A Polícia Civil de Minas iniciou na tarde desta quinta-feira (27) os testes de perícia nos tanques da fábrica da cervejaria Backer, no bairro Olhos D’Água, região Oeste de Belo Horizonte. A análise, que ocorreria às 9h, aconteceu somente após às 15h, por divergências entre os investigadores e a empresa quanto ao método a ser utilizado.
Os testes envolvem um processo que mede o que os peritos chamam de estanqueidade. O tanque número 10, único que teve a contaminação confirmada, será esvaziado e, depois, os peritos verificam se ele está vazando, num processo que dura dois dias.
Segundo o delegado Flávio Grossi, da 4ª Delegacia de Polícia Civil do Barreiro, à frente do caso, a Backer discordou da forma como a perícia seria feita, porque outros tanques, que não tiveram a contaminação comprovada, poderiam ser contaminados. Contudo, a companhia está cooperando com as investigações.
“Foi uma resistência inicial quanto à metodologia, que eles entenderam ter uma maior possibilidade de contaminação em outros tanques. Mas, ao longo do dia isso foi resolvido e, como sempre, a empresa resolveu por bem cooperar”, afirmou.
A Backer diz que a inspeção não pode ser realizada porque o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) não disponibilizou ainda os laudos do agente químico que causou a contaminação nas cervejas. Por isso, a companhia estava resiliente em manter as provas (produtos do tanque) preservados.
“Faz-se importante a preservação das provas até a conclusão da análise. Além disso, a ausência do laudo também impede que a destinação do resíduo seja feita dentro dos padrões exigidos pela empresa responsável”, disse a Backer, em nota.
Três peritos da Polícia Civil, técnicos do Mapa e representantes da Backer acompanham o procedimento. Um especialista da empresa Serra Inox, fabricante dos tanques, também está no local, para orientar os peritos quanto à metodologia e ajudar a encontrar possíveis vazamentos.
Os peritos da Polícia Civil dividem o processo em duas etapas iniciais, que depois podem passar a uma terceira. O tanque 10 será esvaziado e o material levado para um outro tanque, para ser mantido guardado. Enquanto isso, no tanque 10, será feito uma simulação da fabricação da cerveja com o tanque vazio, para que sinais de um possível vazamento sejam encontrados.
“Nós já começamos a iniciar a primeira etapa dessa perícia, que é a limpeza. Amanhã (sexta-feira, 28) iniciaremos a segunda etapa, que é a verificação de algum vazamento, e, posteriormente, se necessário, uma terceira etapa que é o quantitativo desse vazamento”, explicou o delegado.
Esta terceira etapa dura 15 dias. Uma espécie de “teste baliza” será feito num outro tanque, para comparações.
Dois meses de investigações
As investigações sobre as intoxicações já duram 54 dias e a Polícia Civil já prorrogou o inquérito, que segundo Grossi não tem data para ser finalizado, devido a complexidade dos trabalhos. Mais de 60 pessoas já foram ouvidas e os laudos nas amostras de cervejas e pacientes internados estão em finalização, informou a polícia.
Até esta quinta-feira, a Secretaria Estadual de Saúde (SES) foi notificada de 31 casos suspeitos de intoxicação com cervejas – 26 homens e cinco mulheres. Quatro tiveram o dietilenoglicol detectado no sangue. Uma morte pela substância foi confirmada e cinco estão sendo apuradas.
No último dia 20, o Mapa informou que 12 rótulos e 53 lotes de bebidas da cervejaria foram contaminados. A Polícia Civil, em paralelo, estendeu as investigações de possíveis intoxicações a pessoas que possam ter tomado produtos da Backer desde 2018.
Na semana passada, a 23ª Vara Cível de Belo Horizonte determinou que a empresa pague todos os tratamentos médicos das vítimas que foram intoxicadas. Além da alimentação, transporte e estadia de hospitais, a companhia terá que custear as despesas psicológicas de atingidos e familiares das vítimas.
A decisão também estendeu o bloqueio de verbas para uma outra empresa ligada à Backer, a Empreendimentos Khalil. No início do mês, o Tribunal de Justiça já havia ordenado que R$ 100 milhões da cervejaria fossem bloqueados.
Conforme os advogados de 13 possíveis intoxicados, dois sócios da Backer, que tinham participação na Empreendimentos Khalil, deixaram a sociedade da empresa no último dia 10. Apesar da semelhança de nome, a Khalil não tem relação com o prefeito da capital mineira.
A Justiça reconheceu que dinheiro, veículos e imóveis da Khalil devem ser bloqueados para garantir as verbas necessárias para custeio dos danos.
Em nota, a Backer reafirmou estar interessada em “elucidar os fatos o mais breve possível” e disse estar disponível para colaborar com as autoridades.