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Os números estão em um estudo inédito elaborado pelo banco Santander e foram projetados com base na expectativa de crescimento na quantidade de trabalhadores ocupada no Brasil e no aumento esperado do número de novas empresas no país.
Os dados mostram que a abertura de pequenas empresas e o crescimento do número de profissionais autônomos devem ser as alternativas para o brasileiro se ocupar em num momento de fraqueza do mercado de trabalho.
Neste ano, por exemplo, a expectativa do banco é que 2,5 milhões de empresas sejam criadas no país, enquanto a ocupação como um todo deverá ter um aumento de 2,2%
“A melhora esperada para a economia brasileira deve até ajudar a sustentar o avanço deste brasileiro empreendedor”, diz o economista-chefe do Santander, Maurício Molan.
No ano passado, 33% da mão de obra ocupada trabalhava por conta própria ou em micro empresas. Neste ano, essas duas categorias vão responder por 50% das posições de trabalho criadas em 2018, de acordo com as projeções do Santander.
Conta própria
A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) Contínua já vem captando o movimento do aumento de trabalhadores por conta própria. No trimestre encerrado em fevereiro, por exemplo, houve um aumento de 977 mil trabalhadores nesta condição quando comparado com o mesmo período do ano passado.
No trimestre encerrado em fevereiro, a taxa de desemprego ficou em 12,6%. Ao todo, são 13,1 milhões de pessoas estão desempregadas no país. O emprego com carteira assinada ainda está em queda e atingiu em fevereiro o menor nível desde 2012.
“Quem decidiu empreender recentemente teve mais chance de sobreviver. A crise foi tão profunda que quem partiu para um negócio próprio no início da recessão quebrou”, diz o professor do Insper Sérgio Firpo. “Com a economia crescendo, é provável que mais pessoas passem a apostar no empreendedorismo.”
Oportunidade ou necessidade
O empreendedorismo costuma aparecer em dois momentos na vida de uma pessoa:
- por oportunidade, no momento em que ela decide mudar de área e abrir um negócio próprio que lhe parece promissor;
- por necessidade, nos casos dos trabalhadores que ficam desempregados e enxergam no negócio próprio a solução para ter uma renda mensal.
Desempregado desde o início deste ano, Milton Elias foi demitido neste ano de uma empresa do setor de consórcio após 25 anos trabalhando no setor. Agora, ele pretende seguir no ramo, só que de forma independente.
“Estamos vivendo um cenário em que você não pode ficar vinculado a uma CLT. Até quando vai existir uma CLT?, questiona Elias, que já incentiva seus filhos a pensarem em abrir seu próprio negócio. “Você vai bater na porta e o empregador vai falar ‘Ah, já tenho’. Você está sendo convidado para uma dança onde todo mundo já tem seu par.”
O desemprego também foi o empurrão para que Mariana Oliveira encapasse uma jornada de empreendedora. Ela está desempregada há sete meses depois de ter trabalhado oito anos no setor bancário. Sem a carteira de trabalho assinada, planeja abrir uma loja de roupa com uma amiga.
No primeiro momento, o comércio de Mariana será online, revendendo marcas do Brás e Bom Retiro. As amigas já queriam ter começado as vendas, mas ambas estavam guardando dinheiro. A expectativa é que o e-commerce esteja funcionando até julho com um investimento inicial de R$ 5 mil. Futuramente, há pretensão de abrir uma loja física.
Muitos brasileiros, no entanto, que abriram seus negócios para fugir do desemprego, ainda sonham com um emprego com carteira assinada.
Interesse pelo empreendedorismo
O estudo do banco Santander também identificou que a atividade empreendedora é forte na economia do Brasil. Um dos indícios, segundo o economista-chefe do banco, é a quantidade de empresas novas na economia.
Um levantamento da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), compilado pelo banco, mostrou que 35% das empresas em atuação na economia brasileira têm até dois anos de fundação. Na frente do Brasil, estão apenas Eslováquia, Romênia e Letônia.
O caminho, no entanto, para um negócio sobreviver no Brasil não é fácil. Segundo o Sebrae, 23% das empresas no Brasil fecham as portas nos dois primeiros anos. A economia brasileira apresenta uma série de entraves competitivos quando comparada a outros países, o que diminui consideravelmente a chance de sobrevida de uma atividade empreendedora.
“Em várias questões regulatórias o Brasil vai mal e dificulta a atuação do empreendedorismo. Mas há boom de empreendedorismo no Brasil que pode estar sendo impulsionado até pelos nossos fatores culturais”, diz Molan.