G1 Minas
A nove dias de a tragédia da Vale em Brumadinho completar um ano, a Polícia Federal disse, em entrevista coletiva realizada nesta quinta-feira (16/01), que ainda resta comprovar o que teria causado a liquefação da barragem B1. O rompimento da estrutura causou a morte de 259 pessoas. Onze seguem desaparecidas. Ainda não há previsão para conclusão do inquérito. Segundo a PF, os laudos periciais que estão sendo realizados em parceria com universidades europeias devem ser entregues em junho.
Em setembro do ano passado, a Polícia Federal já havia concluído um outro inquérito, indiciando 13 funcionários da Vale e da Tüv Süd, além das duas empresas, por falsidade ideológica e uso de documentos falsos por atestar a segurança da barragem B1. Até esta quarta, eles não tinham sido denunciados pelo Ministério Público.
Em nota, a Vale informou que tem apresentado, desde o momento do rompimento da barragem, todos os documentos e informações solicitados pelas autoridades competentes e, como maior interessada na apuração dos fatos, continuará contribuindo com as investigações (leia a nota completa no final desta reportagem).
Segundo o delegado, esta foi a primeira barragem inativa a se romper em todo o mundo. A B1 estava sem atividades desde 2016.
Ainda de acordo com Pessoa, este segundo inquérito começou efetivamente no mês de dezembro, após a conclusão do anterior. A finalidade da investigação é apontar os crimes ambientais e se houve homicídio doloso ou culposo.
Até agora, neste segundo inquérito, foram ouvidas mais de 80 pessoas, realizadas mais de 50 diligências policiais e determinada a realização de 40 perícias, as mais importantes de engenharia e ambiental.
Para finalizar esta investigação, segundo o delegado, é necessária a conclusão de todos os laudos, o que deve ocorrer em junho. Pela complexidade do trabalho de perícia, a Polícia Federal fez parceria com Universidade de Barcelona, na Espanha, e Universidade de Porto, em Portugal. Os documentos têm sido analisados em conjunto e entregues gradualmente.
O delegado descartou que as explosões feitas no dia 25 de janeiro, num raio de 150 km, foram responsáveis pela liquefação que provocou o rompimento da barragem. “Mas pode ser que os sismos ocorridos ao longo de 2018, que foram mais de 150 neste mesmo raio, podem ter provocado a desestabilização da barragem”, falou.
Investigados
O delegado não deu detalhes de quem são os investigados, mas não descartou a investigação do ex-presidente da Vale, Fábio Schvartsman, de quem recolheu notebooks, computadores, celulares, bem como arquivos da esposa do executivo.
“Há possibilidade de responsabilização de qualquer executivo da Vale, inclusive do ex-presidente da mineradora”, disse o delegado Luiz Augusto Pessoa.
Ele reforçou que pretende ouvir um dos indiciados no primeiro inquérito, que é da Tuv Sud e vive na Alemanha. A Polícia Federal ainda estuda como vai ouvir o acusado, que informou que não virá ao Brasil para prestar depoimento.
Números dos inquéritos
O primeiro inquérito que foi o 62/2019 foi concluído com 27 volumes, mais de 6.500 folhas e 16 apensos, que acrescentariam mais páginas a este volume. Já a investigação atual tem sete volumes e mais de mil folhas. Foram analisados mais de 80 milhões de arquivos dos investigados.
Leia a nota da Vale na íntegra:
“Em dezembro de 2019, a Vale divulgou publicamente o relatório final do Painel de Especialistas, com as suas conclusões a respeito das causas técnicas do rompimento da barragem B1, da mina do Córrego do Feijão, em Brumadinho, em 25 de janeiro de 2019. Constituído em 8 de fevereiro, duas semanas após o rompimento, o Painel de quatro especialistas foi presidido pelo Dr. Peter K. Robertson, referência mundial em estudos de liquefação, trabalhou durante cerca de 10 meses na apuração, de acordo com as suas experiências e opiniões profissionais, das causas técnicas do ocorrido. O rompimento, de acordo com a investigação, ocorreu de forma abrupta e sem sinais prévios aparentes, que pudessem ser detectados pelos instrumentos de monitoramento geotécnico usualmente empregados pela indústria da Mineração mundial.
A Vale sempre esteve comprometida com a segurança das pessoas e de suas estruturas, e vem continuamente aprimorando seus processos de gestão preventiva de riscos. A empresa tem apresentado, desde o momento do rompimento da barragem, todos os documentos e informações solicitados pelas autoridades competentes e, como maior interessada na apuração dos fatos, continuará contribuindo com as investigações.”