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Salam tem 32 anos. Nascida em Daraa, no sul da Síria, ela é formada em Letras, trabalha como assistente de tradução e é casada com Karam, um engenheiro da computação. Juntos, eles têm três filhos: Riad, de oito anos, Joud, de sete e Yasmin, de cinco. A família vivia tranquilamente até 2011, quando os conflitos por lá os forçaram a sair do país.
O desfecho dessa história está a um chat de distância. A Salam, na verdade, é um robô. Um bot criado pelo escritório brasileiro da ACNUR, a agência da ONU para refugiados, em parceria com o Facebook. O projeto “Me Chamo Paz” (“salam”, em árabe, que dizer “paz”) foi lançado na última quinta (29) e visa conscientizar a população sobre a situação dos refugiados no Brasil e no mundo.
“Nem todo mundo tem a oportunidade de conversar com um refugiado para conhecer a sua história”, disse à SUPER Natasha Alexander, Alexander, chefe da unidade de parcerias com o setor privado da ACNUR no Brasil. “Com a Salam, esperamos que as pessoas possam conhecer a história dela para quebrar as barreiras de informação que podem acabar levando ao preconceito”, acrescenta.
Como a Salam foi criada?
De acordo com a ACNUR, desde 2011 mais de 12 milhões de pessoas deixaram a Síria por conta dos conflitos armados e da guerra civil que se instaurou no país. Até abril deste ano, a Polícia Federal contabilizada que, dos 10 mil refugiados que vivem no Brasil, há pelo menos 3,5 mil sírios.
Para criar a Salam, a ACNUR coletou histórias de refugiadas sírias, que foram usadas para compor a personagem. “Nós ouvimos o relato de cinco mulheres que agora residem em São Paulo e depois validamos com elas a história da Salam”, conta Natasha. De acordo com ela, a Salam personifica um refugiado de maneira geral, já que partes da sua história, da jornada de fuga do país até os problemas de adaptação em uma nova cultura são questões recorrentes para boa parte dos refugiados.
Como ela funciona?
O software responsável pela Salam foi criado por meio de uma parceria entre o Facebook, a UNICAMP e a startup brasileira Nama, e usa inteligência artificial para “aprender”com as interações. “O bot da ACNUR reconhece a demanda dos usuários”, explica à SUPER Eduardo Lopes, gerente de Políticas Públicas do Facebook no Brasil. “Conforme as pessoas começarem a conversar com a Salam, será possível entender quais assuntos eles querem saber – e que ainda não estão no repertório – para tornar a história da personagem ainda mais completa”, completa.
Apesar da assistência burocrática oferecida por órgãos como a ACNUR, um dos problemas enfrentados pelos refugiados é a aceitação da sociedade e a dificuldade em retomar a vida que possuíam antes. “O bot pode aproximar as pessoas das coisas que levaram os refugiados a saírem de seus países, como conflitos armados ou catástrofes naturais”, disse Eduardo. “Ele torna concreto uma coisa que pode ser distante e abstrata”.