G1
O Ministério Público Federal de São Paulo (MPF-SP) denunciou pela segunda vez o empresário Wesley Batista pelo crime de insider trading, que é o uso de informações privilegiadas para lucrar no mercado financeiro. A denúncia foi protocolada na Justiça Federal na manhã desta terça-feira (07/05).[pro_ad_display_adzone id=”44899″ align=”right”]
Segundo o MPF, como gestor da Seara Alimentos e Eldorado Celulose, Wesley comandou operações de câmbio das empresas em maio de 2017, quando ainda estava sob sigilo o acordo de delação premiada que ele e o irmão Joesley Batista firmaram com a Procuradoria Geral da República (PGR) e executivos do grupo J&F.
Após a divulgação do teor das colaborações, o dólar teve alta expressiva, o que rendeu ao empresário quase R$ 70 milhões a partir dos contratos de dólar negociados dias antes, afirma o Ministério Público.
A defesa de Wesley foi procurada, mas não retornou até a última atualização deste texto.
O empresário Wesley Batista presta depoimentos às CPI da JBS e do BNDES, em 2017 — Foto: Marcelo Camargo, Agência Brasil
Ainda segundo o MPF, relatórios periciais da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e da PGR demonstraram transações atípicas realizadas pelo grupo.
No caso da Eldorado, os procuradores estimam que a empresa adquiriu contratos de dólar a termo (que já tem um valor futuro pré-determinado e não sofre variações) nos dias 9 e 16 de maio de 2017. O valor total dos contratos foi de US$ 280 milhões, equivalente ao triplo de todo o lucro obtido pela empresa no ano anterior, de acordo com a investigação.
Já a Seara efetuou a compra de US$ 25 milhões de dólar futuro (um contrato para compra da moeda estrangeira que considera ajustes diários do mercado de câmbio) entre os dias 10 e 16 do mesmo mês. A estimativa é que a quantia seja 50 vezes superior à média das operações que a empresa estava realizando no mercado cambial desde o segundo semestre de 2016.
Relembre
- Em 17 de maio de 2017, foi revelado o conteúdo da delação premiada assinada por Wesley e Joesley Batista, da JBS
- Dois dias depois, a empresa admitiu que comprou dólares na véspera do vazamento da colaboração
- Após investigação do Ministério Público sobre o uso de informações privilegiadas na JBS e FB Participações, Wesley foi preso em setembro de 2017. Por causa dessa denúncia, Wesley já é réu por insider trading
- Naquele mês, o irmão Joesley estava preso por supostamente omitir informações da delação
- Em fevereiro de 2018, a prisão de Wesley foi substituída por medidas cautelares
- Além de ações na Justiça, Wesley enfrenta processos administrativos da Comissão de Valores Mobiliários (CVM)
- O MP pediu a rescisão da delação de Joesley e Wesley, que está sob análise do STF. Para o MP, os delatores agiram de má-fé e omitiram informações
Evidências
Na investigação mais recente sobre uso de informações privilegiadas, o MPF diz ter usado mensagens de texto entre Wesley e funcionários, analisadas a partir da apreensão do telefone celular dele, que comprovam que o empresário foi o mandante das operações.
As datas das operações cambiais coincidem com o período entre a celebração do acordo de colaboração premiada, no início de maio de 2017, e a divulgação do seu conteúdo, no dia 17.
Como isso, a cotação do dólar futuro teve alta de 9% no dia 18 de maio do mesmo ano, a maior elevação diária registrada em 14 anos, segundo o MPF. A Procuradoria diz que Wesley Batista sabia impactos que a divulgação causaria na economia do país, como a alta do dólar, e que de beneficiou disso para lucrar.