“Minha Marrentinha, oh meu anjo, volta pra mamãe, não deixa ela ir, oh meu Deus”, gritava a mãe de Ana Clara inconsolável no cemitério de Janaúba.
Aquele era o momento que Luana Ferreira vinha guardando desde a morte da filha sem poder sentir essa dor, pois estava na beira do leito das outras duas filhas hospitalizadas e transferidas para Montes Claros. Luana sequer trocou de roupa entre essa quinta, no hospital, e esta sexta, no enterro. O irmão gêmeo de Ana Clara era o único que não estava na creche no momento da tragédia por causa de uma conjuntivite.
Logo em seguida, no mesmo cemitério, foi o enterro de Ruan Miguel, filho único de Janiqueli Silva, que nem aguentou ver o caixãozinho ser levado para a cova. “Oh dozinha, meu menino morreu, ele estava brincando tão alegre”.
Ao se despedirem dos filhos no momento mais cruel, de fechamento do caixão, as mães precisaram ser amparadas e é com a solidariedade do povo de Janaúba que elas estão conseguindo se manter de alguma forma nesse dia inexplicável na cidade.
Despedida
A professora Heley Batista está sendo velada em caixão fechado na funerária da cidade, onde muitas pessoas chegam para a última despedida. Cerca de 100 pessoas estão no local neste momento, mas muitas ainda estão chegando. O enterro da professora está marcado para 16h.
Inconsolável, o marido de Heley não saiu do lado do caixão. Chorando muito, ele está sendo consolado pelos moradores da cidade.
A mãe da professora também está grudada ao caixão, lamentando a morte da filha como quem sente uma dor profunda. “Minha filha tão linda, com um bebê tão novo, ai meu Deus, eu não aguento isso não”, diz a mãe da professora Valda Terezinha, enquanto abraça o caixão fechado, alisa como quem quer tocar na filha. Heley deixou uma filha de 1 ano e 3 meses.
Esta manhã, quem olha nos olhos dos moradores de Janaúba percebe que não há ninguém que não esteja com os olhos vermelhos, inchados.
CRECHE NÃO TINHA EXTINTOR
Inaugurada no ano 2000, a creche municipal Gente Inocente, onde sete crianças e uma professora morreram queimadas, não tinha extintor, sistema anti-fogo e nem alvará do Corpo de Bombeiros. A prefeitura afirma que, agora, vai mapear todos os prédios públicos.
O coronel Primo Lara de Almeida, do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, afirmou que o imóvel, antes, era usado como residência e sempre funcionou sem alvará. “A creche tem 200 metros quadrados e a necessidade do combate a incêndio era de projeto técnico simplificado”, disse. “Não havia sinalização de emergência, extintores, nem monitoramento de brigada.”
Por volta das 9 horas de quinta-feira, 5, o vigilante Damião Soares dos Santos, de 50 anos, entrou na unidade, atirou material inflamável contra as crianças e no próprio corpo, e ateou fogo, que se alastrou rapidamente. Em meio ao tumulto, as pessoas tentavam apagar o incêndio com baldes de água e resgatar as vítimas das chamas e da fumaça.
“Por causa da dinâmica de como as coisas aconteceram, independentemente de ter todo o aparato, o resultado seria o mesmo, porque a queima foi muito rápida”, disse Almeida.
Segundo o coronel, a prefeitura de Janaúba solicitou aos Bombeiros, após a tragédia, que vistoriassem todos os prédios municipais. A prefeitura confirmou a informação.
“Para ele (o prefeito), estava tudo ok, porque já vinha de outras gestões”, afirmou Almeida. “Infelizmente, no Brasil, só depois que acontece o fato é que vai correr atrás.”
“Tenho a tranquilidade de dizer que não me pesa nenhuma culpabilidade pelo que aconteceu. Isso vem desde 2000 (ano de inauguração da creche)”, afirmou o prefeito de Janaúba, Carlos Isaildon Mendes (PSDB).
“O cidadão de Janaúba percebe o esforço que estamos fazendo para recuperar a cidade e trabalhar”, disse. “Muito embora haja o pesar de uma tragédia tão grande como essa, naturalmente isso vai servir de lição não só para Janaúba, mas para o Brasil inteiro.” (informações da Agência Estado e O Tempo)