Mais de 10,6 mil casos de violência foram registrados em escolas da rede pública e particular de Minas Gerais de janeiro a junho deste ano, de acordo com levantamento da Secretaria de Estado de Segurança Pública . Os tipos mais frequentes são furto (28,2%), ameaça (9,1%) e brigas (7,9%).
O dado também inclui situações de lesão corporal, dano ao patrimônio, desacato, injúria e atrito verbal envolvendo estudantes, trabalhadores da educação e outras pessoas com acesso às instituições de ensino.
Registros de crimes em instituição de ensino
Belo Horizonte | Minas Gerais | |
2016 | 4.367 | 30.423 |
2017 | 4.230 | 26.995 |
2017 (jan a jun) | 2.019 | 12.913 |
2018 (jan a jun) | 1.759 | 10.602 |
Principais naturezas de crimes em instituições de ensino em2018
Belo Horizonte | Minas Gerais | |
Furto | 24,9% | 28,2% |
Ameaça | 8,9% | 9,1% |
Briga | 6,3% | 7,9% |
Relatos de xingamentos em sala, alunos exaltados e de desrespeito a colegas e professores não são incomuns, e há episódios extremos que resultam no encaminhamento dos envolvidos pela polícia. Foi o que aconteceu quando um adolescente de 14 anos portava uma faca na Escola Estadual Amélia Josefina Kessen, no bairro Nova Suíça, Região Oeste de Belo Horizonte.
“Ninguém se feriu, porque agimos antes e a polícia interveio. Um aluno novo teve uma rixa com outro e chegou na porta da escola com uma faca. A notícia chegou aqui para gente e chamamos a Polícia Militar”, contou a diretora Simone Marinho, 47 anos, sobre uma ocorrência registrada no início do ano.
Ainda segundo a diretora, infelizmente não foi a primeira vez. “Com ocorrência policial, que chegam ao extremo, são duas ou três durante o ano”, disse. A escola viu necessidade de debater o assunto e promove grupos de diálogo sobre violência com a participação de docentes, pais e alunos.
A professora de língua portuguesa Kátia Martins é uma das participantes e já vivenciou conflitos no ambiente escolar. “Várias vezes ocorre agressão verbal na sala de aula. Palavrões que você leva um choque. Às vezes, os meninos estão com algum problema ou acabam transferindo para o ambiente escolar o tratamento que recebem fora”, disse a professora, que já repensou sobre a carreira em alguns momentos por causa do desrespeito.
Para ela, que leciona na escola há 11 anos, a criação de vínculos e falar sobre o assunto ajudam a contornar o problema. “Tem que ter controle e lembrar que você é o adulto naquela hora para não piorar a situação. Procuro sempre buscar a conversa e a conciliação. É o que tem dado resultado”, disse.
O levantamento aponta queda no número de casos de violência no comparativo entre o primeiro semestre de 2018 – com 10.602 ocorrências – e o mesmo período de 2017, quando foram registrados 12.913 casos. A redução é de 17,9%.
Durante todo o ano de 2017 foram contabilizadas 26.995 situações de violência em escolas, enquanto foram 30.423 casos em 2016. Conforme dados da secretaria, a queda foi de 11,27%.
Ao considerar somente registros em Belo Horizonte, foram 1.759 casos de violência em escolas no primeiro semestre de 2018, contra 2.019 no mesmo período de 2017. As situações mais comuns também foram furto, ameaça e brigas, nesta ordem. No comparativo entre 2017 (4.230 casos) e 2016 (4.367), os dados oficiais mostram redução de 3% de um ano para outro.
Segundo a secretaria, para o levantamento, foram consideradas instituições de ensino municipal, estadual, federal, particular e creches.
Atividades educacionais
Para que a violência deixe de ser uma realidade nas escolas, a Polícia Militar mantém atividades educacionais em sala de aula, orientando jovens sobre cidadania e resistência à oferta de drogas e à criminalidade. A porta-voz da corporação, major Flávia Santiago, chama a atenção para o papel da família na formação das crianças e adolescentes e neste processo de conscientização.
“Infelizmente, nós vivemos hoje um problema de muitos adolescentes, que por causa da fragilização dos valores dentro da família, acabam por desrespeitar e ameaçar professores, fora do âmbito do questionamento saudável”, disse.
Segundo ele, é estabelecido um modelo de proximidade com a comunidade escolar e os professores contam com a presença policial. Na área externa, a atuação de prevenção e repressão se dá com a Patrulha Escolar, que faz o policiamento no entorno e pode intervir, por exemplo, numa situação de briga na saída da aula.
O programa Núcleos de Orientação e Solução de Conflitos Escolas (Nós), colocado em prática pela Escola Estadual Amélia Josefina Kessen, é outra iniciativa. Este surgiu da assinatura de um termo entre o Ministério Público de Minas Gerais, governos municipal e estadual, Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) e a faculdade de direito da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
O Nós prevê a participação de todos os atores envolvidos no conflito – agressor, vítima e comunidade – na resolução dos problemas, como alternativa ao encaminhamento formal de crianças e adolescentes ao sistema de Justiça.
De acordo com a Secretaria Municipal de Educação de Belo Horizonte, núcleos foram implementados em 138 escolas do ensino fundamental e a expectativa é estender a todas as 174 unidades no segundo semestre deste ano. A adesão é espontânea.
Mais de um caso por dia em BH
Ao considerar somente escolas municipais em Belo Horizonte, a média supera um caso de violência por dia, com base em dados da Guarda Municipal. De janeiro ao início de julho deste ano, a corporação registrou 152 casos de dano, briga, ameaça, lesão corporal, perturbação e desacato dentro do ambiente escolar.
O número evidencia situações de conflito durante uma média de 100 dias letivos. Os casos em que o professor é vítima totalizam 11 no período.
Em todo o ano de 2017, foram 424 ocorrências, sendo que em 23 delas um professor foi alvo.
“Como eles [estudantes] são menos de idade é considerado ato infracional e são encaminhados até a Ciaa [Centro Integrado de Atendimento à Criança e Adolescente] e um juiz vai gerar uma sanção ao aluno, a qual pode atingir os responsáveis”, disse o coordenador da Patrulha Escolar da Guarda Municipal, subinspetor Hudson Candeia.