A Vale (VALE3) produziu 301,97 milhões de toneladas de minério de ferro em 2019, uma queda de 21,5% ante 2018 em meio a paradas de produção devido ao rompimento de barragem em Brumadinho (MG), informou nesta terça-feira a companhia.
O volume indica que a mineradora perdeu, pelo menos temporariamente, o posto de maior produtora global de minério de ferro para a anglo-australiana Rio Tinto, enquanto a brasileira se recupera da tragédia que matou 259 pessoas, deixando outras 11 ainda desaparecidas.
Devido ao rompimento da barragem no início de 2019, a Vale foi levada a interromper diversas atividades em Minas Gerais, em meio a uma revisão dos padrões de segurança operacional.
Antes do desastre, a empresa planejava atingir produção de 400 milhões de toneladas no ano passado, patamar que agora poderá ser atingido apenas a partir de 2022, segundo informações publicadas anteriormente pela companhia.
Ainda em função do desastre, a Vale informou que seu resultado do quarto trimestre de 2019 trará ajustes que elevarão em 671 milhões de dólares as atuais provisões para descaracterização de barragens.
Em 2019, as operações da empresa também sofreram impactos de uma sazonalidade climática mais forte do que o normal no primeiro semestre, destacou a Vale.
Os efeitos das paradas, entretanto, foram parcialmente compensados pelo aumento da produção na mina S11D –maior empreendimento de sua história–, redução de estoques em 14 milhões de toneladas e retomada gradual de operações em algumas minas.
Dessa forma, as vendas de minério de ferro em 2019 foram de 269,3 milhões de toneladas, queda de 12,8% na comparação anual. As vendas de pelotas atingiram 43,199 milhões de toneladas, queda de 23,7% ante 2018.
Somadas, as vendas de minério de ferro e pelotas atingiram cerca de 312,5 milhões de toneladas em 2019, contra projeção de 307 milhões a 312 milhões de toneladas revisada pela companhia em novembro.
No quarto trimestre, a mineradora brasileira produziu 78,344 milhões de toneladas de minério de ferro, recuo de 22,4% ante o mesmo período de 2018. Já as vendas da commodity somaram 77,9 milhões de toneladas no último trimestre do ano passado, queda de apenas 3,2% na comparação anual.
A produção de minério de ferro da Rio Tinto no quarto trimestre somou 83,6 milhões de toneladas, o que resultou em uma extração anual de 326,7 milhões de toneladas, patamar próximo dos embarques registrados pela anglo-australiana.
Fatores positivos
Em relatório a clientes, analistas do Credit Suisse ressaltaram que as vendas superaram o previsto e pontuaram fatores positivos para a companhia.
“Os fortes números de vendas da Vale para minério de ferro no quarto trimestre foram o principal destaque positivo em nossa visão, juntamente com o fato de que o guidance… para 2020 foi mantido inalterado”, afirmaram os analistas do banco.
A corretora Clarksons Platou disse em relatório a clientes que permanece com classificação de compra para a Vale, por acreditar que a companhia deixou para trás grande parte da incerteza após o rompimento da barragem no ano passado.
“Continuamos encorajados pelo crescente perfil de produção da Vale e pelo foco contínuo no valor sobre o volume”, disse o analista global de mineração Scott Schier, da Clarlsons, em relatório.
O BTG Pactual ressaltou em relatório acreditar que a administração da Vale “mostrou uma grande resposta à tragédia e tem trabalhado duro para garantir a estabilidade e a reparação operacional”.
As ações da Vale fecharam em alta de 3,7%.
Previsões com o Coronavírus
Apesar dos impactos combinados na produção, a previsão para a produção de finos de minério de ferro da Vale em 2020 permanece no intervalo entre 340 milhões e 355 milhões de toneladas, frisou a mineradora.
O S11D, segundo o relatório, deverá contribuir com o volume total de 90 milhões de toneladas de minério de ferro de alta qualidade e baixo custo em 2020. Em 2019, a importante mina produziu 73,37 milhões de toneladas, avanço de 26,4% em relação ao ano anterior.
As estimativas, pontuou a Vale, não consideram efeitos da epidemia de coronavírus na China, que segundo a mineradora parecem até o momento passíveis de serem acomodados “apenas por meio de alterações de preço”.
A Vale acrescentou ainda que está em conversas com autoridades para retomar a capacidade produtiva de 40 milhões de toneladas por ano com as operações de Timbopeba, Fábrica e Complexo Vargem Grande, que passam por revisões de segurança.
“A Vale reforça sua estratégia de margem sobre volume, priorizando produtos blendados em seu portfólio. Portanto, os estoques serão restabelecidos em 2020 para garantir o fornecimento adequado, o que pode implicar vendas menores em comparação aos volumes de produção”, disse a empresa.
Após as fortes chuvas verificadas em Minas Gerais em janeiro e fevereiro, a Vale informou no relatório que registrou interrupções temporárias de produção e transporte nos Sistemas Sul e Sudeste, com perda de produção de aproximadamente 1 milhão de toneladas.