Terra
Todo mundo sabe: depois do Natal e do Reveillon, vem o Carnaval. Em Las Vegas (EUA), ele acontece antes do que o brasileiro está acostumado, no começo de janeiro. Por lá, porém, a festa não é centrada nos ritmos do samba, dos trios elétricos e dos bloquinhos, e sim nos maiores delírios tecnológicos do mundo. É entre cassinos e shows que 180 mil pessoas de 155 países se reunem para a Consumer Electronic Show (CES), a mais importante feira de eletrônicos dos EUA e um dos principais eventos de tecnologia do mundo.
Para o público comum, o desfile ocorre entre os dias 8 e 11 janeiro, mas já a partir do dia 6, domingo, anúncios importantes devem acontecer – o dia é reservado para eventos dedicados a jornalistas. São esperados 6,5 mil veículos de comunicação, em busca das novidades tecnológicas apresentadas pelos 4,5 mil expositores – o que inclui quase todos os principais nomes do setor. Só a Apple não participa.
Com o crescimento e a consolidação dos smartphones nos últimos anos, a CES parecia destinada a perder importância, pois os fabricantes conseguiam brilhar mais em eventos próprios ou em feiras dedicadas ao segmento. Na versão 2019, porém, a CES conseguiu se reinventar e promete ser relevante novamente. Hoje, ela aponta para caminhos bem menos óbvios do que os produtos tradicionalmente exibidos nos pavilhões, como televisões gigantes, PCs turbinados e outras traquitanas tecnológicas.
O setor de saúde deve ter destaque, com a presença de inúmeros gadgets e sensores responsáveis por monitorar e diagnosticar condições de saúde. Em setembro do ano passado, o Apple Watch 4 veio com o recurso de monitoramento de batimentos cardíacos. Espera-se que, em Las Vegas, outras empresas devem seguir o caminho. Segundo a Consumer Technology Association (CTA), responsável pela organização da CES, 120 empresas de saúde devem estar presentes – no ano passado, foram 98.
Já as montadoras perceberam que a CES é um excelente palco para demonstrar avanços que vão além de novos modelos, embora algumas carangas experimentais possam dar as caras. É no evento que as marcas apresentam sistemas de entretenimento, sensores, painéis e plataformas por voz – isso sem contar o grande foco nos progressos feitos nos sistemas de direção autônoma. São esperadas 11 montadoras, entre elas Audi, Mercedes-Benz e Hyundai. Em 2018, foram nove.
Atualmente, a importância da CES para indústria automotiva é tamanha que forçou o Salão do Automóvel de Detroit, principal evento das montadoras nos EUA, a mudar de data – a partir de 2020, deixará de ocorrer logo após a CES, como tradicionalmente acontecia, e mudará para o meio do ano. Patinetes elétricas e meios de transporte alternativos, que dispensam veículos, também devem aparecer.
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Já no ano passado, eletrônicos equipados com assistentes de voz foram um dos principais tópicos da CES. Amazon e Google estão disputando gadget a gadget qual das duas ocupará o trono dos dispositivos que respondem a comandos de voz e que são turbinados por sistemas de inteligência artificial. A empolgação faz sentido: segundo um estudo da Adobe, 32% dos consumidores americanos já tem uma caixa de som inteligente, como o Amazon Echo.
Com 20 mil dispositivos já compatíveis com a Alexa, plataforma inteligente da Amazon, e outros 10 mil com o Google Assistant, a CES deve receber uma nova enxurrada de eletrônicos que pensam, ouvem e falam. De geladeiras a lâmpadas, passando por carros, TVs e aparelhos de ar-condicionado. Os fabricantes querem provar que os cérebros de seus produtos evoluíram e que conversar com eles está deixando de ser um truque curioso e desconfortável para tornar-se parte da rotina da casa.
Mundo celular
Embora celulares não sejam o foco da CES, dois temas ligados ao segmento devem ter destaque. Operadoras, como AT&T e Verizon, fabricantes de chips, como Qualcomm, e fabricantes de smartphones, como Samsung, devem promover o 5G. São esperadas demonstrações de velocidades e anúncios de aparelhos compatíveis com as redes de quinta geração. As primeiras redes comerciais, porém, só devem estrear em 2020.
Também são esperadas demonstrações de telas flexíveis para celulares. Em novembro do ano passado, a Samsung apresentou um protótipo em novembro- antes dela, a chinesa Royole havia feito o mesmo. Há rumores de que ambas podem apresentar mais detalhes sobre seus projetos. Outra companhia que pode revelar um painel flexível é a LG – reforçando os rumores está o fato de que a principal apresentação do dia 7 está reservada para I.P. Park, presidente e executivo de tecnologia da LG. O tema da apresentação será “inteligência articial e produtos que evoluem sozinhos”.
Outra expectativa para celulares é a presença de modelos com entalhe no topo da tela, inspirados no design do iPhone X. Alguns desses entalhes também podem ser substituídos por um “buraquinho” reservado para a câmera frontal.
Clássicos
Não é porque a CES tem novo fôlego que o evento deve deixar de fora categorias clássicas. São esperadas TVs de 8K de diversos fabricantes, incluindo Samsung, Sony, LG, Toshiba e Sharp – a LG já se antecipou e apresentou aquilo que considera o primeiro painel 8K de OLED do mundo. A resolução é de 7.680 x 4.320 pixels, no total são 33 milhões de pixels. Impressiona, embora conteúdo em 8K quase não exista hoje em dia.
Da Samsung também é esperada uma TV de microled, que tem longevidade maior que os paineis convencionais de OLED. Além disso, é possível que fabricantes apresentem modelos com conexão HDMI 2.1, que suporta conteúdo em 8K.
No mundo dos PCs, nada muito emocionante: esperam-se novos processadores de Intel e AMD, além de chips gráficos da Nvidia. Os fabricantes como Dell, Lenovo e Asus também devem apresentar modelos com as novidades. Com a febre do 5G começando a tomar conta da indústria, não é loucura imaginar também que surjam modelos com suporte à tecnologia.