Três
“Vemos que o número de casos continua aumentando”, disse o diretor do IDPH, Dr. Nirav D. Shah. “O IDPH não sabe quanto o produto pode estar contaminado, ou onde está circulando. Pedimos a todos veementemente que não usem canabinoides sintéticos.” A nota divulgada pelo departamento disse que encontrou, em algumas amostras, traços de brodifacoum – substância extremamente tóxica e usada como veneno de rato.
De acordo com o químico Guilherme Marson, a maior parte destas drogas sintetizadas de forma clandestina é produzida sem um controle rigoroso contra impurezas, solventes e procedimentos de qualidade.
“Tem uma molecada que se mete a fazer ciência em laboratório porco. Eles misturam tudo, como quem faz bolo, e o resultado é que as pessoas tomam essas coisas sem saber o que tem ali, nem se foi testado”, disse.
O IDPH relatou efeitos colaterais graves, além das mortes: tosse com sangue, sangue na urina, sangramento do nariz e das gengivas. Segundo Anthony Wong, diretor do Centro de Assistência Toxicológica (Ceatox) do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas, os canabinoides sintéticos são de 80 a 100 vezes mais potentes do que a maconha.
Cannabis x canabinoides sintéticos
Apesar do nome parecido com a cannabis – gênero que inclui três variedades diferentes da planta, a sativa, a indica e a ruderalis –, os canabinoides sintéticos são substâncias produzidas em laboratório e usadas para consumo ilícito.
O professor da Universidade Clemson, John W. Huffman, foi quem iniciou na década de 90 as pesquisas para a maioria dos canabinoides sintéticos que são usados como entorpecentes nos dias de hoje. Ele criou uma série de estruturas para tentar ajudar no tratamento de HIV, câncer, esclerose múltipla. No final, nenhuma delas foi usada para a medicina, mas passaram para o mercado ilegal das drogas.
São dezenas de fórmulas, algumas proibidas e outras ainda não detectadas. Os traficantes muitas vezes recriam estruturas parecidas, mas com uma pequena parte da molécula diferente, para se esquivar da fiscalização dos governos. No Brasil, a maioria dos canabinoides são proibidos, assim como nos Estados Unidos.
“São mais de 200 tipos. Por ano, são pesquisados e descobertos cerca de 40 a 50 novos tipos. Os do tipo ‘Spice’ são os mais antigos”, disse Wong.
Mas há semelhaça com a maconha? Tanto a planta quanto a substância em laboratório agem nos mesmos receptores no cérebro – a molécula se liga a eles para desencadear uma reação no interior das células. As estruturas do THC e do canabidiol, no entanto, são bastante diferentes.
“Enquanto a maconha ocupa 30 a 40% dos receptores, os canabinoides sintéticos ocupam de 80 a 100% deles. O efeito neurológico é muito mais potente”, completou Wong.
Outro ponto é que, geralmente, os usuários também fumam os canabinoides. A substância é espalhada sobre qualquer tipo de planta, que depois é enrolada para tragar.
“Não tem nada a ver com a cannabis, com a maconha. É uma substância química que é diluída em um solvente que seja evaporável. Aí essa substância é jogada em uma planta qualquer até secar o solvente. Aí a planta fica impregnada com o princípio ativo agora, que é o canabinoide sintético”, disse José Luiz da Costa, especialista da Unicamp.
“Então, é muito errado falar o termo ‘maconha sintética'”, completou. “A única semelhança é onde ele atua no cérebro”, completou.
Efeitos no corpo
De acordo com os especialistas os usuários dos canabinoides podem desenvolver:
- Agressividade
- Convulsões
- Perda do raciocínio
- Hipertensão
- Taquicardia
- Tremores no corpo
- Parada cardiorrespiratória, podendo levar à morte
- Dependência química