Falta de manutenção e imprudência são responsáveis pelo recolhimento de seis veículos, diariamente, no Anel Rodoviário de Belo Horizonte. No ano passado, 2.398 carros, motos e caminhões foram multados pela Polícia Militar Rodoviária (PMRv) e levados para os pátios do Detran após apresentarem falhas capazes de provocar acidentes e mortes na via.
O número é quase cinco vezes maior que os 514 removidos em 2016. Má conservação de pneus, desgaste de pastilhas de freios e faróis danificados são os principais problemas detectados, que aumentam os riscos de se trafegar em uma rodovia já sucateada. Documentação irregular também é motivo para a retirada de circulação.
Para especialistas, o aumento se deve à crise financeira enfrentada em todo o país. “Sem dinheiro, as pessoas começam a adiar manutenções e utilizar os veículos por mais tempo. Os pneus passam a ser usados sem que tenham condições para isso, e lâmpadas ficam mais tempo queimadas”, afirma o consultor em transporte e trânsito, Osias Batista Neto.
As falhas não são específicas de veículos de passeio. Luciano Medrado, da área de Relações com o Mercado do Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas de Minas Gerais (Setcemg), diz que a frota de caminhões é considerada cada vez mais velha, com uma média de 18 anos. “Com a crise, muitos estão adiando a compra de um veículo novo, fazendo vista grossa na manutenção. Isso é um risco enorme, pois pode causar defeito mecânico e colocar vidas em risco”.
Mais rigor
Para coibir a circulação de carros com defeitos pelo Anel Rodoviário, a PMRv garante ter intensificado a fiscalização. Em 2017, foram 4.847 ações, contra 4.240 em 2016 – um acréscimo de 14%. Só nos primeiros três meses deste ano, o número chegou a 1.706. Uma das operações que tem se tornado rotineira é a Carga Pesada, que verifica o estado de conservação de vários itens, como freio, pneus e carroceira.
De acordo com o comandante de policiamento da rodovia, tenente Pedro Henrique Barreiros, os motoristas são autuados e precisam sanar as irregularidades para ter o veículo de volta. Além da multa, é cobrada uma taxa por cada dia que o automóvel fica parado no pátio.
“Intensificamos a fiscalização porque a frota vem crescendo e, consequentemente, os riscos de acidentes. Fazemos operações tanto educativas quanto repressivas”, afirma o policial. No ano passado, foram aplicadas 23.640 multas a condutores, uma média de 65 por dia. De janeiro a março de 2018, foram 6.076. Além dos problemas nos próprios veículos, Barreiros destaca flagrantes de motoristas usando o celular ou sem cinto de segurança.
A imprudência, inclusive, ainda é um dos principais motivos dos acidentes, reforça o presidente do Instituto Brasileiro de Segurança no Trânsito, David Duarte Lima. “As pessoas precisam se conscientizar que o custo da vida é muito mais alto do que o investimento em segurança”.