A bebê Mayah, de apenas 22 dias de vida, é portadora de uma condição genética e hereditária rara: no couro cabeludo de fios negros, destaca-se um feixe capilar claro, bem à frente da face. A belo-horizontina é a mais nova integrante de uma árvore genealógica da qual a mãe, a avó e o bisavô também fazem parte: todos eles nasceram com mechas despigmentadas. [pro_ad_display_adzone id=”44899″ align=”right”]
Nesta semana, fotos da recém-nascida arrancaram suspiros e provocaram a curiosidade nas redes sociais e grupos de WhatsApp. Afinal, o que causa e o que, de fato, explica essas mechas?
“Na família, apenas dois dos seis filhos do meu avô nasceram com a manchinha. Nós queríamos que Mayah tivesse, mas havia a possibilidade de não acontecer”, contou a mãe da bebê, a publicitária e produtora de eventos Talyta Youssef, 40.
Segundo ela, o burburinho foi imediato: o obstetra do parto humanizado no hospital Sofia Feldman, na região Norte da capital, brincou que ela já havia nascido com luzes no cabelo. “Foi muito engraçado. Todo mundo riu, mas Mayah não se assustou. Ela veio direto pro meu colo”, relembrou.
Nas horas seguintes, a mamãe de primeira viagem passou a receber visitas de funcionárias da limpeza, enfermeiras, fonoaudiólogas e nutricionistas. “Todas souberam da mocinha do cabelo diferente e quiseram conhecê-la”, contou.
Diferença, aliás, que já incomodou a própria Talyta, na infância. Mesmo que chamasse menos atenção (Talyta tem fios castanho-claros desde pequena), a madeixa branca foi motivo de bullying e chateação. “Entendi na escola que eu era diferente e não foi legal. Me chamavam de ‘malhada’ e perguntavam se alguém havia me deixado no leite. Na época, minha reação foi querer tirar isso”, afirmou.
Por sorte, Talyta tirou a ideia da cabeça, excluiu a possibilidade de colorir o feixe claro e manteve a diferença. “Com o tempo, fui percebendo que não havia cura para o que não é doença e assim educarei minha filha. Se depender de mim, ela vai crescer com uma super autoestima, escutando da mãe e do pai que ela é especial”, disse. Mayah é filha do professor de kitesurfing, Maicon Oliveira, 30.
É doença ou não é?
De acordo com Cláudia Márcia de Resende Silva, médica do departamento de dermatologia pediátrica do Hospital das Clínicas (HC-UFMG), a condição da qual Talyta e Mayah são portadoras é chamada de piebaldismo, doença que passa de pai para filho e que afeta a produção de melanina, o pigmento que dá cor à pele.
Segundo ela, a síndrome dura por toda a vida e não tem ‘cura’: um tratamento possível, além da maquiagem cosmética, é o transplante de epiderme (do próprio corpo do portador). Além da testa e do couro cabeludo, a mancha branca pode aparecer em outras partes do corpo (onde houver a mancha, o pêlo nascerá branco).
Apesar disso, a condição não traz grandes riscos à saúde, mas é necessário redobrar os cuidados relacionados à proteção à exposição solar já que o piebaldismo é um defeito da pigmentação cutânea que impede o bronzeamento.
Dessa forma, queimaduras – com vermelhidão, ardência, dor e até bolhas – são ainda mais perigosas para essas pessoas. “Queimaduras solares na infância aumentam muito a chance de câncer de pele na vida adulta”, explicou. A dica é se proteger em áreas de sombra, com roupas, bonés e, claro, o protetor solar.
Saiba mais
Cláudia Márcia lembra a existência de outra doença que também faz surgirem manchas brancas pelo corpo. Nessa, porém, o risco é maior, incluindo o de surdez.
“A Síndrome de Waardenburg também traz a mancha na testa, mas haverá outras alterações, como na cor da íris. Nesse caso, a criança pode ficar surda. Por isso, é essencial que os pais busquem atendimento com um dermatologista ou geneticista para terem o diagnóstico correto”, finalizou.