32% das pessoas com 51 anos ou mais dizem que ficar mais velho está sendo melhor do que imaginavam, essa opinião é compartilhada por 24% entre os jovens de 18 a 25 anos. Porém, entre os representantes desse intervalo etário, 22% revelam que a experiência é pior que pensavam, um patamar superior à média da amostra completa (14%). Aflições financeiras e o aumento das responsabilidades explicam esse ponto de vista negativo. Quando o assunto se volta para a prática de novas coisas, o espírito aventureiro impulsiona as duas faixas de idade menores, entre pessoas de 18 a 35 anos, sendo que, a partir dos 35, o principal fator é a certeza de uma experiência segura, sem muitos riscos.
Facebook e política
Entre as novidades da pesquisa em 2017, está a relação com a vida digital nas diferentes gerações – o Facebook, por exemplo, impacta a todos. Quase 8 em cada 10 pessoas (78%) recorrem à ferramenta, a mídia social mais consumida pelos entrevistados, seguida pelo YouTube, com 62%. A navegação pelos portais de busca também foi pronunciada.
“Fazemos um apelo pelo esforço de mudar o estilo de vida, enfrentar os obstáculos, as novas condições sociais. A revolução digital, por um lado, abre espaço para as pessoas falarem o que querem e sem critério, o que acaba tornando tudo muito superficial. Há muita gente que se perde ao ficar só entranhado na tecnologia, um risco até para a saúde mental. Seria bom ter o melhor dos dois mundos – o real e o virtual. O lado relacional é o que nos faz seres humanos”, enfatiza Eurico Correia.
Por outro lado, o estudo evidencia como a importância da televisão cai conforme vai diminuindo a idade: enquanto 84% das pessoas com mais de 51 anos têm o hábito que usar essa mídia para se informar, apenas 45% daqueles com 18 a 25 anos gostam de TV. O rádio, por sua vez, é um dos canais menos procurados pelos jovens, com 14%, nível que cresce para 32% entre os maduros – uma tendência também verificada para a procura por jornais e revistas.
O estudo aferiu ainda os temas mais atraentes para os brasileiros. Filmes e séries são focos de atenção, mas o alerta maior é para a discrepância no interesse das gerações pela política. O conteúdo é tido como importante para 55% dos maiores de 51 anos, e apenas 36% dos mais jovens se ligam ao assunto. Os mais velhos são ainda mais atraídos pelo jornalismo (79%) que os mais novos (37%). “Do mesmo jeito que os jovens estão mais alienados, os mais velhos se sentem responsáveis pelo país que irão entregar para as próximas gerações”, diz Rita Ferreira.
“A geração mais madura tende a ser mais politizada se considerarmos que essas pessoas passaram pelas grandes transformações sociais do século 20, como a ditadura militar, a revolução sexual, o rock, o movimento hippie, a contra cultura e o protagonismo crescente da mulher no mercado de trabalho e nas outras esferas. São pessoas que estão mudando o próprio significado do envelhecimento”, acrescenta a psiquiatra.
Celebridades e saúde
A pesquisa do Instituto QualiBest também ouviu opiniões sobre as celebridades que melhor envelhecem. Com 78% da preferência, aparecem o apresentador Sílvio Santos, de 87 anos, e o jornalista William Bonner, de 54, em paralelo ao ator norte-americano George Clooney, de 56, lembrado por 69% dos entrevistados. No cenário feminino, as personalidades mais votadas são as atrizes Glória Pires, de 54 anos, e Fernanda Montenegro, de 88, ambas citadas por 76% do universo estudado, seguidas da jornalista Glória Maria, com 74%.
Quanto àqueles que estão deixando legados relevantes para os jovens, os homens mais votados estão conectados ao mundo da tecnologia – o presidente da Microsoft Bill Gates (47%), à frente do criador do Facebook, Mark Zuckerberg (35%). No caso das mulheres, as principais citadas se destacam pelo engajamento social, como a ativista Maria da Penha (22%), a atriz britânica Emma Watson (16%) e a também atriz Taís Araújo. Três atletas do futebol, de gerações distintas, aparecem no ranking. Neymar foi eleito por 17% do público, Pelé é o favorito para 13% dos brasileiros, e a jogadora Marta recebeu 11% dos votos.
“O envelhecimento bem sucedido é muito bom. Estar velho bem, sem problemas de saúde, permanecer com autonomia e independência. Ter mais energia na velhice é um conceito relativo – o importante é ter foco. Viver mais não significa viver com qualidade.”, conclui Rita Ferreira.
Projeto promove encontros para troca de experiências entre idosos e jovens
Uma iniciativa de caráter cultural e educativo desde 2012 promove o intercâmbio de experiências entre crianças, adolescentes e idosos. O projeto Estação Memória é um exemplo de como o contato intergeracional traz benefícios para todos os envolvidos, mudando a perspectiva sobre a vida entre os mais novos e incentivando os representantes da terceira idade a ter um dia a dia mais saudável, na medida em que aborda os aspectos emocionais, e ainda estimulando o intelecto. A ação é uma parceria entre a Universidade de São Paulo (USP), por meio de um trabalho de extensão, e alunos do ensino fundamental do Colégio Termomecanica (CTM), escola de educação básica mantida pela Fundação Salvador Arena no município de São Bernardo do Campo, região da Grande São Paulo.
O programa consiste na troca de cartas entre os estudantes e os idosos, com o intuito de fomentar a pesquisa, desenvolver a escrita e a leitura entre os educandos – já que eles precisam preparar os textos a ser enviados -, e ao mesmo tempo favorecer a memória entre os anciões. No fim de 2017, os jovens conheceram os idosos com quem compartilharam correspondências desde o início daquele ano letivo. Na ocasião, seguindo a temática Lendas Urbanas – Histórias que o povo conta, eles cumpriram a tarefa de levantar mitos e lendas contadas por seus familiares e dividiram-nos com os idosos que, por sua vez, também relataram casos que ouviam antigamente.
Márcia Gomes de Lima, coordenadora pedagógica do Colégio Termomecanica, explica que a proposta contribui com o processo de aprendizagem. “É mais uma oportunidade para falarmos da importância do respeito aos mais velhos e de mostrar aos nossos alunos o quanto pode ser rica a troca de experiências e a convivência com os idosos”, ressalta.
Segundo Ivete Pieruccini, coordenadora do projeto e pesquisadora da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP), a atividade foge do trabalho comum acerca dos idosos, que geralmente passam simplesmente pelo viés assistencialista ou de apenas culto ao passado. “No Estação Memória, a ideia é que os jovens tratem os mais velhos como fontes significativas de informação, que se apropriem de suas vivências e aprendam com eles, e que os idosos ressignifiquem sua experiência a partir das relações estabelecidas com os jovens”, finaliza. (Saúde Plena)