Ter um membro da família atrás das grades é uma situação delicada que, muitas vezes, pode trazer diversas complicações, dentre elas, financeiras. Observando que a maioria dos homens que vão presos são provedores do lar e, sabendo de histórias em que seus familiares buscam o Conselho de Segurança para pedir alimentos, a promotora de Justiça de Itabira, Giuliana Talamoni Fonoff, em conversa com o estilista Ronaldo Silvestre, teve a ideia de criar o projeto Costurando Vidas.[pro_ad_display_adzone id=”44899″ align=”right”]
Idealizado em 2017, o projeto agora sairá do papel e pretende profissionalizar mães e esposas de internos do Presídio de Itabira, por meio de cursos de costura e bordado do Instituto Tecendo Itabira (ITI), criado pelo estilista local. O objetivo principal é empoderar e trazer independência financeira para essas mulheres. Para isto, o instituto será responsável por ceder o espaço para as aulas e fornecer materiais e professores para ministrar as aulas.
Inicialmente, serão disponibilizadas 20 vagas que, segundo a promotora, poderão aumentar de acordo com a demanda. Desde o final do ano passado, cartazes estão sendo distribuídos aos presos e seus familiares nos dias de visita, para divulgar o projeto. Márcio Pedro Alves, diretor-geral do Presídio de Itabira, conta que, no último final de semana (16 e 17/2), foram realizadas palestras na unidade, com objetivo de explicar a iniciativa e distribuir as fichas de pré-inscrição aos interessados.
“Estou muito feliz com o projeto e esperançoso de que a ação sirva para demonstrar o nosso desejo de amparar os presos e seus familiares naquilo que proporciona dignidade humana. Sou defensor desta ideia e, como responsável pela unidade prisional, é ideal que eles saibam disto. A ação se reverte em confiança na interlocução com eles, o que facilita o gerenciamento de crises, por exemplo”, diz Márcio.
As primeiras aulas serão focadas no ensino e produção de almofadas, brindes corporativos, bolsas e sacolas ecológicas, sempre pensando em produtos de fácil comercialização. O projeto pretende fechar parcerias com lojas e eventos da cidade, para que os itens sejam vendidos e as mulheres possam obter renda. Todo o material usado será de reaproveitamento de tecido, fios e cordões. O único requisito para participar é ser esposa ou mãe de algum detento do Presídio de Itabira.
Para Giuliana, a iniciativa mostra o outro lado do Ministério Público, fugindo da competência habitual. “A ideia veio por conta da realidade que vivenciamos, em que a família fica dependendo do dinheiro do crime. Então quebramos o vínculo com o crime dando a elas novas oportunidades e fortalecendo a mulher. Eu acredito muito na força da mulher dentro da família, ela é o grande alicerce. Os familiares sofrem na pele com o encarceramento. E também é uma forma de o preso sentir que estamos olhando por ele”, comenta Giuliana.
As aulas começarão no dia 11 de março e acontecerão todas as segundas, quartas e sextas-feiras. O curso terá carga horária de 280 horas.
Instituto Tecendo Itabira (ITI)
Ronaldo Silvestre é um estilista mineiro cujo trabalho é conhecido no Brasil e no mundo. Em 2009 ele fundou o ITI, com a intenção de promover o desenvolvimento social e cultural da cidade. O público-alvo são famílias e mulheres carentes com baixa renda. O ITI realiza diversos cursos e capacitações para essas pessoas com tema como costura, bordado, empreendedorismo e moda.
Em uma reunião de trabalho ele conheceu a promotora Giuliana Talamoni Fonoff e, juntos, começaram a pensar em uma maneira de ajudar estas mulheres a terem uma renda e uma profissão. “São mulheres excluídas da sociedade, que vivem em situação de risco, trabalhando de maneira informal, sem muitas perspectivas de vida”, destaca o estilista.
O projeto prevê a criação de uma linha de produtos chamada “Manufaturas de Itabira”, unindo duas vertentes do desenvolvimento sustentável: o reaproveitamento de tecidos e a geração de renda.