O suor da careca de Alisson ajudou a desviar a cobrança de falta de Luan, aos 47 minutos do segundo tempo da noite de terça-feira, quando a esperança já começava a se esvair entre os 48 mil gremistas na Arena. O “espírito” do Grêmio ao buscar o 2 a 1 sobre o Estudiantes no fim do jogo e conquistar a vaga às quartas de final da Libertadores nos pênaltis fez lembrar tempos nos quais as vitórias vinham mais na vontade do que na bola.
O grupo atual, vencedor, não é livre de erros. Mas já mostrou que sabe incorporar este DNA do Tricolor à qualidade técnica quando necessário. A palavra mais ouvida após o jogo foi “coragem”. De Renato, ao escalar o time com seis atacantes no segundo tempo. Dos jogadores, ao não desistirem. De André, ao não se abalar com a reserva e garantir a classificação no último pênalti.
A tensão na Arena era quase palpável, especialmente na parte final. Mesmo com uma pressão sufocante, aos gremistas parecia que o lance da partida seria o chute de Jael, quase da marca do pênalti, que foi desviado pelo pé de Schunke e ainda resvalou na trave.
Porém, Alisson apareceu como um raio aos 47 minutos para desviar cruzamento de Luan e dar a possibilidade da disputa nos pênaltis. O gol do desafogo veio na bola parada, depois de Renato fazer substituições que deixaram o Grêmio com seis atacantes em campo.
Muda o formato, mas com consciência
A partir dos 33 minutos do segundo tempo, Everton, Luan, Alisson, André, Jael e Pepê estavam juntos em campo. A blitz tinha Maicon no meio-campo e Geromel, Kannemann e Cortez em uma linha mais defensiva. Pepê passou a ser uma espécie de ala-direito, com Everton pela esquerda. André e Jael se uniram como centroavantes, com Alisson e Luan mais recuados. O Estudiantes não esboçava nenhuma vontade de deixar sua própria área.
– É importante porque você vai enrolando o adversário. Ele não sabe o que você vai fazer. Conseguimos fazer isso e ainda não fomos atacados. Então, foi a vitória da coragem. Fizemos mudanças táticas, mas mesmo assim fechando os espaços do adversário e tendo consciência, paciência para buscar o resultado – explicou Renato.
– Precisávamos do resultado. O professor colocou o time para frente, eu, Pepê, André. Às vezes o Pepê foi na lateral, às vezes eu fui, às vezes o André foi de volante. Todo mundo vai se ajudando, um lutando pelo outro, fez a gente conseguir essa classificação – apontou Alisson, um dos heróis da noite.
“Da coragem, da luta, de acreditar. Este espírito guerreiro, copeiro do Grêmio. Isso tudo teve um pouquinho” (Geromel)
O Estudiantes… Bem, o Estudiantes foi um coadjuvante na partida. Marcou, e muito, se defendeu e se dedicou. Mas não jogou. Deu três chutes no gol, contra 25 finalizações do Grêmio, que teve a bola em 76% do tempo, conforme as estatísticas da Conmebol. Foram 661 passes dos gaúchos contra apenas 104 dos pinchas.
Euforia nos corredores da Arena
O gol de Alisson já fez pulsar os corredores da Arena. Mas foi a cobrança de André, a última dos pênaltis, a responsável por fazer o ex-presidente e atual vice de futebol Duda Kroeff vibrar com gritos de “imortal” na zona mista.
– É um grupo trabalhador, vencedor. Andamos nas ruas e ouvimos que o torcedor tem orgulho da gente, fica ansioso para nos ver jogar de novo. Mudamos a forma como o Grêmio joga. Todo mundo foi merecedor, mas o André… Isso aí que fortalece o grupo. A gente vai lutar. Tenho certeza que o professor (Renato) tem muito orgulho, a diretoria, junto com o presidente, que nos momentos mais difíceis nunca viraram as costas para a gente – desabafou Maicon.
Se na Copa do Brasil os minutos finais foram de dor, com o gol sofrido para o Flamengo no primeiro jogo das quartas de final, na Libertadores trouxeram lágrimas de alegria. Deixam o Grêmio na competição que ainda reina na América do Sul. O próximo adversário será o Atlético Tucumán, outro argentino, em datas a ser confirmadas.