As regiões metropolitanas de São Paulo e Belo Horizonte têm liderado a criação de postos formais de trabalho no país ao longo dos últimos 12 meses. O desempenho desses dois locais contrasta com boa parte do restante do Brasil e indica que a lenta retomada do mercado de trabalho é bastante desigual pelo país.[pro_ad_display_adzone id=”44899″ align=”right”]
Nos 12 meses acumulados até setembro, foram abertas 46 mil vagas com carteira de trabalho em São Paulo e 43,5 mil postos em Belo Horizonte. Os números foram compilados pelo Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), com base nos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).
“A criação de empregos em São Paulo e Belo Horizonte estava estagnada até julho”, afirma o pesquisador de economia aplicada do Ibre/FGV Daniel Duque. “Em agosto e setembro, começou a haver um crescimento do emprego nesses dois locais.”
As duas regiões, segundo de Duque, têm um elevado número de pessoas ocupadas e, portanto, é natural que elas se destaquem em momentos de alívio no emprego.
O engenheiro Gustavo Benedini sentiu esse movimento do mercado de trabalho em São Paulo. Em novembro de 2017, foi demitido de uma fabricante de ônibus e só voltou a ter emprego em agosto, mês em que foi contratado por uma montadora no ABC paulista.
“Logo que fui demitido já comecei a procurar emprego. Senti que o mercado ficou aquecido até março, abril, com as empresas me chamando para entrevistas. Depois, os contatos diminuíram”, diz Benedini. “Só consegui me recolocar em agosto, mas por um salário mais baixo do que ganhava.”
A compilação dos dados do Caged também deixa evidente a dificuldade de algumas regiões para recuperar o mercado de trabalho local. Enfrentando uma severa crise fiscal, o Rio de Janeiro tem o pior resultado do país. Em 12 meses até setembro, foram destruídas 20,6 mil vagas.
“A situação do Rio continua ruim, mas ela já foi pior”, afirma Duque. No início do ano, por exemplo, nos 12 meses encerrados em janeiro, a região chegou a acumular o fechamento de 88 mil postos. Na avaliação do pesquisador, o saldo de emprego deve voltar a ficar positivo no Rio no início do próximo ano.
Mercado de trabalho ainda está fraco
Desempregados fizeram fila em mutirão de emprego no Vale do Anhangabaú, Centro de São Paulo — Foto: Werther Santana/Estadão Conteúdo
Embora o Brasil tenha voltado a criar vagas formais, o retrato do mercado de trabalho é de decepção. No início do ano, bancos e consultorias chegaram a prever que o Caged encerraria 2018 com saldo positivo de 1 milhão de postos. Hoje, as projeções são bem mais modestas.
“De fevereiro até julho, houve pouca criação de vagas no país”, diz o economista do banco Santander Lucas Nóbrega. “Os dados dos últimos meses até são animadores, e a gente espera que o país crie entre 400 mil e 500 mil vagas de emprego neste ano.”
Em setembro, o Brasil abiu 137,3 mil postos com carteira assinada. Foi o melhor resultado para o mês em cinco anos. No acumulado do ano, o país acumula abertura de 719 mil vagas formais.
“Os números do Caged têm vindo de fato bem fortes e com sinalização continua de recuperação depois da greve de maio, o que é mais surpreendente ainda”, diz o economista-chefe da consultoria MB Associados, Sergio Vale.
Ele projeta abertura de 600 mil vagas este ano e de até 1 milhão em 2019. “Mas o número do ano que vem está atrelado à condução da economia, especialmente da reforma da previdência”, afirma Vale.