Quando aceitou fazer o papel de Madame Satã, no filme de Karim Aïnouz, em 2002, Lázaro Ramos soube que iria enfrentar um grande desafio. O reconhecimento que veio posteriormente – este é seu trabalho mais premiado até hoje – não foi o que marcou a sua carreira, mas a mudança que a controversa figura da Lapa dos anos 1930 causaria em sua trajetória.
“Depois do ‘Satã’, eu entendi meu papel na criação de um personagem. Foi uma transformação, que trouxe a confiança que faltava para superar qualquer coisa”, diz Lázaro. Passados 16 anos, ele atua em diversas frentes, como ator, diretor teatral, escritor e apresentador. Na segunda, às 21h30, estreia a 13ª temporada do programa “Espelho”, no Canal Brasil e, em abril, a quarta temporada da série “Mister Brau”, na Rede Globo. No teatro, ele divide a cena com a mulher, Taís Araújo, e dirige “O topo da montanha” e o infantil “A menina Edith e a velha sentada”, que estão em cartaz no Teatro NET Rio. Ainda tem o drama “O jornal – Th e Rolling Stone”, em que ele divide a direção com Kiko Mascarenhas, que participará do Festival de Curitiba.
Lázaro, que começou no Bando de Teatro Olodum, é daquela turma da Bahia e Pernambuco que reunia João Falcão, Vladimir Brichta e Wagner Moura. “Nós estamos sempre em contato, é uma relação que se mantém desde ‘A máquina’. Há uns quatro meses, fizemos uma leitura da peça e, mesmo depois de dez anos, foi emocionante ver que a gente se lembrava praticamente de todo texto”, conta.
Lázaro comenta que foi apresentado duas vezes à peça que faz alusão ao último grande discurso de Martin Luther King, mas diz que a primeira tradução não o agradou. “A segunda versão, de Silvio Albuquerque, que conhece profundamente a vida do ativista, tinha uma diferença sutil, uma tradução de sentimentos, mais sensações que palavras”, diz. O espetáculo, que está na estrada desde 2015, encerra a temporada carioca dia 29 de abril.
Se a parceria nos palcos com Taís fará uma pausa, pelo menos por enquanto, o infantil reestreia hoje e se baseia em seu segundo livro. “É um texto que fala sobre autoestima e uso responsável de tecnologia, além de ter uma trilha musical bem interessante. Eu gosto muito de falar para crianças”, diz ele, que também é autor da ficção “Na minha pele”, que fez enorme sucesso na Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) no ano passado. “Ele já ganhou vida própria, inclusive está sendo adotado em algumas escolas. Em breve, vou a Salvador para conversar com alunos de cinco delas, particulares e públicas. É um ambiente perfeito para discutir questões como racismo, respeito às diferenças, formação de identidade, família e gênero”, afirma.
Cada vez mais à vontade no papel de entrevistador, Lázaro Ramos comanda o programa de entrevistas mais duradouro da TV fechada no Brasil (“Espelho”) e espera dar continuidade a “Lazinho pra você”, exibido nas tardes de domingo na TV Globo:. “Eu queria me aprofundar desta vez em algo subliminar. No lugar de diagnósticos, temos agora a proposta de iluminar soluções. Tem uma pergunta que é disparada em todos os episódios: ‘O que você quer dizer de novo para o mundo?’. A partir daí, o convidado fica à vontade para responder, no sentido de novidade ou novamente”, explica.
Entre os convidados dos 26 episódios já gravados, está a professora Diva Guimarães, que o emocionou em sua palestra na mais recente edição da Flip e, pelo jeito, continua sendo figura forte e referência para Lázaro: “Essa foi quase uma não-entrevista, porque eu faço a pergunta e choro por uma hora”. Sob direção de Juliana Vicente, o programa terá Caetano Veloso e o filho Zeca, Fernanda Torres, Maria Rita e Rincon Sapiência.
Em “Lazinho pra você”, a faceta de apresentador de Lázaro foi além e mesclou com a interpretação dos casos mostrados no programa. “Até hoje, troco mensagens e falo com os participantes. Me apeguei!”, brinca. Segundo Lázaro, a segunda temporada do programa, ainda sem previsão, será no horário noturno. “Na verdade, ele foi projetado para ser uma atração da noite, mas só havia aquele horário dominical disponível. Até alteramos alguns aspectos do roteiro para ficar mais adequado”, revela.
Enquanto isso, o mega sucesso “Mister Brau” chega em abril com, digamos, uma “virada” na história. “Os personagens estão em busca de seu lugar. Michele, que vinha crescendo nas últimas temporadas, agora vira estrela internacional e, por isso, a dupla não pode mais continuar. Brau se sente obsoleto e vai em busca de sua essência em Madureira. Além disso, finalmente vamos mostrar as origens do Lima!”, brinca, falando do personagem de Luis Miranda.
Cacau Protásio e Lellezinha serão, respectivamente, Carmo, irmã de Lima e a filha Yasmin. “Os papéis foram escritos para elas. A Cacau é uma das entrevistadas dessa temporada do ‘Espelho’ e a Lelezinha, eu dirigi num clipe do Passinho”, conta. A nova temporada conta com mais uma surpresa, que é a volta da personagem Priscila, que ele fazia na série “Sexo frágil”.
Lázaro acrescenta que um dos melhores momentos da gravação dessa nova temporada foi a viagem para Angola, país que visitou três vezes. “A primeira vez, fui para ser jurado do concurso Miss Angola, logo depois de viver o Foguinho em ‘Cobras e lagartos’. Agora, conseguimos circular por toda Luanda e foi ótimo encontrar atistas que moldam a música do Brau. Para a gravação do último capítulo, a ideia era a de reunir cinco artistas em um trio elétrico e, na hora, apareceram mais 16, foi emocionante!”, festeja o ator, que lamenta a pouca interação do Brasil com os artistas de língua portuguesa. “Fiz um filme muito bonito chamado ‘O grande Kilapy’, em 2014, de Zezé Gamboa, onde contracenei com atores de Portugal, Cabo Verde, Angola”, comenta ele que aparecerá no longa “Correndo atrás”, de Jefferson De, previsto para entrar em circuito em junho. (Jornal do Brasil)