AFP
O fundo soberano da Noruega, o maior do mundo e sustentado com petrodólares, vai abandonar as empresas de petróleo para reduzir a exposição do país escandinavo ao combustível, anunciou o governo norueguês nesta sexta-feira (08/03).
A decisão foi determinada por razões econômicas, e não ambientais, mas a saída de um investidor avaliado em mais de um trilhão de dólares pode ser interpretada como um duro golpe contra as energias fósseis poluentes.[pro_ad_display_adzone id=”44899″ align=”right”]
“O objetivo é reduzir a vulnerabilidade de nossa riqueza comum ante um retrocesso permanente dos preços do petróleo“, afirmou a ministra das Finanças, Siv Jensen, em um comunicado.
A decisão, que afeta as empresas de exploração e de produção de petróleo, foi tomada após uma recomendação neste sentido do Banco Central da Noruega.
A instituição, responsável por administrar o “fundo petroleiro”, provocou uma grande polêmica em novembro de 2017 ao promover uma saída dos valores oriundos do petróleo para reduzir a exposição das finanças públicas a uma queda considerável dos preços como a ocorrida em 2014.
A Noruega é o maior produtor de petróleo da Europa ocidental. O petróleo e o gás natural representam quase metade das exportações e 20% do faturamento do Estado, que enriquecem o fundo soberano, ao qual Oslo recorre para financiar seu orçamento.
Para limitar a vulnerabilidade do Estado, o Banco Central defendia o fim da destinação de parte deste dinheiro a títulos relacionados ao petróleo, como foi decidido nesta sexta-feira (08/03).
No fim de 2018, o fundo possuía 37 bilhões de dólares em ações do setor, com participações de peso na Shell, BP, Total e ExxonMobil, principalmente. A proposta do governo afeta 7,5 bilhões de dólares dos ativos, explicou Jensen.
No momento, o fundo possui o equivalente a 1,4% da capitalização em Bolsa mundial.
Onda expansiva
Como já havia feito o Banco da Noruega, a ministra destacou nesta sexta-feira que a decisão “não reflete nenhuma visão sobre o preço do petróleo, a rentabilidade futura do setor de petróleo e gás e sua durabilidade”.
Para as organizações ecológicas e ativistas da luta contra a mudança climática, no entanto, o anúncio representa uma vitória incontestável, em um momento no qual muitos países parecem pouco envolvidos para cumprir as metas estabelecidas no Acordo de Paris.
“Se isto acontecer no Parlamento vai provocar uma onda expansiva, dando o maior golpe até agora na ilusão de que o setor de energias fósseis ainda tem décadas de atividade pela frente, como se nada tivesse acontecido”, afirmou Yossi Cadan, diretor da ONG 350.org.
“A decisão deve ser recebida como um alerta vermelho para os bancos privados e os investidores, cujos ativos petroleiros e de gás são cada vez mais arriscados e, moralmente, insustentáveis”, completou em um comunicado.
Com os valores em jogo, a retirada deve levar muito tempo, mas estabelecerá um antes e um depois: os investimentos do fundo norueguês são estudados de perto pelos outros investidores.
No passado, o fundo já decidiu abandonar o setor do carvão, tanto por razões financeiras como ambientais.