Morreu
Nicolai estava se recuperando de um acidente vascular-cerebral (AVC) que tinha sofrido há cerca de cinco meses. Nos últimos dias, no entanto, apresentou complicações pulmonares. Ele morava no Lago Norte. O enterro foi na quinta (12).
Ao G1, a filha dele, a empresária Michelle Nicolai, definiu o pai como “cativante”. “Ele é o melhor pai do mundo. As pessoas não tiveram a oportunidade de ver tudo o que a gente viu.”
“Meu pai lutou muito, não só pelos inventos dele, mas também pelo país. O sonho dele era construir uma faculdade de tecnologia, onde as pessoas que têm essa veia criativa poderiam colocar isso para fora.”
“Muitas vezes teve oportunidade de sair do país, mas ele dizia que queria lutar pelo Brasil, de trazer as invenções e os benefícios para o Brasil. Ele dizia que o brasileiro é muito criativo. O que chamam de ‘jeitinho brasileiro’ ele chama de dom que Deus deu: a criatividade”, continuou Michelle.
Segundo ela, viver com o pai era estar cercada sempre de novos apetrechos no dia a dia. “Ele tinha várias outras invenções. Quando você passa o cartão e alerta o celular, aquilo é invenção dele. O telefone fixo no celular também é invenção dele.
Ela contou ainda que o pai era muito apegado à religião, inclusive alegando que diversas ideias vinham de visitas de Deus em sonhos. “Às vezes eu o via sentado no sofá, perguntava o que estava fazendo e ele dizia que Deus estava contando mais um segredo”, lembra.
Genro de Nicolai, o empresário Paulo Lins diz que ele era à frente do tempo. “É alguém com pensamento de fato no futuro, com objetivo de trazer o futuro para o presente. Era um desbravador de fronteiras. Se pedir, ele ia apresentar ideia para tudo que o mundo precisa hoje.”
Bina
Mesmo sendo inventor de uma ferramenta usada por milhões de aparelhos todos os dias, Nicolai não chegou a aproveitar dos frutos da engenhoca. O ex-jogador de futebol transformado em técnico em comunicações travava uma batalha judicial pelo reconhecimento dos direitos de uso do Bina havia mais de 15 anos.
Em 1997, Nicolai recebeu do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) a patente do Bina, após cinco anos de espera. Este instrumento não impede a utilização de uma ideia, mas prevê em troca o pagamento dos direitos.
Documento em mãos, pediu às empresas telefônicas o pagamento dos direitos. “Uma das empresas me disse: ‘Vá à justiça, talvez seus bisnetos recebam algo’. Então decidi defender os direitos de meus bisnetos”, afirmou em entrevista à época.
Se recebesse o que pede, Nicolai seria milionário. A família diz que também o Brasil se beneficiaria com o reconhecimento, uma vez que haveria perspectiva de arrecadar mais impostos.
Para Michelle Nicolai, o Bina era assunto quase todos os dias em casa. “Ele dizia que se uma porta fechava, ele já ia procurava outra. É claro que aquilo doía, mas ele nunca se sentiu injustiçado. As pessoas não têm noção do tanto que a gente é feliz e tem uma família unida.”
G1