Em um processo de reestruturação do PSDB, mirando as eleições de 2020, caciques tucanos têm apertado o cerco para a expulsão do deputado federal Aécio Neves, envolto em inúmeras denúncias de corrupção. Na última sexta-feira terminou o prazo “informal” para que o mineiro se licenciasse do partido, mas Aécio não se manifestou. A cúpula paulista da sigla, liderada pelo governador de São Paulo, João Dória, vai levar o pedido de expulsão ao Comitê de Ética do PSDB até quarta-feira, dia 21.
Desde o início do ano, as lideranças paulistas do PSDB tentam convencer, em vão, Aécio a se afastar do partido, ainda que temporariamente. O prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), chegou a ameaçar deixar a legenda, caso Aécio siga filiado. No mês passado, o diretório municipal do PSDB em São Paulo foi mais agressivo ao elaborar uma moção pedindo a expulsão do mineiro, apoiada pelo PSDB do Espírito Santo.
O presidente nacional da legenda, Bruno Araújo, evitou tomar partido e se limitou a dizer, pelo Twitter, que “eventuais representações contra quaisquer filiados do PSDB seguirão a tramitação prevista no Código de Ética”. Lançado em maio deste ano, o novo Código de Ética do PSDB prevê a expulsão de políticos condenados criminalmente ou autores de infidelidade partidária — o documento não cita casos de investigados, como ocorre com Aécio.
Mesmo com uma campanha eleitoral tímida, tendo evitado concorrer ao Senado e fazendo campanha para deputado federal em poucas regiões do Estado, sem eventos públicos, Aécio Neves foi eleito com 106.396 votos. Entre os 53 deputados federais de Minas, foi o 18º mais bem votado. Por causa do resultado nas urnas, para alguns aliados, o mineiro ainda é um dos principais nomes de expressão da legenda.
“O Aécio tem uma história no PSDB. Projetou a carreira de muita gente. Acho que o processo tem que ser amigável, com diálogo, para evitar traumas. E é uma decisão que a (cúpula) nacional saberá tomar”, disse o deputado Paulo Abi-Ackel, que preside o PSDB em Minas Gerais.
Procurada, a assessoria de imprensa de Aécio Neves não comentou o caso e informou desconhecer eventuais prazos dados pela direção do partido para a desfiliação do tucano.
Fogo amigo
O deputado federal Celso Sabino (PSDB-PA), aliado de Aécio e defensor da permanência do mineiro no partido, será o relator do pedido de expulsão.
Após ser notificado, Aécio Neves terá dez dias para apresentar a defesa. Depois disso, o relator também terá dez dias para apresentar o parecer a favor ou contra a saída de Aécio. A decisão final acontece com votação do Comitê Nacional de Ética do PSDB.
Investigações
Aécio Neves responde a nove inquéritos no Supremo Tribunal Federal (STF). Em uma das investigações, o tucano é acusado de pedir R$ 2 milhões a Joesley Batista, um dos donos da JBS, para pagar advogados no âmbito da Operação Lava Jato. Joesley chegou a ser preso por corrupção.
É nesse caso que Aécio afirmou, em áudio vazado pela imprensa, que “tem que ser um que a gente mata ele antes de fazer delação”, em referência a um primo que seria designado a receber o dinheiro solicitado a Joesley.