Se tem uma situação em que a conhecida expressão “para inglês ver” se encaixa bem é quando se fala em promessas de melhorias no Anel Rodoviário de Belo Horizonte. Ela foi usada pelos motoristas entrevistados pela reportagem nesta sexta-feira (13) quando questionados sobre a nova tentativa de “salvar a rodovia” ou as pessoas que precisam trafegar por ela. Agora, o que está em análise são a implantação de uma faixa exclusiva para veículos pesados à direita e a redução da velocidade máxima nessa pista de 60 km/h para 40 km/h. As medidas seriam implantadas no trecho mais perigoso da via, uma descida de cerca de 10 km no bairro Betânia, na região Oeste, ainda administrada pela concessionária Via 040.
A proposta foi feita pela Comissão Especial de Estudos do Anel, formada em abril deste ano na Câmara Municipal de Belo Horizonte. Os vereadores apresentaram as sugestões de mudanças na rodovia à Via 040 e receberam a promessa de uma resposta sobre a avaliação técnica para a adoção das medidas em dois ou três meses. “A concessionária fez contato e se interessou. Todo motorista de veículo de grande porte vai andar na faixa exclusiva, em fila indiana”, disse o vereador Wesley Moreira (PHS), conhecido como Wesley da Autoescola, que é o presidente da comissão.
Não
O Código Brasileiro de Trânsito, no entanto, já proibe que os caminhões trafeguem na faixa da esquerda, o que torna a faixa exclusiva à direita redundante, mas o vereador argumenta que a medida sugerida, com a indicação no asfalto, reforçaria essa regra. “A faixa é usada como meio de retenção de velocidade, a sinalização horizontal tem uma eficiência maior”, disse, acrescentando que “reduzindo a velocidade, caso aconteça uma perda de freio, o impacto do acidente será menor”.
Quem transita no Anel Rodoviário diariamente, como o motorista profissional Fabiano Rosa, 38, não acreditou muito na proposta: “É coisa pra inglês ver, eu passo quatro vezes por dia, já vi caminhão na minha frente perdendo o freio tombando perto do Buritis”, contou e sugeriu: “tinha que tirar esses caminhões de lá e arrumar outra passagem para eles”.
FRASES
“O problema no Anel Rodoviário não vai ser resolvido, precisa de algo maior. Há um afunilamento de pistas. Tinha que proibir a travessia de caminhão no horário de pico.”
Juliano Vaz, 42, motorista carreteiro
“A ideia dos vereadores é válida, mas hoje o pessoal (caminhoneiro) está muito despreparado. Para resolver temos que ter curso, um incentivo.”
André de Brito, 44, motorista carreteiro
“Isso é tudo conversa fiada. Eu passo há mais de dez anos no Anel Rodoviário, e é sempre a mesma história, mas não consigo imaginar que vou ver qualquer melhoria.”
Adão Alexandre, 32, mecânico
Plano é levar medidas a toda a via
Enquanto a reportagem era produzida, na tarde desta sexta-feira (13), um caminhão pequeno bateu na traseira de uma caminhonete, deixando duas pessoas levemente feridas e dando um nó no trânsito, na altura do bairro Dom Bosco, na região Noroeste da capital. Quando colidiu, o veículo de carga estava na faixa do meio. O acidente não aconteceu no trecho mais crítico da via, mas a ideia dos vereadores é estender as medidas, aos poucos, aos 26 km do Anel.
A Via 040 informou que participou de audiência pública na Câmara em agosto e está analisando a viabilidade técnica das sugestões. “A Via 040 está aberta ao diálogo no sentido buscar soluções, em conjunto com outros órgãos, para os desafios históricos de segurança do Anel”, diz a nota.
Enquanto os vereadores discutem as medidas, a concessionária já anunciou a intenção de devolver a rodovia ao governo federal e a prefeitura da capital já manifestou a intenção de municipalizar a via.
Recorrente. A reportagem solicitou à Polícia Militar Rodoviária (PMRv) e à comissão de Estudos do Anel da Câmara, dados sobre multas a caminhões que trafegam na esquerda no Anel, mas não obteve resposta nesta sexta-feira (13).
Mais promessa. A comissão da Câmara também solicitou orçamento a uma empresa paulista que implantou rampas de escape em rodovias para caminhões conseguirem sair do tráfego. A promessa é enviar à Via 040 para instalar em Belo Horizonte. (as informações são do Jornal O TEMPO)