Apóstola dos apóstolos era como são Tomás de Aquino chamava Maria Madalena, testemunha ocular da ressurreição de Jesus e sua confidente e companheira. Somente em 2016 o papa Francisco a reconheceu como evangelista, e a ela é dedicado o dia 22 de julho.
Foi preciso uma descoberta arqueológica para inquietar os produtores Iain Canning e Emile Sherman, que já contemplavam a ideia de abordar a história de Jesus sob outra perspectiva. “Fragmentos de pergaminhos no Egito e na Grécia, que eram, supostamente, o evangelho de Maria Madalena, despertaram em nós a ideia de contar a trajetória de uma mulher dentro das histórias bíblicas”, disse Canning.
O diretor Garth Davis não queria fazer de “Maria Madalena” um filme religioso, mas espiritual. É o que revela Philippa Goslett, que trabalhou no script: “Contamos a história fora de ordem e com o tempo compactado, e demos uma motivação para Judas que é muito diferente da narrativa tradicional, mas a parte mais controversa é que contamos a história sob o ponto de vista feminino.”
Philippa quis corrigir uma injustiça secular. “Achei uma farsa o que aconteceu com Maria Madalena e sua identidade ao longo dos séculos. Essa foi uma oportunidade de dar voz a alguém que foi calada por muito tempo. Era realmente excitante a ideia de ver a história de Jesus sob o ponto de vista feminino, a mudança que isso traria e como os momentos-chave dessa trajetória se apresentariam de várias maneiras”, comenta.
Sua pesquisa a conduziu a uma exploração bíblica surpreendente. “Tivemos inúmeras conversas com rabinos, padres, historiadores judeus, estudiosos da Bíblia e arqueólogos, e todos discordavam uns dos outros. Cada um tinha uma visão distinta do movimento de Jesus e do que ele significou. Mas o mais fascinante foi que todos eles, sem exceção, concordaram que Maria Madalena deveria ser considerada uma discípula e uma apóstola”, comenta Philippa.
O diretor Garth Davis não precisou procurar por sua Maria Madalena. “Tinha acabado de trabalhar com Rooney Mara em “Lion: Uma Jornada Para Casa”, e a considerava uma atriz notável. Quando esse projeto apareceu, eu e todos os envolvidos pensamos nela porque ela possui algo que é de outro mundo. É conectada a algo muito especial, e acho que Maria Madalena era assim. Ela não foi alguém que estava aprendendo quem era, ela já tinha a luz dentro dela, já tinha uma conexão com Deus, mas ainda não sabia como expressá-la. A Rooney sempre se sente conectada com algo que não está presente, mas também é muito forte e se importa com a humanidade. Imaginei que ela iria se entender bem com muitos dos temas do filme”, revela.
Mas o que motivou Garth a assumir a direção e foi uma de suas maiores fontes de inspiração foi Malala Yousafzai. “Havia algo na história dela que, para mim, reflete a história de Maria Madalena. O fato de que ela levou um tiro no rosto do Talibã porque queria ir para a escola e depois ganhou o Prêmio Nobel da Paz, fez seu discurso e perdoou o Talibã por seus atos. Esse ato de perdão, esse ato de amor foi algo fundamental para o filme. Quando li o script, eu realmente pensei em como ela me emocionou e como a história de Maria Madalena está nela. Eu me conecto com essa espiritualidade e esse amor. Também gostei muito de como o script era muito humano e relevante”, diz.
O diretor acredita que cristãos e não cristãos vão gostar dessa mensagem. “Para uma plateia não cristã, e nisso se incluem muitas outras religiões, espero que os temas do filme – família, perseverar mesmo diante da tragédia, a dinâmica social de grupos e como nós vivemos hoje em dia – sejam compreendidos. Para nós, seria um fracasso se fizéssemos um filme que fosse interessante somente para os cristãos. Queremos levar essa incrível história para todo mundo”, finaliza Garth.
Exorcismo
Segundo os atores, quando eles começaram a entrar na água, o vento parou completamente. E, então, começou a trovejar em volta deles. Todo mundo ficou muito apavorado, eles disseram.
Película resgata o valor do feminino na época cristã
A protagonista Rooney Mara avalia que o filme abriu seus olhos para uma forma diferente de interpretar uma crença que fez parte de sua infância. “Frequentei uma escola católica, então tinha muitas ideias preconcebidas de história e religião. Na primeira vez em que li o script, minha postura foi muito cínica. Depois falei com o Garth e entendi que tipo de filme ele estava fazendo. Ele me fez ver a história de um jeito diferente, então, na minha segunda leitura, vi muitas oportunidades e muita beleza. Decidi que era uma excelente oportunidade de contar uma versão inédita daquela história”, comenta.
Para ela, a maioria dos outros filmes sobre Jesus são só sobre ele. “Dessa vez, o filme é sobre Maria Madalena. Ainda vemos todas as coisas que estamos acostumados a ver em filmes bíblicos, mas vemos pelos olhos dela e de um modo muito diferente. Maria Madalena é conhecida em geral como uma prostituta, e isso não é verdade. O filme mostra de onde ela vem e quem ela é de verdade”, observa a atriz.
Rooney Mara revela que, para o diretor Garty Davis, o mais importante era o aspecto feminista, contar a história daquela mulher. “Maria Madalena foi testemunha de Cristo, estava lá quando ele morreu e estava presente na ressurreição. Ela foi uma parte intrínseca da história, mas foi relegada ao papel de prostituta enquanto Pedro, que negou Jesus três vezes e distorceu sua mensagem, foi canonizado e tem igrejas no mundo todo. Ela é uma prostituta, e ele é um santo. É simplesmente incrível”, ela diz.
O produtor Emile Sherman acrescenta: “Madalena foi marginalizada durante séculos. Ela reconhece que o reino ou qualquer que seja a utopia por que lutamos precisa começar dentro de nós mesmos. Sua mensagem é tão revolucionária hoje quanto sempre foi, e queremos que ela tenha um forte impacto”.
Diretor quis um Cristo energético
Joaquin Phoenix encara o enorme desafio de interpretar Jesus. Garth Davis diz: “Eu queria muito dar um toque de realidade ao papel de Jesus e apresentá-lo como uma pessoa energética. Pensei muitas vezes no Joaquin porque ele tem uma sensibilidade incrível e também é muito espiritual e gentil. Não pensei em mais ninguém. Sem ele, não sei como teríamos feito o filme”.
A produtora Liz Watts concorda: “O Joaquin é um dos atores mais valentes que existem, por isso ele é perfeito para o personagem. Ele dá um toque humanista ao papel. Conversamos muito sobre termos um ator que pudesse interpretar uma figura religiosa com muita profundidade e emoção humana. E o Joaquin tem isso de sobra.”