Depois de três meses em queda, a produção industrial brasileira cresceu 0,8% em agosto, na comparação com julho, segundo divulgou nesta terça-feira (1) o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Trata-se do melhor resultado para meses de agosto desde 2014 (0,9%).
A alta registrada em agosto é também o melhor resultado mensal desde junho do ano passado, quando houve avanço de 12,6%, na comparação com o mês imediatamente anterior.
Segundo o IBGE, a recuperação em agosto foi puxada pela indústria extrativa, que cresceu 6,6% no mês, impulsionada pelo aumento na extração de minério de ferro, petróleo e gás.
“Esse é o crescimento mais intenso desde junho do ano passado e interrompe uma sequência de três meses de queda da produção industrial, que acumularam perda de 0,9%. Portanto, o avanço observado esse mês elimina uma parte importante daquela queda acumulada”, destacou André Macedo, gerente da pesquisa.
Setor ainda tem queda de 1,7% no ano
Apesar de a indústria ter voltado a crescer, o ritmo de recuperação ainda é menor que o registrado no ano passado.
Na comparação com agosto do ano passado, a produção caiu 2,3%. No acumulado nos 9 primeiros meses do ano, o setor acumula queda de 1,7%. Em 12 meses, a produção industrial mostra uma perda ainda maior de ritmo, ao passar de -1,3% em julho para -1,7% em agosto, permanecendo em trajetória descendente iniciada em julho do ano passado.
Em termos de patamar de produção, Macedo destacou que a indústria opera 17,3% abaixo do pico de produção, alcançado em maio de 2011. É como se o setor operasse no ritmo em que se encontrava dez anos atrás.
Para iniciar uma trajetória de crescimento, a indústria também depende, segundo o pesquisador, de uma recuperação efetiva do mercado de trabalho.
“Embora venha sendo capitada uma melhora no mercado de trabalho, a gente ainda tem um contingente grande fora dele. Além disso, a qualidade dos postos gerados caminha mais para informalidade, com salários mais baixos, o que não traz aumento da massa salarial e acaba não contribuindo com a demanda doméstica para que tenhamos impulso na retomada da produção industrial”, observou.
16 dos 26 ramos pesquisados registraram queda
Segundo o IBGE, apenas 10 dos 26 ramos pesquisados registraram alta na produção, o que mostra que a recuperação registrada em agosto foi concentrada em poucas áreas, com destaque para as indústrias extrativas, que avançaram 6,6%, a quarta taxa positiva consecutiva, acumulando ganho de 25,2% nesse período e eliminando a perda de 24,2% acumulada nos rês meses anteriores, em meio aos impactos da tragédia de Brumadinho (MG) na produção da Vale.
Os outros impactos mais relevantes no resultado de agosto vieram dos setores de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (3,6%) e de produtos alimentícios (2%).
Na outra ponta, as maiores quedas foram registradas pelos ramos de veículos automotores, reboques e carrocerias (-3%), confecção de artigos do vestuário e acessórios (-7,4%), máquinas e equipamentos (-2,7%) e produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-4,9%).
Entre as grandes categorias econômicas, bens intermediários foi a única que registrou alta (1,4%), sustentado pelo crescimento das indústrias extrativas.
O pior resultado foi o do setor de bens de consumo duráveis, que recuou 1,8% pressionado pela queda na produção de automóveis. Os segmentos de bens de consumo semi e não duráveis e de bens de capital também ficaram no negativo, ambos com queda de 0,4%.
Das cinco grandes categorias econômicas que compõem o setor industrial, somente a de Bens intermediários registrou alta em agosto (1,4%), segurando a alta da indústria geral.
Recuperação lenta e perspectivas
A indústria tem sido afetada em 2019 pelo ritmo mais fraco de recuperação da economia e também por fatores adicionais como a queda das exportações para a Argentina, devido à crise econômica naquele país.
Pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostrou que o excesso de estoques foi reduzido em agosto, mas que os índices de expectativa de demanda, de quantidade exportada e de investimentos permanecem em queda.
Para o consolidado no ano, os economistas das instituições financeiras projetam uma queda de 0,54% na produção industrial, segundo pesquisa Focus do Banco Central. Para o resultado do PIB de 2019 do Brasil, a previsão atual do mercado é de uma alta de 0,87%.