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O que era para ser um pronunciamento se transformou em entrevista de 15 minutos. Adilson Batista estava disposto a falar em seu retorno ao Cruzeiro. E só não alongou muito porque tinha que correr para o campo e dar o primeiro treino visando ao jogo contra o Vasco, às 20h de segunda-feira (02/12), em São Januário, pela 36ª rodada do Campeonato Brasileiro. Uma das respostas que mais chamaram a atenção na coletiva foi sobre não ter medo de tirar ‘medalhões’ da equipe. O técnico não citou nomes, porém os atletas que mais têm sido cobrados pelos torcedores em função do momento técnico são o lateral-esquerdo Egídio, os meias Robinho e Thiago Neves, e o atacante Fred.
Como prova de que tomará decisões drásticas se achar necessário, Adilson relembrou quando sacou o goleiro Danrlei, ídolo do Grêmio, em 2003, e o lateral-esquerdo Roberto Carlos, em sua passagem pelo Corinthians, em 2010. “Se puxar um historicozinho meu, eu tirei o Danrlei, ídolo do Grêmio, em 2003. Tirei. Eu substituí o Roberto Carlos dez vezes no Corinthians. Então, você já conhece a minha linha. Não é nome. Tem que jogar bola. Comigo tem que jogar bola. Já está dado o recado, não está?!”, disse o comandante, de volta ao clube celeste depois de nove anos.
No entanto, tudo será feito com calma. Adilson garante que trabalhará 24 horas por dia em prol do Cruzeiro para conhecer o elenco a fio e não tomará como base apenas a atuação na derrota dessa quinta-feira para o CSA, por 1 a 0, no Mineirão, determinante para a saída de Abel Braga do clube. Restam três rodadas no Campeonato Brasileiro, e o time não depende apenas de si para escapar do rebaixamento. A briga é contra o Ceará, 16º colocado, com 37 pontos. A Raposa terá de somar dois pontos a mais que a equipe alvinegra.
“Eu não posso julgar pelo jogo de ontem. O Thiago fez, errou, era o batedor, como outros erraram. Não posso ser radical. A gente tem que ter alguns cuidados quando chegamos a um clube. Eles fizeram grandes jogos aqui. Vamos resgatar como jogaram, como foram as escalações. Não foge muito. Claro que pode mudar uma coisinha ou outra, mas não dá para ser radical e perder a essência. Acho que o jogo de ontem tem que ser esquecido. É página virada, é um novo treinador, um novo processo, uma nova cobrança. Precisamos reverter, é com a gente. E eu quero dar a minha contribuição”.
Com relação a pratas-da-casa, alguns se firmaram na equipe, entre eles o zagueiro Cacá e o volante Éderson, ambos de 20 anos. Outros ainda aguardam oportunidades, casos do meia Maurício e o atacante Vinícius Popó, de 18. Adilson ressaltou que o aproveitamento dependerá do momento, sem nenhum tipo de loucura.
“A gente tem que ser inteligente e ter discernimento. Não é só lançar. O menino precisa ser preparado e colocado no momento certo. Vou dar um exemplo: o Fábio Júnior foi vendido porque tinha o Muller ao lado. O Evanílson foi vendido porque tinha o Valdo ao lado. A gente tem que ser inteligente para lançar atleta jovem. No momento certo, oportuno e que tenha qualidade. Se tem potencial, você consegue encaixar, como tem alguns lá dentro. A gente já viu. Não terei medo de lançar, mas não podemos dar a responsabilidade somente a eles. Não é com loucura que vamos sair dessa situação, e sim com organização, disciplina, conversa, treinamento, atitude. É isso que penso”.
Demitido do Ceará após a derrota para o Flamengo por 4 a 1, quarta-feira, no Maracanã, Adilson contou os bastidores do contato feito pela diretoria do Cruzeiro e comparou a situação de momento ao convite do Grêmio, que brigou até o fim contra o rebaixamento no Brasileiro e terminou em 20º lugar entre 24 clubes, com 50 pontos (Fortaleza, 49, e Bahia, 46, caíram para a Série B).
“É um prazer voltar a essa instituição tão querida e amada, pela qual sinto orgulho, carinho e tenho história de suor como atleta e também como treinador – eu transpiro muito. Sei do grau de dificuldade que é o desafio. Me fez lembrar muito quando o seu (Antônio Carlos) Verardi, então diretor do Grêmio, me ligou em uma situação difícil em 2003. Prontamente atendi aquele pedido. Cheguei a Porto Alegre também não sabendo o que ia receber. O mesmo ocorreu na noite passada, estava vendo o jogo, depois fui descansar, eu durmo mais cedo. A Márcia que viu o telefone tocar. Fiz questão de ligar para o Abel, ele falou que estava saindo. Pedi uma hora ao Zezé justamente para fazer isso. Falei: ‘pode marcar minha passagem’. O mesmo que fiz com o Grêmio. Há clubes que você tem que atender, como é o Cruzeiro. Sinto-me mais preparado que nove anos atrás, mais calmo, mais tranquilo, com trabalho melhor de campo, com conceitos melhores. E vim para um clube em que vejo qualidade. Esse grupo foi bicampeão recente da Copa do Brasil. Ninguém esquece de jogar bola. Confiança sempre passei, autoestima, dar tranquilidade e trabalhar. Trabalhar com intensidade, com objetivo, discernimento e responsabilidade. É o que temos de ter”.