O ex-coronel João Batista Lima, amigo do presidente Michel Temer, será ouvido nesta sexta-feira (30) pela Polícia Federal em São Paulo, após quase 9 meses de tentativas frustradas. Ele foi preso na Operação Skala na quinta-feira (29).
A prisão de Lima foi pedida pela pela procuradora-geral da República, Raquel Dodge, e autorizada pelo ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, relator do inquérito do inquérito que investiga se Temer, por meio de decreto, beneficiou empresas do setor portuário em troca de suposto recebimento de propina. Além dele, outras nove pessoas foram presas, incluindo José Yunes, ex-assessor especial da Presidência e também amigo de Temer.
Desde junho de 2017, o ex-coronel apresenta atestados de saúde como resposta às intimações da PF para esclarecimentos. O depoimento está marcado para as 8h30.
As primeiras tentativas de ouvi-lo foram após a delação de executivos da J&F. Na ocasião, com base nas delações, Lima foi apontado pela Procuradoria Geral da República como um dos intermediários de propina que supostamente seria paga ao presidente Temer.
Também com base nas delações, a PGR solicitou a abertura de inquérito e, em setembro do ano passado, Barroso autorizou a investigação. A partir daquele mês, o delegado Cleyber Malta Lopes, responsável pela apuração da PF, enviou novas intimações para marcar o depoimento, o que não ocorreu até agora por causa dos problemas de saúde alegados por Lima.
Segundo o advogado dele, Cristiano Benzonta, o coronel, que tem 74 anos, já sofreu dois AVCs, um câncer e precisou retirar um rim em dezembro do ano passado. Além disso, Lima precisa tomar medicamentos.
Coronel hospitalizado
Lima chegou à sede da PF em São Paulo na quinta-feira (29) à noite, depois de passar mal no momento em que foi preso e precisou ser levado para hospital. Ele só recebeu alta no fim da tarde.
Após sair do hospital, o coronel foi levado para exames de corpo de delito no Instituto Médico Legal e em seguida encaminhado para a superintendência da PF.
‘Gorjetas’
No curso das investigações, a Polícia Federal encontrou mensagens telefônicas trocadas entre o Coronel Lima e uma pessoa chamada Maria Helena, ainda não identificada pelos investigadores.
Em uma das mensagens, datada de 30 de abril de 2017, Lima diz: “Amiga, nessas condições ainda tenho esperança de receber as ‘gorjetas’ que você não me deu”.
Para a PF, a conversa entre os dois “chama atenção pelo fato de o coronel aparentemente fazer uma cobrança, utilizando o termo ‘gorjeta’”. Os investigadores querem que Lima esclareça em interrogatório do que se tratava a conversa.
Também há uma troca de mensagens na mesma data entre Lima e um interlocutor chamado Miguel de Oliveira. Nela, Lima diz: “Recebeu pouco. Nas minhas contas deveria ter recebido R$ 120 mil. Estão ‘garfando’ o coitado”.
No inquérito, a PF afirma que “a conversa aparentemente remete a um pagamento feito a alguém, que teria sido enganado, pois o valor pago deveria ter sido maior”. Essa é outra troca de mensagens que a PF quer esclarecer no depoimento.
Relação com o presidente
Temer e Lima são amigos há décadas, e mantêm relações próximas até hoje. Um relatório de busca e apreensão da Operação Patmos, da Polícia Federal, diz que Lima é um homem com acesso direto ao presidente.
Nesse mesmo relatório, há a descrição de 12 ligações telefônicas entre Temer e o ex-coronel no período entre abril de 2016 e maio de 2017. Nesse período, Temer já ocupava a Presidência da República.
Operação Skala
O inquérito que resultou na prisão de Lima foi instaurado a partir dos depoimentos de Joesley Batista e Ricardo Saud, delatores na Operação Lava Jato. Ele investiga o suposto pagamento propina por empresas do setor dos portos para agentes do governo em troca de favorecimentos nos contratos.
O presidente Michel Temer é um dos investigados. Em maio de 2017, ele assinou um decreto que aumentou o prazo das concessões das áreas portuárias de 25 anos para 35 anos, com chance de prorrogação por até 70 anos. Segundo a Procuradoria Geral da República, o presidente e seus aliados teriam recebido propina em troca da edição desse decreto.
Veja quem são os presos na operação e por que eles são investigados:
- José Yunes, advogado, amigo e ex-assessor do presidente Michel Temer. É apontado pelo operador financeiro Lúcio Funaro, delator da Operação Lava Jato, como um dos responsáveis por administrar propinas supostamente pagas ao presidente.
- Antônio Celso Greco, empresário e dono da Rodrimar. É suspeito por pagar propina para receber benefícios em contratos para a concessão de portos.
- João Baptista Lima. É ex-coronel da Polícia Militar de São Paulo e amigo de Temer. Ele é apontado pela Procuradoria Geral da República (PGR) como um dos intermediários da propina que seria paga para a aprovação do decreto dos portos.
- Wagner Rossi. É ex-deputado, ex-ministro e ex-presidente da estatal Codesp, administradora do porto de Santos. Em delação, Joesley Batista disse que foi procurado por Rossi e ouviu reclamações de que Temer o havia abandonado – deixado de pagar R$ 200 mil por mês após a saída do ministério.
- Milton Ortolan, assessor de Wagner Rossi. Joesley também disse à PF que Temer perguntou se poderia ser paga a quantia de R$ 20 mil a 30 mil a Ortolan.
- Celina Torrealba, uma das donas do grupo Libra. Segundo o jornal “O Globo”, são investigadas as doações feitas por integrantes da família Torrealba nas eleições de 2014.
- Eduardo Luiz de Brito Neves, proprietário da MHA Engenharia
- Maria Eloisa Adensohn Brito Neves, sócia nas empresas MHA Engenharia e Argeplan
- Carlos Alberto Costa, sócio fundador da Argeplan e ex-sócio da AF Consult Brasil
- Carlos Alberto Costa Filho, sócio da AF Consult Brasil
Há ainda mandados não cumpridos contra Rodrigo Borges Torrealba, Ana Carolina Torrealba Affonso e Gonçalo Borges Torrealba, todos ligados ao Grupo Libra.