Estado de Minas
Vir de família humilde e passar por dificuldades financeiras não foram os único obstáculos enfrentados pela cearense Rayanna Gomes, de 27 anos. Há dois anos, a jovem estudante do curso de Serviço Social descobriu um linfoma no pulmão. Diante do diagnóstico, não se entregou. Lutou pela vida e ainda encontrou tempo e energia para ajudar outras pessoas.
Em um momento tão delicado, Rayanna reuniu forças para reviver um sonho que fazia parte da sua vida desde os 12 anos de idade. “Durante o meu tratamento, convivi com muitos assistentes sociais. Observando o dia a dia dessa profissão, decidi que iria seguir o meu sonho e me matriculei na graduação de Serviço Social na Faculdade do Vale do Jaguaribe (FVG)”, contou.
Hoje, a estudante venceu a doença e não precisa fazer mais do tratamento de quimioterapia. Porém, isso não faz com que ela deixe de ser uma paciente oncológica. Para garantir que a doença não volte, ela precisa ficar em observação durante cinco anos. “Em 2016, eu não tinha nenhuma chance de sobreviver, mas estou aqui e sou extremamente grata por isso, todo os dias”.
Unindo o amor pelo Serviço Social com a sua história de vida, Rayanna percebeu que também poderia ajudar outras pessoas antes mesmo da formatura. Na época do seu tratamento, ela conheceu a arte terapia e decidiu que usaria essa forma de tratamento para dar dicas de português e de como organizar os estudos. “Gosto muito de estudar e sou muito organizada para isso, todo mundo comenta. Então vi no Instragram uma oportunidade para começar a divulgar algumas dicas”, conta.
Dicas de português são as mais encontradas em sua conta no Instragram intitulada de @estudaraay. “Essa disciplina faz parte da nossa vida e, mesmo assim, é uma língua muito complicada e que muda constantemente”, disse Rayanna. Além disso, ela também dá algumas dicas de estudo, como por exemplo, o uso de cores para melhorar o desempenho. “As cores auxiliam na memorização, por esse motivo, utilizo tanto”, explica.
Mesmo com tanta superação, a vida de Rayanna nunca foi fácil. Filha de pai aposentado e mãe dona de casa, a estudante não está mais recebendo o auxílio-doença, um direito por ser paciente oncológica. “Desde o mês passado, que não recebo mais o auxílio. Isso tornou tudo mais difícil. Sou de família humilde, ajudo até no aluguel da minha casa”. Além dos gastos com moradia, a estudante assume despesas de alimentação, remédios, passagem até Fortaleza cidade em que faz seus exames além da mensalidade da sua graduação.
Com o corte do seu auxilio, Rayanna está com dificuldade para arcar com a mensalidade do seu curso de Serviço Social. “Tenho uma bolsa de 50% de desconto que foi ofertada pela minha faculdade mas, mesmo com esse desconto, ainda está pesando no meu orçamento”. Diante da dificuldade, Rayanna decidiu lutar para ingressar em uma faculdade pública e seguir servindo ao próximo de acordo com sua possibilidade e generosidade. “Do meu sonho eu não vou desistir. Vou concluir a minha graduação de qualquer forma. E, um dia, ainda quero trabalhar no Instituto onde fiz todo meu tratamento. Além disso, pretendo continuar estudando, fazer uma especialização e garantir que meus pais tenham uma vida digna. Quero retribuir tudo que eles já fizeram por mim”.
Nayara Nobre, 30 anos, é formada em Serviço Social e professora da Faculdade do Vale do Jaguaribe (FVG). Antes, professora de Rayanna. Hoje, melhores amigas. “Eu lembro até hoje da primeira vez em que vi Rayanna na faculdade. Ela estava próxima a quadra e usava um turbante. Pouco depois, descobri que ela seria minha aluna”, relembra. Nayara contou que Rayanna sempre foi um exemplo. “Ela é uma aluna nota 10”, assegurou.
Para Nayara é muito doloroso saber que a amiga não poderá mais continuar na faculdade, mas torce pelo sucesso de Rayanna e deseja que ela seja muito feliz na profissão que escolheu. “Saber que ela fortaleceu seu desejo por cursar Serviço Social ao ver a atuação dos profissionais da área, me deixa extremamente orgulhosa. Tenho certeza que ela vai vencer toda essa dificuldade. Ela é uma pessoa muito dedicada”.
Nayara trabalha na área desde 2012 e, há três anos, é docente. “Na minha opinião, Serviço Social é o único curso que tem um poder tão transformador. A graduação nos permite ter uma visão diferenciada do mundo. Quem entra nessa área se torna outra pessoa, sempre melhor”, conclui.