A ingestão de bebida alcoólica tem causado um número expressivo de mortes no planeta, alerta a Organização Mundial da Saúde (OMS). Segundo relatório da agência, o álcool é responsável por cerca de 3 milhões de mortes anualmente, o equivalente a uma a cada 20. A quantidade é maior que a soma dos óbitos em decorrência da Aids, da tuberculose e da violência no mesmo período.
“Muitas pessoas – suas famílias e suas comunidades – sofrem as consequências do consumo nocivo do álcool, seja pela violência, por problemas de saúde mental e por doenças como câncer e derrame”, advertiu o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, em um comunicado. “É hora de fazer mais para prevenir essa séria ameaça ao desenvolvimento de sociedades saudáveis”, acrescentou.
Conforme a faixa etária, o impacto da substância pode ser ainda maior. Considerando a população em geral, o álcool responde por 5,3% das mortes anuais. Tomando como base os mais jovens, na faixa etária entre 20 e 29 anos, a taxa sobe para 13,5%, estima a OMS. Os homens são as principais vítimas: correspondem a 75% dos óbitos registrados.
Das 3 milhões de mortes atribuíveis à bebida, 28% estão relacionadas a acidentes de trânsito, violência, suicídios e outros atos violentos; 21%, a distúrbios digestivos; e 19%, a doenças cardiovasculares. Os óbitos restantes são atribuídos a doenças infecciosas, cânceres, transtornos mentais e outros problemas de saúde – mais de 200 doenças estão ligadas à ingestão da substância.
Pode piorar
Os dados divulgados pela agência correspondem ao ano de 2016. Quatro anos antes, o número de vítimas foi ainda maior: 3,3 milhões. A OMS reconhece que tem ocorrido “algumas tendências globais positivas”, como a redução de mortes desde 2010 e do consumo episódico, mas alerta, no relatório, que “o peso global das doenças e dos danos causados pelo consumo nocivo do álcool é inaceitável, particularmente na região da Europa e na região das Américas”.
A OMS prevê, inclusive, o aumento no consumo global na próxima década, em especial no sudeste da Ásia, no Pacífico Ocidental e nas Américas. Bebidas alcoólicas são ingeridas por mais da metade da população nas Américas, na Europa e no Pacífico Ocidental.
Os cenários são parecidos quando se considera apenas os consumidores mais jovens. O relatório estima que 27% de todos os jovens de 15 a 19 anos consumam álcool atualmente, sendo que as maiores taxas estão na Europa (44%), nas Américas (38%) e no Pacífico Ocidental (38%).
O consumo médio diário global é 33 gramas de álcool puro, o equivalente a dois copos de vinho (150 ml cada), uma garrafa de cerveja (750 ml) ou a dois shots de destilado (40 ml cada). Segundo a OMS, destilados são os mais consumidos: 45% do total, seguidos pelo álcool puro (34%) e pelo vinho (12%).
Excessos brasileiros
No Brasil, houve redução no consumo de álcool entre os anos de 2010 e 2016. A ingestão anual caiu de 8,8 litros por indivíduo por ano para 7,8 litros – a média mundial é de 6,4 litros. Apesar da queda, o hábito é causa de um número considerável de óbitos no país: 6,9% têm relação direta com a ingestão da substância, estima o relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS).
A agência considera que medidas preventivas adotadas nos últimos anos podem ter reduzido o consumo de álcool entre os brasileiros no período analisado, mas acredita que a recessão econômica, que teve início em 2014, pode ter sua parcela de participação na redução. A estimativa dos especialistas é de que a ingestão volte a subir e, em 2025, o consumo chegue a 8,3 litros por pessoa ao ano.
Outro ponto que chamou a atenção dos pesquisadores foi a diferença entre os gêneros. Em 2016, um brasileiro bebia em média 13 litros de álcool por ano. As brasileiras, 2,4 litros. Diferentemente do retrato mundial, a cerveja lidera o ranking de bebidas consumidas no país: 62%, seguida dos destilados (34%) e do vinho (3%).
A agência também ressaltou o impacto do patrocínio de empresas de bebidas a grandes eventos, como a Copa do Mundo. “Esse patrocínio não é alvo que vemos como positivo”, destacou Vladimir Poznyak, representante da OMS.