Aumenta o número de mortes confirmadas pelo vírus da gripe em Minas e, com ele, o nível de alerta contra a doença, especialmente porque pelo menos uma das vítimas tomou a vacina, que não foi capaz de protegê-la. O total de óbitos de pacientes que comprovadamente foram infectados pelo vírus Influenza A chegou a quatro no estado. A última vítima faleceu em Belo Horizonte, na terça-feira da semana passada. A dona de casa G.M.C.P., de 63 anos, que vivia na Região Nordeste, morreu 20 dias depois de ter se vacinado em um posto de saúde da capital mineira. Exames indicaram que ela foi vítima da variação H1N1, a mesma que causou epidemia mundial de gripe suína em 2009. Especialistas explicam que a dose não oferece 100% de proteção, mas ressaltam a importância da prevenção, que diminui os efeitos dos sintomas, o número de hospitalizações e de mortes. Dos outros três pacientes que perderam a vida no estado pela doença, dois foram infectados pela variante H3N2, que provocou a pior temporada de influenza nos Estados Unidos dos últimos nove anos, e outro por Influenza A sem subtipo definido.
Familiares da dona de casa G.M. afirmam que ela foi vacinada e 15 dias depois começou a sentir os primeiros sintomas, que vieram com pouca força. “Ela se vacinou em 25 de abril em um posto de saúde do Bairro Jardim Vitória. Em 10 de maio, começou com um quadro de gripe simples, com coriza e tosse leve. Três dias depois, começou a sentir falta de ar durante a noite. Quando acordou, a levamos a um hospital. Lá, fizeram raio-x do tórax, mas o exame não mostrou nada”, explicou um parente, que preferiu o anonimato.
Quando voltou para casa, a dona de casa começou a sentir sintomas mais fortes. “Pouco tempo depois, começou a sentir falta de ar. Voltamos para o hospital, e ela já foi levada para a sala de emergência, onde foi entubada e passou por novos exames. No fim da tarde, chegou a conclusão e o diagnóstico era a infecção por Influenza A”, contou. “O quadro dela se agravou rapidamente. Os médicos tentaram de tudo, mas os órgãos foram atingidos em questões de horas. Ela acabou morrendo na manhã de terça-feira (15 de maio), por falência de órgãos”, concluiu o familiar.
A Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte confirmou que a paciente já havia sido vacinada, mas descartou qualquer relação do quadro com a dose recebida por ela. “O óbito da moradora da capital não tem relação com complicações nem com falta de proteção da vacina contra a gripe. Trata-se de mulher de 63 anos, vacinada para influenza no dia 25/4. Ela pertencia ao grupo prioritário para vacinação, devido à sua faixa etária e comorbidade (doença associada)”, informou, por meio de nota. “O intervalo de tempo entre a administração da vacina e o início de sintomas foi curto (inferior a duas, três semanas). Dessa forma, a paciente provavelmente ainda não havia desenvolvido proteção adequada contra os vírus dessa vacina”, completou.
A vacina contra a gripe está disponível nas unidades básicas do Sistema Único de Saúde (SUS) para o público prioritário (veja quadro) e contempla os principais vírus que circulam pelo território nacional. Mas a imunização contra a gripe, como todas as outras, não é 100% eficaz. De acordo com a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES/MG), em adultos saudáveis a detecção de anticorpos protetores contra os vírus se dá entre duas a três semanas após a vacinação. A proteção dura entre seis e 12 meses. A eficácia, segundo o órgão, fica entre 50% e 85%. “Os anticorpos produzidos após a vacinação podem ser afetados por vários fatores, como a idade do indivíduo, a exposição prévia à doença e por condições que alteram a resposta imunológica”, informou a pasta, também por meio de nota.
Especialistas fazem defesa da imunização
Mesmo não tendo 100% de eficiência, especialistas ressaltam a importância da vacinação. “Quantas pessoas tomaram a vacina nos últimos anos e não tiveram nada? A eficácia é de quase 100%. As doses estão prevenindo muitas complicações de pessoas que vêm tomando”, alertou o infectologista Dirceu Grego, do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Ele ressalta que a população acima de 60 anos também deve lembrar de atualizar o cartão com a vacina pneumocócica, que vale por quatro anos e previne contra pneumonia.
Já o médico Guilherme Donini Arniato, especialista em clínica médica do Hospital João XXIII e da Santa Casa, afirma que a vacina da gripe ameniza os efeitos nos pacientes. “A vacina de fato reduz a mortalidade e o número de hospitalizados por pneumonia. Temos que lembrar que a vacina protege contra três vírus, que são os que mais circulam no Hemisfério Norte, o H1N1 o H3N2 e o Influenza B”, disse.
A Secretaria de Estado da Saúde explica ainda que uma pessoa vacinada pode contrair uma das variações da influenza “ou por já ter sido exposta previamente ao vírus antes da vacinação; ou porque o vírus não é nenhum dos contemplados na vacina; ou pela não produção de anticorpos protetores (situação que acontece de forma individual)”. “Contudo, se uma pessoa for vacinada contra a influenza e mesmo assim contrair a gripe, o quadro será menos grave e o aparecimento de complicações será menos provável”, acrescentou.
CASOS
A Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte confirmou que dois pacientes morreram na capital vítimas da gripe. Além da dona de casa G.M.C.P., outra pessoa, que não teve o nome divulgado, perdeu a vida depois de ser infectada pelo vírus H3N2. A vítima é moradora de outro município, mas recebia atendimento em uma unidade hospitalar de BH.
O mesmo vírus, que se espalhou pelos Estados Unidos e atingiu milhares de pessoas, já havia matado um morador de Paraguaçu, no Sul do estado. Além desse caso, a secretaria registrou morte causada pelo Influenza A em Uberlândia, no Triângulo Mineiro, porém não foi especificado qual subtipo de vírus infectou o paciente. O último balanço da Saúde estadual foi divulgado em 14 de maio e não continha os óbitos registrados em BH.
Febre amarela
Na epidemia de febre amarela que atingiu Minas Gerais na temporada 2017/2018, casos de pessoas que receberam a vacina e contraíram a doença foram registrados. Uma comissão, com participação do Ministério da Saúde, está investigando 11 diagnósticos da doença em pessoas com histórico vacinal. Está sendo feito levantamento de informações clínicas e epidemiológicas dos pacientes. A Secretaria de Estado da Saúde ressalta que a vacina da febre amarela tem eficácia de 95% a 98%, “considerada altamente eficaz e segura na prevenção da transmissão do vírus”.
PROTEJA-SE
VACINAÇÃO
As doses que compõem a campanha de vacinação estão disponíveis pelo SUS para crianças de 6 meses a 5 anos; adolescentes e jovens de 12 a 21 anos de idade em medidas socioeducativas; gestantes; mulheres até 45 dias depois do parto; mulheres e homens com 60 anos ou mais; trabalhadores da área de saúde; povos indígenas; pessoas privadas de liberdade; portadores de doenças crônicas e outras condições clínicas especiais que comprometam a imunidade; e professores de escolas públicas ou privadas.
INFORMAÇÃO SEGURA
Saiba o que é mito e o que verdade sobre a gripe e a vacina contra a doença
MITOS
1. É possível pegar gripe pela vacina?
Não. A vacina contra a gripe é feita com o vírus morto. Portanto, é 100% segura e incapaz de provocar a doença nas pessoas que são vacinadas.
2. Em gestantes, a vacina faz mal para o bebê?
Pelo contrário. É muito importante a vacinação das grávidas, pois quando a mãe é vacinada o bebê também
fica protegido.
3. A única forma de prevenir a gripe é tomando a vacina?
A vacina contra a gripe é a melhor e mais segura forma de se proteger contra a doença, porém, existem outras medidas importantes que ajudam na prevenção:
•Lavar e higienizar as mãos com frequência
•Não compartilhar objetos de uso pessoal, como talher, copo e garrafa
•Evitar tocar mucosas do olho, nariz e boca
•Ter boa alimentação e beber bastante líquido
•Evitar contato com pessoas que estejam com sintomas da gripe
•Manter a casa bem arejada
VERDADES
1. É preciso tomar a vacina todos os anos?
Sim. Por dois motivos: primeiro, porque a imunidade da vacina se mantém por um período de aproximadamente 12 meses; segundo, porque a cada ano há vírus diferentes circulando, que causam tipos diversos de gripe. A fórmula é produzida a partir dos que estão mais propensos a aparecer durante o período de vacinação.
2. A gripe pode matar?
Se não for tratada a tempo, a gripe pode causar complicações graves e levar à morte, principalmente nos grupos de alto risco, como pessoas com mais de 60 anos, crianças menores de 5 anos, gestantes e doentes crônicos.
3. Gripe e resfriado são doenças diferentes?
Embora os sintomas sejam muito parecidos, os vírus que causam a gripe e o resfriado são diferentes. A gripe é uma doença mais grave, que causa febre alta, dores musculares, dor de cabeça, dor de garganta e exige mais cuidados para não provocar pneumonia. Já o resfriado é mais brando e dura menos tempo.
Fonte: Ministério da Saúde